Ensino em estado de Citius

Anabela Fino

Um mês depois do início do ano lectivo a situação nas escolas continua caótica e o desempenho do Ministério da Educação, a começar pelo do titular da pasta, Nuno Crato – que tanto persiste em avaliar os professores –, é o que se pode chamar de autêntico desastre. De erro em erro, de desculpa em desculpa, de promessa em promessa, Crato e sus muchachos vão metendo os pés pelas mãos, dando o dito por não dito, passando responsabilidades para quem estiver mais a jeito, criando novos problemas e sacudindo a água do capote.

Depois de ter remetido para os directores das escolas o ónus da anulação das colocações, Crato, com a pesporrência que o caracteriza, afirmou esta semana que o processo de recolocação de professores «está a meio», garantiu que por estes dias vão chegar às escolas mais 800 professores e disse «esperar» que quando o processo estiver concluído «tenham colocação» os docentes colocados e depois descolocados devido aos erros do Ministério. Sobre a promessa feita na Assembleia da República de que os professores não seriam «prejudicados», até porque isso lesava o interesse «mais importante» dos alunos, nem uma palavra. Sobre as vidas retalhadas de quem saiu do seu nicho de conforto, para usar os termos caros ao Governo, saiu de casa, alugou quarto, arrastou filhos para novas terras e escolas e agora se vê atirado para o desemprego e com despesas acrescidas, nem um pio. «Falaremos sobre isso no fim», diz Crato, com o mesmo despudor com que anunciou em Setembro que o ano lectivo se iniciava com normalidade, e com a mesma falta de vergonha com que um seu secretário de Estado remete para «os tribunais» eventuais pedidos de indemnização de quem se sentir lesado, porventura apostando no estado de Citius reinante nos tribunais.

Enquanto isso, o interesse «mais importante» dos alunos pauta-se por centenas de professores e auxiliares de educação em falta, milhares de crianças e jovens sem aulas, escolas sem cantina, aulas em contentores e outras coisas que tais.

Perante o descalabro, Passos Coelho garante que Crato continuará no Governo e o Presidente da República não encontra motivo para o mais pequeno e leve reparo. Peculiaridades da «normalidade» à portuguesa.




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