Solidários com a Venezuela!

Ângelo Alves

A luta de classes está ao rubro na Ve­ne­zuela

Já pas­saram 12 anos sobre a ten­ta­tiva de Golpe de Es­tado que em 2002 tentou depor Hugo Chávez e travar o pro­cesso de trans­for­mação pro­gres­sista na Ve­ne­zuela. Não con­for­mados com o ques­ti­o­na­mento do seu con­trolo ab­so­luto sobre o Es­tado, a Jus­tiça, a eco­nomia, os re­cursos e as re­la­ções eco­nó­micas e in­ter­na­ci­o­nais ve­ne­zu­e­lanas, con­fron­tados com o for­tís­simo apoio po­pular ao jovem go­verno e à Cons­ti­tuição Bo­li­va­riana apro­vada em 1999, o grande ca­pital ve­ne­zu­e­lano e os seus la­caios po­lí­ticos re­cor­reram à es­tra­tégia gol­pista para tentar o que não ti­nham con­se­guido nem nas urnas nem no pro­cesso cons­ti­tuinte. Foi o tempo do blo­queio pe­tro­lí­fero, das sa­bo­ta­gens eco­nó­micas, das cons­pi­ra­ções nas forças ar­madas, or­ques­tradas por Washington, da pro­vo­cação e vi­o­lência, das cam­pa­nhas me­diá­ticas contra o «au­to­ri­tário» Chávez.

A ali­ança cí­vico-mi­litar e a uni­dade po­pular em torno das forças da re­vo­lução der­ro­taram esse golpe. Nestes doze anos a Re­vo­lução Bo­li­va­riana al­cançou im­por­tantes con­quistas e deu uma im­por­tante con­tri­buição para afirmar a Amé­rica La­tina como um dos prin­ci­pais pólos de re­sis­tência mun­dial ao im­pe­ri­a­lismo. Avanços sus­ten­tados numa ampla par­ti­ci­pação po­pular e le­gi­ti­mados por 19 pro­cessos elei­to­rais, in­cluindo os dois úl­timos re­a­li­zados após a morte do Co­man­dante Hugo Chávez.

As elei­ções mu­ni­ci­pais re­a­li­zadas em De­zembro úl­timo ti­nham já sido um exemplo dos mé­todos a que a re­acção e o im­pe­ri­a­lismo estão dis­postos a re­correr para tentar que­brar a uni­dade do povo e apro­veitar a morte de Hugo Chávez para passar à contra-ofen­siva. A grande bur­guesia usou então do muito poder eco­nó­mico que detém e do cordão um­bi­lical que a une ao im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano para tentar blo­quear a eco­nomia ve­ne­zu­e­lana, in­cre­mentar os pro­cessos de es­pe­cu­lação e cor­rupção e gerar vi­o­lência em vés­peras de elei­ções.

Foi em res­posta a essas ma­no­bras que o go­verno Ven­zu­e­lano aprovou um con­junto de leis que, ca­mi­nhando no sen­tido do re­forço do papel do Es­tado na eco­nomia, visam que­brar os elos de uma ca­deia eco­nó­mica ren­tista, es­pe­cu­la­tiva, cor­rupta, ge­ra­dora de vi­o­lência e cri­mi­na­li­dade, her­dada do an­te­rior re­gime. Le­gi­ti­mado por duas fortes vi­tó­rias elei­to­rais o go­verno de Ni­colas Ma­duro pôs em marcha um «plano de pa­ci­fi­cação» da so­ci­e­dade ve­ne­zu­e­lana e aprovou um con­junto de me­didas que apro­fundam ainda mais o ca­rácter pro­gres­sista de ori­en­tação so­ci­a­lista do pro­cesso ve­ne­zu­e­lano e que acossam ainda mais as hordas do poder eco­nó­mico re­ac­ci­o­nário e fas­cista ve­ne­zu­e­lano.

Os actos de vi­o­lência e van­da­lismo per­pe­trados por grupos de cariz ne­o­fas­cista na pas­sada se­mana não são mais do que a res­posta do grande ca­pital à le­gí­tima acção do go­verno. Au­tên­ticos aten­tados contra a ordem cons­ti­tu­ci­onal e a de­mo­cracia, per­pe­trados em grande me­dida por grupos ar­mados pelas fac­ções mais ra­di­cais da di­reita ve­ne­zu­e­lana e fi­nan­ci­ados a partir do ex­te­rior. Mais uma vez as­sis­timos a actos de sa­bo­tagem eco­nó­mica e ener­gé­tica, a ten­ta­tivas de in­ge­rência di­recta dos EUA, de in­fil­tração de para-mi­li­tares co­lom­bi­anos em ter­ri­tório ve­ne­zu­e­lano e a uma cam­panha me­diá­tica mun­dial que tenta vender a ideia de uma quase «di­ta­dura».

Mas o que está em marcha é nada mais nada menos que uma nova ten­ta­tiva de Golpe de Es­tado. Pro­ta­go­ni­zado por fi­guras si­nis­tras e cor­ruptas como Le­o­poldo Lopéz e de­sen­vol­vido em es­treita ar­ti­cu­lação com a ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana. Mas quer por parte do go­verno e do povo ve­ne­zu­e­lano, quer por parte dos res­tantes es­tados la­tino-ame­ri­canos e das suas es­tru­turas de in­te­gração, as re­ac­ções não se fi­zeram es­perar. A luta de classes está ao rubro na Ve­ne­zuela de­mons­trando a im­por­tância e o exemplo deste pro­cesso. A so­li­da­ri­e­dade com o seu povo e o seu le­gí­timo go­verno é uma obri­gação de todos os que de­fendem a paz, a de­mo­cracia e a so­be­rania dos povos.




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