Campanha de desinformação contra a Venezuela

Manipulação grosseira

«Dê-me as ima­gens, eu ar­ranjo a guerra». A frase é atri­buída ao mag­nata norte-ame­ri­cano da co­mu­ni­cação so­cial, pro­pa­gan­dista nazi, anti-so­vié­tico e anti-co­mu­nista Wil­liam R. He­arst, que, em 1897, assim terá res­pon­dido a um fo­tó­grafo que tra­ba­lhava para os seus jor­nais quando este pediu para re­gressar de Cuba, onde não havia ne­nhuma guerra entre os EUA e Es­panha para re­portar. A ma­ni­pu­lação de ima­gens e a de­tur­pação dos acon­te­ci­mentos re­centes na Ve­ne­zuela mos­tram que a má­xima ainda vi­gora para servir os in­te­resses gol­pistas do im­pe­ri­a­lismo, que pro­cura conter aos avanços pro­gres­sistas que se re­gistam na­quele país e na Amé­rica La­tina.

O im­pe­ri­a­lismo pre­tende re­tomar a ini­ci­a­tiva na Amé­rica La­tina para conter o avanço das forças pro­gres­sistas


 


Fotos da re­pressão de pro­testos no Chile, Egipto, Brasil, Bul­gária ou Sin­ga­pura; de ví­timas da guerra ter­ro­rista mo­vida contra a Síria; de tor­tura em Es­panha, de maus-tratos a cri­anças nas Hon­duras ou de agres­sões per­pe­tradas, em 2013, pelos apoi­antes do opo­sitor ve­ne­zu­e­lano Hen­rique Ca­prilles du­rante a sua cam­panha à pre­si­dência; de pro­cis­sões re­li­gi­osas ou de um cordão hu­mano na Ca­ta­lunha, cir­culam nas In­ternet e foram re­fe­ridas ou re­pro­du­zidas por ór­gãos de co­mu­ni­cação para cor­ro­borar uma nar­ra­tiva do que está ocorrer na Ve­ne­zuela.

O uso das redes so­ciais como mul­ti­pli­ca­dores da men­tira vi­sando le­gi­timar o golpe de Es­tado em curso, en­quadra-se na pe­sada cam­panha me­diá­tica onde pon­ti­ficam re­por­ta­gens te­le­vi­sivas que colam planos fe­chados de Hen­rique Ca­prilles a exigir a con­ti­nui­dade dos «pro­testos», a ima­gens, abertas, das grandes ac­ções de massas po­pu­lares pro­mo­vidas pelas forças bo­li­va­ri­anas. Mar­chas como as re­a­li­zadas em Ca­racas, terça-feira, 18, sá­bado, 22, e do­mingo, 23, em de­fesa da re­vo­lução, pela paz e pela vida, às quais ade­riram mi­lhares de tra­ba­lha­dores, ho­mens, mu­lheres e jo­vens de todas as idades.

A en­trega às au­to­ri­dades de Le­o­poldo López, terça-feira, 18, foi dada como «exemplo» da (falsa) re­pressão que se pre­tende vei­cular. O El País deu-lhe a foto cen­tral de pri­meira pá­gina afi­an­çando que López foi ar­ran­cado pela po­lícia às mãos dos ma­ni­fes­tantes. O facto é que, se­gundo a es­posa do gol­pista con­fesso, a apre­sen­tação à Jus­tiça foi não só acor­dada pre­vi­a­mente como res­pondeu a ame­aças re­ce­bidas por aquele. «O go­verno mos­trou-se pre­o­cu­pado e co­mu­nicou com a fa­mília para res­guardar a se­gu­rança do Le­o­poldo», disse à CNN.

No do­mingo, o pre­si­dente Ni­colás Ma­duro deu uma en­tre­vista à Te­lesur. Anun­ciou a re­a­li­zação (para ontem) de uma Con­fe­rência Na­ci­onal de Paz e con­vidou os re­pre­sen­tantes da opo­sição a unirem-se à ini­ci­a­tiva e a re­pu­di­arem a vi­o­lência. Ca­prilles res­pondeu, en­tre­tanto, que não com­pa­re­cerá.

Rei­te­rando que a Ve­ne­zuela de­fronta uma ope­ração de de­tur­pação in­for­ma­tiva de larga es­cala, Ma­duro anun­ciou a cons­ti­tuição de uma Co­missão de Ver­dade com mem­bros da igreja ca­tó­lica, jor­na­listas, in­te­lec­tuais, mem­bros de or­ga­ni­za­ções da «so­ci­e­dade civil», para in­ves­tigar a acção dos pe­quenos grupos vi­o­lentos res­pon­sá­veis pela morte de 13 pes­soas, ga­ran­tindo, ainda, que as au­to­ri­dades já iden­ti­fi­caram quem os fi­nancia, anima e di­rige – os EUA e a cú­pula em­pre­sa­rial que tem mo­vido uma guerra eco­nó­mica sem quartel, acusou o chefe de Es­tado.

