O Mundo todo em luta

Ângelo Alves

A luta de classes está mais acesa do que nunca

«Ins­titui-se uma grande ma­ni­fes­tação in­ter­na­ci­onal numa data fi­xada de uma vez para sempre, de modo a que em todos os países e em todas as ci­dades, si­mul­ta­ne­a­mente, neste dia, os tra­ba­lha­dores exijam dos po­deres pú­blicos que a jor­nada de tra­balho seja re­du­zida para oito horas e que se cum­pram todas as res­tantes de­ci­sões do con­gresso da In­ter­na­ci­onal…».

Este é o ex­certo da Re­so­lução dos con­gressos ope­rá­rios de Paris de 1889 que está na origem da ins­ti­tuição do dia 1 de Maio como Dia In­ter­na­ci­onal do Tra­ba­lhador. Para trás es­tavam as he­róicas lutas do ope­ra­riado norte-ame­ri­cano de 1885 e 1886 pelas oito horas de tra­balho e o mas­sacre de 4 de Maio de 1886 em Chi­cago – o mas­sacre de Hay­market – de­sen­ca­deado após uma pro­vo­cação bom­bista mon­tada pelas pró­prias au­to­ri­dades para jus­ti­ficar a brutal re­pressão contra os tra­ba­lha­dores. Re­pressão que viria a re­sultar em vá­rias mortes, inú­meras pri­sões e cen­tenas de fe­ridos e que em 1887 le­va­riam ao en­for­ca­mento de quatro dos oito di­ri­gentes ope­rá­rios que fi­caram co­nhe­cidos como «os már­tires de Chi­cago».

A de­cisão de há 125 anos ins­ti­tuir o dia in­ter­na­ci­onal do tra­ba­lhador re­pre­sentou um salto qua­li­ta­tivo de grande al­cance na luta da classe ope­rária, foi a con­cre­ti­zação de um novo nível da luta de classes que se in­ten­si­fi­cava ra­pi­da­mente com a de­sen­freada ex­plo­ração na se­gunda me­tade do sé­culo XIX que acom­pa­nhou a re­vo­lução in­dus­trial, de­mons­trando e adop­tando a jus­teza da tese mar­xista de que em ca­pi­ta­lismo a luta pela fi­xação da jor­nada de tra­balho é a luta pela sua re­dução.

Este acon­te­ci­mento, a par com ou­tros dois grandes marcos da se­gunda me­tade desse sé­culo – a pu­bli­cação do Ma­ni­festo Co­mu­nista em 1848 e a Co­muna de Paris em 1871 – re­pre­sen­taram im­por­tan­tís­simos avanços na cons­ci­ência dos tra­ba­lha­dores sobre o papel da sua uni­dade e or­ga­ni­zação e sobre o seu poder en­quanto classe. Avanços que mais tarde, em 1917, es­ta­riam pre­sentes e ma­te­ri­a­li­zados na Re­vo­lução de Ou­tubro, com tudo o que ela sig­ni­ficou de avanços ex­tra­or­di­ná­rios na luta dos tra­ba­lha­dores, na con­quista de di­reitos e na li­gação da luta por esses di­reitos à luta contra o ca­pi­ta­lismo e pelo so­ci­a­lismo.

Quando esta edição do Avante! chegar às mãos dos lei­tores es­ta­remos, no nosso País, a poucas horas de ini­ciar as co­me­mo­ra­ções dos 40 anos do pri­meiro 1.º de Maio em li­ber­dade. Por todo o Mundo, em todos os con­ti­nentes, em mi­lhares e mi­lhares de ci­dades, mi­lhões e mi­lhões de tra­ba­lha­dores sairão também à rua. Em Chi­cago e nos EUA a luta terá lugar num país em que as de­si­gual­dades são hoje tão bru­tais que com­pa­rá­veis às dos idos anos 80 do sé­culo XIX, onde as classes do­mi­nantes teimam em con­ti­nuar a es­conder a bomba re­lógio eco­nó­mica e so­cial que é hoje a prin­cipal po­tência im­pe­ri­a­lista mun­dial e re­correm mais uma vez à vi­o­lência e à guerra para tentar manter o seu poder.

Por todo o mundo os efeitos da re­gressão ci­vi­li­za­ci­onal im­posta pelo im­pe­ri­a­lismo es­tarão no centro das rei­vin­di­ca­ções. Pas­sados quase 130 anos do mas­sacre de Chi­cago o ca­pi­ta­lismo não só man­teve como apro­fundou o seu ca­rácter ex­plo­rador, opressor, agres­sivo e de­su­mano. A luta de classes está mais acesa do que nunca, o sis­tema está mer­gu­lhado numa crise pro­funda, o fas­cismo le­vanta a ca­beça, a guerra im­pe­ri­a­lista afecta vá­rias re­giões do globo. A fome, o de­sem­prego e a po­breza crescem ex­po­nen­ci­al­mente em vá­rias re­giões do globo. O pró­prio con­ceito de ho­rário de tra­balho é ata­cado e nos prin­ci­pais cen­tros do ca­pi­ta­lismo o Es­tado ad­quire con­tornos ainda mais re­pres­sivos e re­ac­ci­o­ná­rios. Mas tal como no pas­sado serão mi­lhões e mi­lhões aqueles que, por vezes ar­ris­cando a vida, não de­sistem de lutar. Porque se há en­si­na­mento que po­demos re­tirar destes quase 130 anos de His­tória é que os tra­ba­lha­dores unidos em torno dos seus in­te­resses de classe são os obreiros do fu­turo.




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