- Nº 2128 (2014/09/11)
CineAvante!

O mundo do sonho e do saber

Festa do Avante!

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Muita gente, entre cinéfilos, apreciadores da 7.ª arte ou simples curiosos, passou pela sala escura montada no Pavilhão Central. Fruto de uma escolha criteriosa, durante os três dias da Festa foram exibidas curtas e longas metragens, documentários e animação,

muito do que mais actual se faz em Portugal e no estrangeiro na área do cinema.

A mostra serviu ainda para celebrar o 40.º aniversário da Revolução de Abril, efeméride a que foram dedicadas duas obras, «As Armas e o Povo» e «A Lei da Terra», rodadas logo depois do derrube do fascismo e que serão, porventura, no entender de Nuno Franco, um dos responsáveis pela organização do certame, as que «melhor retratam o período revolucionário».

A sensibilidade da selecção torna difícil destacar esta ou aquela obra. Mesmo assim não será exagero mencionar títulos como «A Fuga»; «Continuar a Viver ou os Índios da Meia-Praia»; «Até Amanhã Camaradas», baseada no livro homónimo assinado por Álvaro Cunhal; «48»; «25 de Abril, Uma Aventura Para A Democracia»; «Plataformas e Seguranças»; «Acto de Matar»; «Terra de Ninguém»; «As Desventuras do Drácula Von Barreto nas Terras da Reforma Agrária»; Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa»; «Avante!Com a Festa» e «Caçadores de Sonhos».

O CineAvante! ofereceu-nos também deliciosas curtas-metragens estrangeiras que passaram não há muito no Shortcutz Lisboa. Estão neste caso «Rhoma Acans», «Som do Silêncio», «O Cágado», «Dias Por El Cuelo», «Dona Fúnfia» ou «Ninja Gold Miners».

Foi marcante a homenagem que o Partido consagrou, através do CineAvante!, a Vasco Granja, um dos homens que mais fez pela popularização, em Portugal, da animação cinematográfica. Muitos de nós ainda se recordam de algumas pérolas que ele passou no «Cinema de Animação», um dos programas da RTP com mais qualidade. «Vasco Granja – disse-nos Nuno Franco – além de militante do PCP e antifascistas activo, pelo que esteve preso na cadeia do Aljube, destacou-se como um entusiasta divulgador da banda desenhada e do cinema de animação em Portugal. É compreensível e totalmente justa esta homenagem a um homem que nos traz grandes recordações».

Muita gente deve desconhecer que o PCP tem a sua Célula de Cinema. Esta equipa foi responsável por «As Desventuras do Drácula Von Barreto nas Terras da Reforma Agrária», rodado durante a primeira Festa do Avante!, em 1977. Trata-se de uma divertida sátira a António Barreto, então ministro da Agricultura e um dos primeiros assassinos da Reforma Agrária. Se se disser que foi um menino educado na Suíça que regressou a Portugal para abraçar aquela pasta ministerial, logo se concluirá que aos realizadores não escasseou matéria para trabalharem a personagem.

Através de «Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa», outra obra saída daquela Célula, recordamos as pinturas que cobriam as paredes e os muros de Lisboa, muitas delas autênticas obras de arte. Eram a Revolução em actividade, exprimida criativamente através da forma e da cor. Um belo texto de António Domingues, da Célula dos Artistas Plásticos, conhecido pintor que nos deixou há poucos anos, chama-nos a atenção para a importância do trabalho iniciado pelos cineastas comunistas.

O CineAvante! concorre fortemente para a diversidade da Festa, e, de ano para ano, parece melhorar sua organização e qualidade. Como toda a Festa, este certame está «envolvido num ambiente em que nos sentimos bem, sejamos ou não militantes do Partido», disse-nos Joaquim Leitão, o realizador de «Até Amanhã, Camaradas», obra inesquecível que tem Álvaro Cunhal como personagem central.


José Augusto