Incensos

Henrique Custódio

Uma lu­mi­nes­cência da co­li­gação go­ver­na­mental en­tre­teve-se a en­co­miar Carlos Mo­edas, de­ci­dindo que a sua no­me­ação para co­mis­sário eu­ropeu – onde, «cer­ta­mente», irá ocupar uma «pasta de re­levo» – cons­titui «um pres­tígio para Por­tugal», que «de­certo be­ne­fi­ciará» deste ar­rumo lu­si­tano no «go­verno eu­ropeu».

Con­viria – se «a tão fraca gente» se pu­desse pedir al­guma coisa – que o su­jeito do pa­ne­gí­rico a Mo­edas se lem­brasse do his­to­rial de Bar­roso na ida para «pre­si­dente eu­ropeu», um outro a quem a sábia opi­nião local também con­signou, na al­tura da no­me­ação, ri­dentes van­ta­gens para o nosso País. Hoje, ob­vi­a­mente, as­so­biam para o lado e, se ne­ces­sário, ma­lharão no Bar­roso até que o seu in­dig­nado des­prezo brote, em sangue, da cri­a­tura. Ao menos de­viam re­parar nisto, se­nhores, antes de re­petir com o Mo­edas as­neiras os­ten­sivas do pas­sado.

Re­me­mo­rando su­cin­ta­mente a tra­jec­tória de Durão Bar­roso (dos seus tempos de MRPP ficou apenas o roubo da mo­bília da Fa­cul­dade de Di­reito a se­guir ao 25 de Abril, que levou para a sede do MRPP, onde Ar­naldo Matos o obri­garia a de­volvê-la), temos uma iti­ne­rância pa­ci­ente pelo PSD até se con­se­guir al­çado a pri­meiro-mi­nistro. Cum­pria o seu fa­moso va­ti­cínio de que «havia de ser pri­meiro-mi­nistro, não sabia era quando», mas foi sol de pouca dura: acos­sado pelo «País de tanga» que disse «ter her­dado», fugiu pas­sados dois anos de chan­celer para a mor­domia da pre­si­dência da UE, onde os seus com­por­ta­mentos du­vi­dosos (no­me­a­da­mente com Por­tugal) se tor­naram uma ro­tina. Lem­bramos apenas as fé­rias que passou no iate de um mi­li­o­nário grego logo no início do man­dato e que o jornal alemão Die Welt ti­tulou «Bar­roso deixa que lhe pa­guem uma vi­agem de cru­zeiro» ou o re­cente es­cân­dalo com Vla­dimir Putin, de­nun­ci­ando à sor­relfa que ele lhe havia dito que, «se qui­sesse, to­mava Kiev em duas se­manas» e, pe­rante a ameaça da Rússia em di­vulgar toda a con­versa, des­disse-se ver­go­nho­sa­mente de­cla­rando que «a frase fora ti­rada do con­texto» ou, em re­lação «à Pá­tria», quando ame­açou, em pura in­sa­ni­dade po­lí­tica, que se Por­tugal «fa­lhasse» nos di­tames da troika «tí­nhamos o caldo en­tor­nado».

Se Carlos Mo­edas ti­vesse al­guma di­mensão e pro­du­zisse mais al­guma coisa além das, li­te­ral­mente, fa­nhosas pa­ta­co­adas ne­o­li­be­rais, o caso supra do elogio po­deria, quiçá, me­lindrá-lo.

Ser lou­va­mi­nhado com a mesma fór­mula uti­li­zada em Durão Bar­roso, que tão má conta deu de si «na Eu­ropa», não pa­rece es­ti­mu­lante para um novo can­di­dato ao Olimpo eu­ropeu.

Mas não. Esta tropa – re­fe­rimo-nos aos in­cen­sados e aos ma­no­bra­dores do tu­rí­bulo – toda junta não vale uma prece. Isto para irmos ao en­contro da fa­mosa frase de Hen­rique IV, «Paris vale bem uma missa» (con­ver­tendo-se ao ca­to­li­cismo para unir a França).

Esta ran­chada nem o in­censo ar­dido me­rece.

 



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