Ma­duro acres­centou que apesar da dis­torção da ver­dade apre­sen­tando o ocor­rido como ilus­tra­tivo da «re­pressão cha­vista», os tu­multos só se fi­zeram sentir em cinco por cento dos mu­ni­cí­pios e em oito por cento do ter­ri­tório na­ci­onal.

Ob­jec­tivo im­pe­ri­a­lista

A con­cen­tração do fun­da­mental dos cha­mados «pro­testos pa­cí­ficos» em es­tados go­ver­nados pela opo­sição, bem como nas zonas mais abas­tadas da ca­pital ve­ne­zu­e­lana (Sucre, Chacon, Al­ta­mira); as ima­gens de «es­tu­dantes pa­cí­ficos» com armas e bombas in­cen­diá­rias; a com­pro­vada in­fil­tração de pa­ra­mi­li­tares co­lom­bi­anos no Es­tado fron­tei­riço de Ta­chira e a de­tenção de um mer­ce­nário que se pre­pa­rava para fazer ex­plodir um carro-bomba em Arágua; o re­púdio mas­sivo dos ve­ne­zu­e­lanos aos cortes de es­tradas e des­truição de equi­pa­mentos pú­blicos (se­gundo a In­ter­na­ci­onal Con­sul­ting Ser­vice, 85,3 por cento dos ve­ne­zu­e­lanos re­pudia estas prá­ticas, e 81,6 por cento con­si­dera os pro­testos vi­o­lentos), são ocul­tados pelos média do­mi­nantes. Como o são os ata­ques a sedes do Par­tido So­ci­a­lista Unido da Ve­ne­zuela, da VTV ou da CANTV, a lojas e veí­culos da rede es­tatal de dis­tri­buição de ali­mentos e me­di­ca­mentos, a meios de trans­porte, bombas de ga­so­lina e res­pec­tivos tra­ba­lha­dores, a edi­fí­cios pú­blicos e ór­gãos de so­be­rania e, mais re­cen­te­mente, o aten­tado contra o con­su­lado da Ve­ne­zuela em Aruba.

O ob­jec­tivo é óbvio: pro­jectar a imagem de um país onde a li­ber­dade e a exi­gência de de­missão do go­verno são aba­fadas.

O im­pe­ri­a­lismo não aceita que em 18 dos 19 actos elei­to­rais re­a­li­zados nos úl­timos 16 anos, as forças bo­li­va­ri­anas te­nham sempre triun­fado, mesmo no quadro de in­tensas cam­pa­nhas sujas e vi­o­lentas como as pre­si­den­ciais e as au­tár­quicas de 2013. Vê ame­a­çados os seus in­te­resses porque, apesar da guerra eco­nó­mica feita de es­pe­cu­lação, açam­bar­ca­mento e trá­fico de gé­neros, ma­ni­pu­lação de preços ou sa­bo­tagem eléc­trica, mo­vida com par­ti­cular acu­ti­lância nos úl­timos meses, o povo ve­ne­zu­e­lano in­siste no ca­minho de de­sen­vol­vi­mento e no uso so­be­rano dos seus re­cursos na­tu­rais, re­jei­tando o re­gresso ao es­ta­tuto de semi-co­lónia norte-ame­ri­cana e das mul­ti­na­ci­o­nais. Sente-se in­co­mo­dado quando ins­ti­tui­ções como a Agência das Na­ções Unidas para a Agri­cul­tura e Ali­men­tação saúdam o país pela im­plan­tação de um mo­delo de res­posta eficaz às ne­ces­si­dades ali­men­tares, como acon­teceu o ano pas­sado.

Não aceita que a Ve­ne­zuela seja uma das pi­o­neiras cons­tru­toras da co­o­pe­ração re­gi­onal con­trária aos di­tames de Washington, cujo avanço fica pa­tente na re­cente Ci­meira da Co­mu­ni­dade de Es­tados La­tino Ame­ri­canos e Ca­ri­be­nhos - CELAC, re­a­li­zada em Ha­vana. Ali, 33 países, apesar de go­ver­nados com di­fe­rentes pro­pó­sitos, con­so­li­daram a or­ga­ni­zação e su­bli­nharam o seu es­ta­tuto de pro­mo­tora po­lí­tica e eco­nó­mica mul­ti­la­teral. Apro­varam um plano de acção con­creto para res­ponder à fome, à de­si­gual­dade ou à de­gra­dação do meio am­bi­ente. De­cla­raram a Amé­rica La­tina e o Ca­ribe como Zona de Paz atin­gindo os en­sejos co­lo­ni­a­listas, a pre­sença mi­litar e a in­ge­rência dos EUA no sub­con­ti­nente. Rei­te­raram o di­reito dos povos a de­cidir li­vre­mente o seu pró­prio des­tino, o res­peito pela Carta das Na­ções Unidas e pelo Di­reito In­ter­na­ci­onal, e re­a­fir­maram que para a er­ra­di­cação da po­breza é im­pres­cin­dível mudar a ac­tual ordem eco­nó­mica mun­dial, fo­mentar a so­li­da­ri­e­dade e a co­o­pe­ração.

