Os ferroviários belgas desencadearam na semana passada várias paralisações decididas localmente que levaram ao cancelamento de mais de meio milhar de comboios.
Em protesto contra a reforma ferroviária, os trabalhadores da companhia pública de caminhos-de-ferro belgas (SNCB) organizaram localmente uma série de greves, que causaram fortes perturbações na circulação.
Segundo dados da administração, as greves registadas nos dias 17, 20 e 21, nas regiões da Valónia de La Louvière, Charleroi e Liège, provocaram a suspensão de 551 comboios e mais de 330 horas de atrasos acumulados, que afectaram mais de 160 mil passageiros.
Estas acções «espontâneas», assim designadas por não serem convocadas pelas direcções sindicais, deram pretexto à coligação de direita não só para acusar os sindicatos e o Partido dos Trabalhadores da Bélgica (PTB) de estarem por trás do movimento grevista, mas também para novos ataques ao direito de greve.
Tanto o PTB como os sindicatos rejeitaram as acusações, salientando que a origem do conflito laboral está nas políticas do governo, designadamente no seu «Plano Transporte 2014», cujas consequências são fáceis de prever.
Com efeito, o plano estabelece a eliminação de centenas de comboios, incluindo às horas de ponta, a subida das tarifas e o prolongamento dos trajectos, aumentando o tempo de viagem.
Em simultâneo, o governo belga pretende cortar 663 milhões de euros anuais de subvenções à SNCB, durante os próximos cinco anos, admitindo-se que neste processo sejam extintos cinco mil postos de trabalho, num universo de 35 mil.
Aliás, estas foram as razões, e não qualquer conspiração comunista, que levaram os ferroviários belgas a paralisar 80 por cento do tráfego, durante a greve de 30 de Junho último, dia em que nenhum comboio circulou nas regiões da Valónia e de Bruxelas.
Sanções e intimidação
Face à ampla convergência sindical na contestação às políticas anti-sociais do actual governo e à solidariedade e apoio às formas de luta decididas pelos trabalhadores, a administração da SNCB impôs sanções contra os grevistas, que serão penalizados com a diminuição dos prémios e com repreensões disciplinares severas.
Ao mesmo tempo, a extrema-direita flamenga (N-VA), que integra o governo, já avançou com um novo projecto de lei para alterar a regulamentação do direito de greve. Invocando a necessidade de impedir acções espontâneas, a Nova Aliança Flamenga pretende na prática condicionar ainda mais a possibilidade de os trabalhadores recorrerem a esta forma de luta.
A tudo isto, os sindicatos e as forças progressistas belgas respondem com um calendário de acções para Novembro e Dezembro, que inclui uma manifestação nacional, a 6 de Novembro, greves regionais a 24 de Novembro e 1 de Dezembro, culminando com uma greve geral marcada para 15 de Dezembro.