Campo Pequeno repleto comemora centenário do nascimento de Álvaro Cunhal

Um «obrigado» que é um compromisso

O co­mício co­me­mo­ra­tivo do cen­te­nário do nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal, que no do­mingo tingiu de ver­melho o Campo Pe­queno, foi uma inequí­voca ma­ni­fes­tação de re­co­nhe­ci­mento por uma vida de sin­gular mi­li­tância re­vo­lu­ci­o­nária e uma obra no­tável, com con­sequência di­recta no der­ru­ba­mento da di­ta­dura fas­cista e no curso da Re­vo­lução de Abril, que apontou o País ao so­ci­a­lismo. Mas foi, so­bre­tudo, uma con­fir­mação par­ti­cu­lar­mente in­ci­siva de que a luta a que Álvaro Cu­nhal de­dicou toda a sua vida con­tinua. E será vi­to­riosa.

 

O co­mício de do­mingo entra di­rec­ta­mente na his­tória do PCP

 

Há mo­mentos que di­fi­cil­mente se es­quecem. O co­mício do pas­sado do­mingo foi se­gu­ra­mente – para os mi­lhares de pes­soas que ti­veram a opor­tu­ni­dade (e pri­vi­légio) de nele par­ti­cipar – um desses mo­mentos únicos.

O re­cinto re­pleto; ban­deiras ver­me­lhas agi­tando-se; Luísa Basto a cantar o «Avante, Ca­ma­rada!» ao vivo e a ca­pella (ao mesmo tempo que mi­lhares de pes­soas se reu­niam num gi­gan­tesco abraço co­lec­tivo); a emo­ci­o­nante ex­pressão de in­ter­na­ci­o­na­lismo que foi a sau­dação geral às de­le­ga­ções de de­zenas de par­tidos co­mu­nistas e ope­rá­rios aí pre­sentes; ima­gens, exi­bidas em vá­rios ecrãs, de ex­certos de dis­cursos do pró­prio Álvaro Cu­nhal, de viva voz; in­ter­mi­nável as­so­bi­a­dela a Ca­vaco Silva, quando men­ci­o­nado no dis­curso do Se­cre­tário-geral do PCP; bri­lhante ac­tu­ação da Bri­gada Vítor Jara, a que se juntou o Sa­muel; par­ti­ci­pação de vá­rias ge­ra­ções, com par­ti­cular des­taque para a ju­ven­tude; quatro des­files de rua; a afir­mação, con­victa e de­ter­mi­nada, de que «a luta con­tinua!» – foram al­guns dos in­gre­di­entes que fi­zeram do co­mício de do­mingo uma ini­ci­a­tiva mar­cante e ines­que­cível, que en­trou di­rec­ta­mente para a ga­leria das re­a­li­za­ções his­tó­ricas do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês.

Pas­sado, pre­sente, fu­turo

Tendo tido como mote a co­me­mo­ração do cen­te­nário do nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal, no co­mício falou-se de His­tória (da­quela com agá maiús­culo) e do lugar des­ta­cado que nela ocupa o ho­me­na­geado. Nas in­ter­ven­ções pro­fe­ridas – do Se­cre­tário-geral do PCP, Je­ró­nimo de Sousa, e da di­ri­gente da JCP, Cris­tina Car­doso (que a se­guir trans­cre­vemos na ín­tegra), como também nas breves pa­la­vras ini­ciais de Luísa Araújo, do Se­cre­ta­riado, que di­rigiu a ini­ci­a­tiva – re­cordou-se Álvaro Cu­nhal na re­sis­tência e na re­vo­lução, nas pri­sões e nas fugas; va­lo­rizou-se a sua co­ragem po­lí­tica, moral e fí­sica pa­tentes ao longo de toda uma vida; evocou-se a sua de­ter­mi­nação e per­se­ve­rança de­mons­tradas em mo­mentos par­ti­cu­lares, tanto de avanço como de recuo da re­vo­lução; re­alçou-se o papel do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês (com a sua na­tu­reza, iden­ti­dade e pro­jecto, a cuja de­fi­nição Álvaro Cu­nhal fica in­de­le­vel­mente as­so­ciado) no der­rube do fas­cismo e no de­sen­vol­vi­mento do pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário.

Mas no co­mício – como, aliás, nas pró­prias co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário – olhou-se so­bre­tudo para o fu­turo, para o le­gado de Álvaro Cu­nhal e como ele cons­titui um es­tí­mulo à luta que os co­mu­nistas hoje travam, lado a lado com os tra­ba­lha­dores e o povo, pela causa a que de­dicou toda a sua vida. Não é por isso de es­tra­nhar que se tenha fa­lado tanto – nas in­ter­ven­ções como nas pa­la­vras de ordem dos des­files – da luta contra o pacto de agressão das troikas na­ci­onal e es­tran­geira, da ne­ces­si­dade de der­rubar o Go­verno PSD/​CDS e o seu Or­ça­mento do Es­tado e de cons­truir uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, da ur­gência de fazer o País re­tomar os va­lores de Abril, de pros­se­guir o com­bate pela De­mo­cracia Avan­çada e o So­ci­a­lismo.

O maior dos le­gados

Se, como dizia Lé­nine, a re­vo­lução se faz com or­ga­ni­zação e co­ra­ções ar­dentes, houve de tudo isso no co­mício de do­mingo. Para lá das pa­la­vras – dessas da­remos conta nas pá­ginas se­guintes –, a co­me­mo­ração do Campo Pe­queno foi um mo­mento ímpar de par­tilha de con­vic­ções, ideais e so­nhos, da­queles que se fundam nas as­pi­ra­ções con­cretas do povo, que dele re­cebem ener­gias e en­si­na­mentos, ma­te­ri­a­li­zando-se numa ab­ne­gada e quo­ti­diana acção re­vo­lu­ci­o­nária. Foi, também, oca­sião para re­tem­perar forças para a dura luta que aí vem, na qual os mi­lhares de pes­soas (co­mu­nistas e não só) que ali es­ti­veram as­sumem um lugar des­ta­cado, senão mesmo im­pres­cin­dível.

Dos imensos le­gados que Álvaro Cu­nhal deixa às ac­tuais e fu­turas ge­ra­ções de co­mu­nistas, à classe ope­rária e aos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses e ao pró­prio mo­vi­mento co­mu­nista in­ter­na­ci­onal, esta forma de viver e con­ceber a luta re­vo­lu­ci­o­nária e o Par­tido é, se­gu­ra­mente, um dos mais va­li­osos.

 



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