Que a Ve­ne­zuela sirva de exemplo para que ou­tros povos rei­terem nas urnas a con­fi­ança em go­vernos de igual cariz anti-im­pe­ri­a­lista, como ocorreu este fim-de-se­mana no Equador e se prevê que volte a acon­tecer, dia 9 de Março, em El Sal­vador, o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano não pode con­ceder.

Daí a ac­tual ofen­siva, im­pul­si­o­nada pelo im­pe­ri­a­lismo para re­tomar a ini­ci­a­tiva na Amé­rica La­tina, conter o avanço das forças pro­gres­sistas e minar a po­pu­la­ri­dade cres­cente de po­lí­ticas fa­vo­rá­veis aos povos e à sua eman­ci­pação so­cial. Assim se per­cebe a razão pela qual se pre­tende ar­rastar a Ve­ne­zuela para uma forma vi­o­lenta da luta po­lí­tica entre classes, na qual o im­pe­ri­a­lismo aca­lenta es­pe­ranças de su­perar os re­vezes so­fridos . Ma­ni­pulam-se por isso ima­gens e factos com o pro­pó­sito de se­mear a guerra, como en­sinou He­arst.

 

So­li­da­ri­e­dade em Lisboa


De­zenas de pes­soas con­cen­traram-se ao final da tarde de quinta-feira, 20, em Lisboa, em so­li­da­ri­e­dade para com a re­vo­lução bo­li­va­riana e o povo ve­ne­zu­e­lano. O Con­celho Por­tu­guês para a Paz e a Co­o­pe­ração (CPPC), a As­so­ci­ação Con­quista da Re­vo­lução (ACR), o Mo­vi­mento De­mo­crá­tico da Mu­lheres (MDM), a Co­o­pe­ra­tiva Mó de Vida (CMV) e as­so­ci­a­ções de emi­grantes re­si­dentes em Por­tugal, e uma de­le­gação do PCP es­ti­veram pre­sentes na ini­ci­a­tiva, re­a­li­zada junto ao mo­nu­mento a Simón Bo­lívar, na Ave­nida da Li­ber­dade.

CPPC, ACR e MDM en­tre­garam ao em­bai­xador da Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela em Por­tugal, ge­neral Lucas Rincón Ro­mero, mo­ções de apoio ao go­verno li­de­rado por Ni­colás Ma­duro, em de­fesa da paz e contra a vi­o­lência de­sen­ca­deada por grupos de di­reita apoi­ados pelo ex­te­rior.

Antes de o em­bai­xador agra­decer a pre­sença so­li­dária de todos e de fazer um ba­lanço dos factos mais re­le­vantes na ac­tu­a­li­dade ve­ne­zu­e­lana, Ca­ro­lina Leão, em nome da CMV, e Be­a­triz Nunes, da ACR, su­bli­nharam, res­pec­ti­va­mente, a va­lentia de­mons­trada na­quele país para en­frentar a ex­trema-di­reita e a ne­ces­si­dade de es­cla­recer o povo por­tu­guês sobre a si­tu­ação. Fi­lipe Fer­reira, em nome do CPPC, re­alçou a im­por­tância e im­pacto da re­vo­lução bo­li­va­riana, ao passo que Vítor Guerra, da As­so­ci­ação de Cu­banos em Por­tugal, lem­brou que apesar da ma­ni­pu­lação e das men­tiras, no nosso País sabe-se quem são os res­pon­sá­veis pela vi­o­lência.


CMP de­nuncia

«O Con­selho Mun­dial da Paz (CMP) de­nuncia os planos e ac­ções em curso de de­ses­ta­bi­li­zação da Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela por parte de grupos re­ac­ci­o­ná­rios com o apoio das forças im­pe­ri­a­listas», lê-se numa nota di­vul­gada a se­mana pas­sada. Para o CMP, «os re­centes acon­te­ci­mentos em Ca­racas e ou­tras re­giões do país mos­tram cla­ra­mente a in­tenção da oli­gar­quia local e dos seus par­ti­dá­rios es­tran­geiros» e con­firmam a «nos­talgia das ve­lhas cú­pulas que estão a perder o seu poder e pri­vi­lé­gios».

No texto, di­vul­gado dia 19, o CMP ex­pressa, ainda, «so­li­da­ri­e­dade com a sua fi­liada na Ve­ne­zuela, o Co­mité de So­li­da­ri­e­dade In­ter­na­ci­onal, com todas as forças anti-im­pe­ri­a­listas do país e o povo ve­ne­zu­e­lano», e su­blinha que «os amantes da paz em todo o mundo con­fiam que o povo ve­ne­zu­e­lano ga­nhará esta ba­talha do ca­minho para se con­verter dono das suas ri­quezas na­tu­rais, com so­be­rania e dig­ni­dade».