Em dezena e meia de debates realizados no Espaço Central várias centenas de visitantes da Festa aproveitaram a oportunidade de conhecer, aprofundar e debater, em torno de grandes temas da actualidade, com dirigentes comunistas e deputados do Partido. Mereceu destaque a explanação do projecto do PCP para uma política patriótica e de esquerda – como contraponto à política de direita dos últimos 38 anos, como plataforma de convergência para uma política alternativa e uma alternativa política e como parte da luta pelo socialismo.
A construção desta alternativa, em ruptura com o rumo da destruição, da dependência e do empobrecimento, «faz-se com este povo» que resistiu ao fascismo, que fez o 25 de Abril, que resiste há 38 anos à contra-revolução e que «vai abrir caminho a um Portugal melhor». Jorge Cordeiro, da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central do Partido, encerrou assim o debate de sábado à noite, no Fórum. Com a chuva a vencer em vários pontos a cobertura, o tema «Por uma política patriótica e de esquerda – alternativa política e política alternativa» foi ali abordado também em intervenções de João Oliveira, da Comissão Política e presidente do grupo parlamentar do PCP, e Pedro Guerreiro, do Secretariado do CC e responsável pela Secção Internacional do Partido, num debate moderado por Patrícia Machado, da Comissão Política, onde não faltaram os contributos do público.
Inseparável, neste momento, da exigência de demissão do Governo, a alternativa por que o PCP se bate assenta na ideia de que o País não está condenado à política de direita, levada a cabo por governos do PS e do PSD, que por vezes incluem o CDS. Jorge Cordeiro lembrou três condições essenciais para dar corpo a tal alternativa: o reforço do PCP e o alargamento da sua influência, a ampliação da luta de massas e da frente social das camadas com interesse em romper um processo que só favorece a concentração capitalista, e a alteração da correlação de forças, com alargamento da convergência das forças que buscam um novo rumo de desenvolvimento e independência.
São precisamente os objectivos traçados e os interesses a servir que distinguem a proposta do PCP e fazem o contraponto à política de direita. João Oliveira realçou essa diferença em vários pontos, como a valorização do trabalho e a dignificação das condições laborais, a defesa da Segurança Social pública, universal e solidária, a importância dos sectores produtivos face ao poder financeiro, a defesa da propriedade social e do controlo público da banca e demais sectores estratégicos, o investimento público para garantir saúde e educação públicas, gratuitas e de qualidade, mas também o respeito pela Constituição e a prevalência do poder político sobre o poder económico e dos interesses do povo sobre os interesses do capital.
A propósito da dimensão patriótica da alternativa defendida pelo PCP, Pedro Guerreiro assinalou que a política de direita teve um dos seus pilares na abdicação da soberania e no abandono dos interesses nacionais, como é bem visível nas consequências de 28 anos de integração europeia. O pacto de agressão de 2011 foi classificado como expoente máximo da política de claudicação nacional. Romper com esse processo de integração capitalista, não para o isolamento do País mas para a diversidade de relações externas e para outra Europa, de cooperação efectiva entre estados iguais e soberanos, é uma linha indissociável das outras propostas que integram a política patriótica e de esquerda, desde a renegociação da dívida externa até à política orçamental e fiscal – da mesma forma que não se pode isolar um qualquer ponto da política de direita.