«Que ninguém vá ao engano»

Carlos Gonçalves

Silva Pe­reira (SP), ex-editor de in­for­mação da TVI e ex-mi­nistro da Pre­si­dência do PS/​Só­crates, está a re­lançar a car­reira para de­pu­tado do PS no Par­la­mento Eu­ropeu. Pri­meiro foi a en­tre­vista ao Ex­presso em que disse que não há «so­cra­tistas», ou «gu­ter­ristas», «o que existe é o PS», como quem diz, estou cá para servir V. Exas, e logo de­pois foi a co­la­bo­ração re­gular no Diário Eco­nó­mico, em que se es­treou com um texto su­ges­tivo, «A nar­ra­tiva Co­mu­nista». Sim, porque é pre­ciso re­tri­buir a no­me­ação para o PE e, por con­vicção ou ser­viço, fazer as ta­refas mais sujas. A coisa pro­mete, o homem vai longe.

O texto não contém no­vi­dades. SP faz a re­vi­si­tação das ca­lú­nias an­ti­co­mu­nistas e das al­dra­bices do PS de todos estes anos, mas tem a re­le­vância de ser a de­mons­tração clara do «pen­sa­mento» po­lí­tico, da ori­en­tação e da es­tra­tégia do PS.

SP lança as li­nhas mes­tras da cam­panha de men­tiras do PS contra o PCP e a CDU: há «com­pla­cência», isto é, há que mentir ainda mais sobre o que dizem os co­mu­nistas, sem es­crú­pulo de­mo­crá­tico; o PCP tem um «pro­grama re­vo­lu­ci­o­nário» e de «su­pe­ração do sis­tema ca­pi­ta­lista» – ai que medo, vem aí a «di­ta­dura do pro­le­ta­riado»; o PCP faz «uma po­lí­tica de terra quei­mada», isto é, o PS não é um dos res­pon­sá­veis pelo de­sastre, foi o PCP que não está no Go­verno há trinta e sete anos; o PCP «boi­cota a uni­dade de es­querda», isto é, não foi o PS que sempre go­vernou com e à di­reita e/​ou apoiou a di­reita, foi o mauzão do PCP que nunca aceitou ser ben­gala de es­querda da po­lí­tica de roubo, de­sastre e de­clínio na­ci­onal.

E con­tinua SP: o PCP votou contra o PEC IV e veio a «in­ge­rência do FMI», isto é, não foram os PEC que pre­pa­raram e os ban­queiros e o PS/​PSD/​CDS que de­ci­diram o pacto de agressão, e não foi o PCP que se opôs à rou­ba­lheira; o PCP é «ir­re­a­lista» contra a in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ro­peia e pela re­ne­go­ci­ação séria da dí­vida e o con­trolo de sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia – crimes bár­baros contra o grande ca­pital e os seus ser­vi­çais, que nos trou­xeram a este pa­raíso ter­restre.

Fica assim mais claro que a «mu­dança» dos car­tazes do PS não existe. SP e PS querem que tudo fique na mesma, ou seja, que fique cada vez pior. É pre­ciso «avisar toda a gente», «para que nin­guém vá ao en­gano».




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