Com crise do sistema capitalista em pano de fundo

G20 promete mais crescimento

A reu­nião do G20 ter­minou no do­mingo, 16, na Aus­trália, com o anúncio de que po­derá haver um cres­ci­mento adi­ci­onal de 2,1 por cento dos PIB, até 2018, dos in­te­grantes do grupo. Um ob­jec­tivo em que poucos acre­ditam.

G20 quer um sis­tema fi­nan­ceiro mais forte e re­sis­tente

Ao apre­sentar a de­cla­ração final da ci­meira, o pri­meiro-mi­nistro aus­tra­liano Tony Ab­bott afirmou que o mundo será um lugar me­lhor com um cres­ci­mento eco­nó­mico su­pe­rior ao ini­ci­al­mente pre­visto, que era de dois por cento, mas as me­didas anun­ci­adas não pa­recem sus­cep­tí­veis de poder con­tra­riar a de­sa­ce­le­ração e en­fra­que­ci­mento da eco­nomia global, par­ti­cu­lar­mente na Eu­ropa.

A per­sis­tência de ele­vados ín­dices de de­sem­prego, bem como o au­mento da po­pu­lação a viver no li­miar da po­breza e da que já se en­contra mesmo na mi­séria, ca­rac­te­rizam a si­tu­ação de um nú­mero cres­cente de países eu­ro­peus, casos da Grécia, Por­tugal, Es­panha, Itália, entre ou­tros. Esta re­a­li­dade mostra não apenas a fa­lência das po­lí­ticas apli­cadas pela União Eu­ro­peia (sempre com o aplauso do Fundo Mo­ne­tário In­ter­na­ci­onal), mas também a ne­ces­si­dade de me­didas que não se podem ficar, como agora anun­ciado, pelo in­ves­ti­mento em infra-es­tru­turas, a partir da cri­ação de um centro para a sua pro­moção si­tuado em Sydney, ou uma maior re­gu­lação dos mer­cados fi­nan­ceiros.

«Com­bater as de­fi­ci­ên­cias de in­ves­ti­mento e infra-es­tru­tura é cru­cial para elevar o cres­ci­mento, a cri­ação de em­pregos e a pro­du­ti­vi­dade (…). As nossas es­tra­té­gias de cres­ci­mento contêm grandes ini­ci­a­tivas de in­ves­ti­mento, in­cluindo for­ta­lecer o in­ves­ti­mento pú­blico e me­lhorar o nosso clima de in­ves­ti­mento in­terno e o fi­nan­ci­a­mento, o que é es­sen­cial para atrair novos re­cursos do sector pri­vado», re­fere a de­cla­ração.

A re­ceita de sempre

Se­gundo o do­cu­mento, o G20 (com­posto pelas 19 mai­ores eco­no­mias do mundo mais a União Eu­ro­peia) propõe-se criar um sis­tema fi­nan­ceiro mais forte e re­sis­tente, mas de que forma se pre­tende al­terar a ar­qui­tec­tura fi­nan­ceira mun­dial nada se diz. O do­cu­mento também não fala do cep­ti­cismo ge­ne­ra­li­zado quanto às reais pos­si­bi­li­dades de a União Eu­ro­peia con­se­guir chegar em 2017 aos ní­veis de cres­ci­mento eco­nó­mico exis­tentes antes da crise do sis­tema ca­pi­ta­lista re­gis­tada em 2008, mas se se fizer um pa­ra­lelo com o exemplo norte-ame­ri­cano não há mo­tivos para grandes eu­fo­rias. O que se ob­serva nos EUA é de facto uma re­cu­pe­ração da es­pe­cu­lação fi­nan­ceira e não da eco­nomia real, pro­du­tiva, cri­a­dora de em­prego.

De acordo com os es­pe­ci­a­listas, se al­guma pos­si­bi­li­dade existe de atingir os ob­jec­tivos anun­ci­ados, tal as­senta no facto de o G20 in­te­grar os cha­mados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), ac­tu­al­mente as eco­no­mias mais po­me­te­doras.

A de­cla­ração re­fere ainda o «com­pro­misso» de fazer baixar a di­fe­rença de gé­nero no mer­cado de tra­balho, apon­tando como meta ter a tra­ba­lhar mais 100 mi­lhões de mu­lheres até 2025. Do mesmo modo, o G20 diz estar «for­te­mente» com­pro­me­tido em re­duzir o de­sem­prego entre os jo­vens, que as­sume ser «ina­cei­ta­vel­mente alto».

O texto, que de­fende igual­mente a ne­ces­si­dade da es­ta­bi­li­dade do sis­tema fi­nan­ceiro e de ac­ções para um sis­tema in­ter­na­ci­onal de taxas «justo», re­fere ainda que os países do grupo ten­tarão au­mentar a efi­ci­ência ener­gé­tica de forma a atender à ne­ces­si­dade de cres­ci­mento sus­ten­tável e de de­sen­vol­vi­mento. Fi­nal­mente, a de­cla­ração ma­ni­festa apoio a me­didas para fazer face às mu­danças cli­má­ticas que es­tejam de acordo com a úl­tima con­fe­rência da Or­ga­ni­zação das Na­ções Unidas sobre a ma­téria.

 



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