O senhor que se segue

Vasco Cardoso

A no­vela em torno da dis­puta in­terna no PS en­ca­minha-se apa­ren­te­mente para o fim. Ao longo destes meses, as­sis­timos a uma ope­ração de grande fô­lego onde se em­pe­nharam os prin­ci­pais ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial. E a co­ber­tura que foi fal­tando às ini­ci­a­tivas, po­si­ções e aná­lises do PCP, numa ati­tude de pro­fundo e de­li­be­rado si­len­ci­a­mento e apa­ga­mento da acção e in­ter­venção po­lí­tica dos co­mu­nistas, foi so­brando para ouvir Costa, Se­guro, os seus apoi­antes e porta-vozes.

Três meses onde se con­firmou que a única pre­o­cu­pação no de­bate in­terno na­quele Par­tido foi a de ocultar res­pon­sa­bi­li­dades pas­sadas e es­conder in­ten­ções fu­turas, tudo se re­su­mindo a uma va­cui­dade de com­pro­missos en­quanto es­tra­tégia para mas­carar aquilo que nas águas pro­fundas da po­lí­tica e dos ne­gó­cios se tem vindo a co­zi­nhar ao longo destes úl­timos 38 anos de po­lí­tica de di­reita e se pre­para para o fu­turo.

En­tre­tanto, de­sen­vol­veram-se duas grandes mis­ti­fi­ca­ções que foram a ân­cora deste fo­lhetim: a farsa das elei­ções para pri­meiro-mi­nistro e a ilusão de que ali es­taria em pre­pa­ração uma al­ter­na­tiva à po­lí­tica deste Go­verno.

Mis­ti­fi­ca­ções que pro­curam levar muito boa gente ao en­gano mas que se des­montam, sempre e quando se con­fronta o PS com o con­creto: das pri­va­ti­za­ções à des­truição de ser­viços pú­blicos; do Tra­tado Or­ça­mental à sub­missão do País ao euro e à União Eu­ro­peia; dos lu­cros dos grupos eco­nó­micos que con­si­deram in­to­cá­veis aos cortes nos sa­lá­rios dos PEC e da troika; dos apoios de mi­lhões à banca aos cortes nas pen­sões e apoios so­ciais.

Não houve, nem há qual­quer apro­xi­mação a uma ideia de rup­tura com a po­lí­tica que nos trouxe à ac­tual si­tu­ação e que está a con­duzir o País para o de­sastre. Antes pelo con­trário, o que estes meses de grande em­pe­nha­mento por parte dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial na co­ber­tura desta dis­puta in­terna no PS de­mons­traram foi um ob­jec­tivo bas­tante mais pro­fundo por parte do ca­pital: o de der­ro­tado este Go­verno, pela luta se­gu­ra­mente, mas também pelas pró­ximas elei­ções (que aliás já de­ve­riam ter sido como temos de­fen­dido), o de ga­rantir o pró­ximo exe­cu­tante da po­lí­tica de di­reita. Ta­refa que Se­guro e Costa de­mons­traram ter todas as cre­den­ciais para a con­cre­tizar. Isto se o povo, claro... o per­mitir.




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