Milhares manifestam-se no País Basco

Grito mudo pela paz

Cerca de 130 mil pes­soas par­ti­ci­param, em Bilbau, numa marcha pela re­so­lução pa­cí­fica do con­flito e o res­peito pelos di­reitos hu­manos.

«A im­po­sição e a vi­o­lência são inú­teis contra a de­ter­mi­nação e a von­tade»

O pro­testo ocor­rido ao final da tarde de sá­bado, 11, per­correu sem in­ci­dentes o centro da ci­dade e ter­minou sem dis­cursos. De acordo com o jornal Gara, cerca de 90 mil pes­soas in­te­graram a marcha e ou­tras 40 mil es­ti­veram nas ruas por onde esta passou. Si­len­ciosa, du­rante a maior parte do tempo – ra­ra­mente in­ter­rom­pida pela exi­gência de re­pa­tri­ação dos presos e o cum­pri­mento das normas in­ter­na­ci­o­nais nos cár­ceres onde se en­con­tram dis­persos. Grito mudo que se deveu aos cons­tran­gi­mentos à re­a­li­zação da ini­ci­a­tiva, im­postos pela Au­di­ência Na­ci­onal (AN), a qual, não po­dendo im­pedir a sua con­cre­ti­zação, instou as au­to­ri­dades a pro­ce­derem de forma a evitar a exi­bição de fo­to­gra­fias ou men­sa­gens de apoio a mem­bros, presos ou ex-re­clusos da ETA, bem como a as­so­ci­a­ções que a Jus­tiça es­pa­nhola con­si­dera vin­cu­ladas à or­ga­ni­zação, in­formou a Prensa La­tina.

Na sexta-feira, 10, a AN de­cidiu proibir a ma­ni­fes­tação agen­dada pela pla­ta­forma Tantaz Tanta (Gota a Gota), ale­gando que esta de­corre da Herria, re­cen­te­mente ile­ga­li­zada por dois anos sob a acu­sação de ser um braço po­lí­tico da ETA. A po­sição re­pres­siva não ob­teve o re­sul­tado pre­ten­dido e, além do mais, mo­tivou uma res­posta unida e se­rena por parte das forças po­lí­ticas, so­ciais e sin­di­cais bascas.

Pela pri­meira vez em 16 anos, o Par­tido Na­ci­o­na­lista Basco (PNV) juntou-se a or­ga­ni­za­ções in­de­pen­den­tistas de es­querda e pro­gres­sistas na con­vo­cação de uma acção de massas que o diário Gara qua­li­ficou como das mai­ores de sempre no País Basco, só com­pa­rável às ocor­ridas após os acordos de Li­zarra, em 1998, e, de­pois, em 2006, quando, como é agora o caso, vi­go­ravam ces­sares-fogo de­cre­tados pela ETA.

PNV e Sortu, entre ou­tras es­tru­turas po­lí­ticas, assim como as cen­trais sin­di­cais LAB e ELA, as­su­miram a con­vo­ca­tória sob o lema da de­fesa dos di­reitos hu­manos e a re­so­lução pa­cí­fica do con­flito. Em con­fe­rência de im­prensa con­junta, dia 10, de­fen­deram que o veto à ini­ci­a­tiva ame­a­çava o pro­cesso de so­lução po­lí­tica «aberto pelo nosso povo», e com­pro­me­teram-se a «tra­ba­lhar con­jun­ta­mente pela con­cre­ti­zação dos ob­jec­tivos» que se tor­naram lema da marcha: «di­reitos hu­manos, acordo, paz».

Uma se­mana antes da ma­ni­fes­tação, os co­lec­tivos de presos e ex-presos da ETA ex­pres­saram-se fa­vo­rá­veis à re­so­lução pa­cí­fica do con­flito no País Basco, acei­taram par­ti­lhar res­pon­sa­bi­li­dades sobre as con­sequên­cias da vi­o­lência, e ad­mi­tiram ne­go­ci­a­ções in­di­vi­duais sobre os termos do cum­pri­mento das penas e a li­ber­tação dos re­clusos.

Ponto de par­tida

Re­a­gindo à mo­bi­li­zação mas­siva, o PSOE e o Par­tido Po­pular do pri­meiro-mi­nistro Ma­riano Rajoy, con­ver­giram na crí­tica ao PNV, acu­sando-o de tran­sigir para com o «ter­ro­rismo». Antes, o mi­nistro do In­te­rior, Jorge Fer­nández, já havia rei­te­rado a in­dis­po­ni­bi­li­dade do exe­cu­tivo de Ma­drid em ne­go­ciar com a ETA, e con­si­derou ainda que a de­tenção de oito pre­su­mí­veis apoi­antes da or­ga­ni­zação, entre os quais dois ad­vo­gados, ocor­rida no final da se­mana pas­sada, era «ex­pressão da luta frontal contra a ETA».

Em sen­tido con­trário, o Sortu su­bli­nhou que «a paz» tem de con­ti­nuar a cons­truir-se «entre os bascos», e re­alçou a marcha como «o prin­cípio, e não o fim» de uma «res­posta en­quanto povo». A si­tu­ação é ex­cep­ci­onal, con­si­derou ainda Ha­sier Ar­raiz, di­ri­gente do par­tido, em de­cla­ra­ções pro­fe­ridas du­rante a ma­ni­fes­tação, des­ta­cando, também, que ficou claro que «o Es­tado es­pa­nhol não quer um ce­nário de paz, de­mo­cracia e li­ber­dade para Euskal Herria (País Basco)», isto para além de, «sis­te­ma­ti­ca­mente, vi­olar di­reitos in­di­vi­duais e co­lec­tivos».

Já no do­mingo, os porta-vozes do Sortu, Per­nando Bar­rena e Amaia Isko, fri­saram que a mo­bi­li­zação mos­trou que «a im­po­sição e a vi­o­lência são inú­teis contra a de­ter­mi­nação e a von­tade po­pu­lares», e con­firmou a «exi­gência so­cial mai­o­ri­tária» de «não se deitar borda fora a opor­tu­ni­dade para a paz».

«A paz é do in­te­resse pú­blico e de toda a so­ci­e­dade basca, não um ins­tru­mento de luta po­lí­tica», disse igual­mente Per­nando Bar­rena, ques­ti­o­nado sobre o tra­balho com o PNV.

O líder do PNV e chefe do go­verno au­tó­nomo de Eus­kadi, Iñigo Ur­kulu, ma­ni­festou-se «cons­ci­ente do tempo que vi­vemos» e da res­pon­sa­bi­li­dade de «cons­truirmos juntos a paz e a con­vi­vência».




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