CPPC realizou assembleia e concerto

Dia marcante para a luta pela paz

O Con­certo pela Paz, re­a­li­zado no sá­bado à tarde em Lisboa, foi uma emo­ci­o­nante ma­ni­fes­tação de apego aos va­lores da paz e da so­li­da­ri­e­dade com os povos. Antes, o CPPC re­a­lizou a 25.ª As­sem­bleia da Paz, que de­finiu as me­didas para pros­se­guir o seu re­forço.

A mú­sica foi uma vez mais veí­culo de de­fesa de causas justas

Se a arte sempre foi um veí­culo pri­vi­le­giado de de­núncia da in­jus­tiça e da opressão e de de­fesa de va­lores pro­gres­sistas e ideais justos, a mú­sica é por­ven­tura, entre todas as formas de ex­pressão ar­tís­tica, a mais eficaz neste de­sígnio. São inú­meros os exem­plos de can­tores e con­juntos que, in­ter­pre­tando o sen­ti­mento dos seus povos e in­te­grando-se na sua luta, cri­aram e can­taram ver­da­deiros hinos de li­ber­dade, jus­tiça, in­de­pen­dência e paz. Os por­tu­gueses José Afonso e Adriano Cor­reia de Oli­veira, o chi­leno Victor Jara, o bra­si­leiro Chico Bu­arque e o norte-ame­ri­cano Woody Guthrie são apenas al­guns dos exem­plos mais no­tó­rios desta re­a­li­dade, que en­contra re­pre­sen­tantes em todos e cada um dos países do mundo. Mas a pró­pria cri­ação ar­tís­tica é, em si mesma, um acto de li­ber­dade e de paz, tenha ou não a obra con­creta um cunho as­su­mi­da­mente «po­lí­tico».

Foi com este es­pí­rito que o Con­certo pela Paz, pro­mo­vido pelo CPPC, uniu no palco do Fórum Lisboa ar­tistas e bandas dos mais di­versos es­tilos e com di­fe­rentes per­cursos e pro­ve­ni­ên­cias: do punk rock dos con­sa­grados Peste & Sida aos sons do mundo das jo­vens B'r­bi­cacho; do can­tautor de Abril Sa­muel aos novos ta­lentos Paulo Ri­beiro (acom­pa­nhado por Jorge Moniz) e Du­arte; da gui­tarra por­tu­guesa de Luísa Amaro aos cla­ri­netes das alunas do Con­ser­va­tório d'Artes de Loures; dos sons si­mul­ta­ne­a­mente tra­di­ci­o­nais e mo­dernos de Se­ba­tião An­tunes ou dos Clave de Lua à ino­cência pu­eril da Ofi­cina do Canto.

A uni-los, para além da qua­li­dade da mú­sica, es­teve o pro­fundo apego aos va­lores da paz e a sin­cera so­li­da­ri­e­dade aos povos que en­frentam a cru­el­dade da guerra e das novas e ve­lhas formas de co­lo­ni­a­lismo. Apesar da grande va­ri­e­dade de es­tilos mu­si­cais que pas­saram pelo palco – ou talvez por causa dela –, o Con­certo pela Paz re­sultou num todo har­mo­nioso e emo­ci­o­nante, que agradou ao vasto pú­blico pre­sente.

Pa­la­vras afi­adas

Se a tarde foi fun­da­men­tal­mente de mú­sica, foi-o também de pa­la­vras. Em pri­meiro lugar, dos mú­sicos que, para além das can­tadas (quando as houve), não pou­param nas ou­tras, fa­ladas. E com elas su­bli­nharam o prazer e o or­gulho que sen­tiram em estar ali a fazer o que me­lhor sabem em prol de uma causa justa; va­lo­ri­zaram o em­penho da­queles que todos os dias lutam por uma vida me­lhor, de pro­gresso, jus­tiça so­cial e paz; e apon­taram o dedo acu­sador aos que fazem a guerra e que com ela lu­cram.

Pa­la­vras trou­xeram-nas ainda – para além do actor Tiago Santos, que apre­sentou o es­pec­tá­culo – Luísa Or­ti­goso e Ro­drigo Fran­cisco, que re­cor­reram às pa­la­vras de ou­tros para par­ti­lhar o que lhes ia na alma: a ac­triz citou Edu­ardo Ga­leano, e toda a sua raiva contra os pro­mo­tores das guerras e contra a ocu­pação da Pa­les­tina, que pros­segue e se agrava pe­rante a pas­si­vi­dade das po­tên­cias oci­den­tais; por seu lado, o di­rector da Com­pa­nhia de Te­atro de Al­mada lem­brou Er­nest He­mingway, a sua fir­meza, o seu ina­ba­lável com­pro­misso com a ver­dade e o seu ódio pro­fundo à guerra, que co­nheceu de perto em mais do que uma oca­sião.

Todos não somos de­mais

A pre­si­dente do CPPC, Ilda Fi­guei­redo, na breve sau­dação que pro­feriu na aber­tura do con­certo, agra­deceu aos pre­sentes – ar­tistas e pú­blico – a sua par­ti­ci­pação, certa de que ela re­pre­senta o apego à paz, a pre­o­cu­pação com as ame­aças que sobre ela pairam em muitas re­giões do mundo e a in­dig­nação «face às guerras de agressão» que se su­cedem em di­versos lo­cais do globo. Após re­a­firmar a so­li­da­ri­e­dade com a luta dos povos da Pa­les­tina e do Sara Oci­dental, contra a ocu­pação dos seus países; de Cuba, contra o blo­queio e pela li­ber­tação dos seus he­róis presos nos EUA; do Médio Ori­ente e de África, que so­frem cons­tantes guerras de agressão; a di­ri­gente do CPPC de­fendeu a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, que con­tinua a con­sa­grar o res­peito pelo di­reito dos povos, a igual­dade entre os es­tados, a so­lução pa­cí­fica dos con­flitos, a não in­ge­rência e a co­o­pe­ração vi­sando a «eman­ci­pação e o pro­gresso da hu­ma­ni­dade».

Ilda Fi­guei­redo su­bli­nhou ainda a ne­ces­sária luta em de­fesa da so­be­rania e da in­de­pen­dência de Por­tugal e pela dis­so­lução da NATO. A ter­minar, sa­li­entou que «para de­fender a paz, todos não somos de­mais», num apelo ex­plí­cito ao re­forço do mo­vi­mento da paz, cor­po­ri­zado, em Por­tugal, pelo CPPC.

Na me­mória de todos quantos ti­veram o pri­vi­légio de par­ti­cipar no Con­certo pela Paz fi­cará a be­leza das can­ções e aquela in­qui­e­tação que leva à acção em de­fesa das mais ge­ne­rosas causas que a hu­ma­ni­dade pro­duziu. A ecoar ficam também as pa­la­vras de Ma­nuel da Fon­seca can­tadas por Adriano Cor­reia de Oli­veira, que Sa­muel tão bem in­ter­pretou no palco do Fórum Lisboa: «Dá cada dia ao homem novo alento/ De con­quistar o bem que lhe é ne­gado/ Dá a con­quista um puro sen­ti­mento/ As balas deram sangue der­ra­mado.»


De­fender a paz, ga­rantir o fu­turo

No sá­bado de manhã, antes do con­certo, re­a­lizou-se a 25.ª As­sem­bleia da Paz, que teve como lema «De­fender a Paz, Ga­rantir o Fu­turo» e contou com a pre­sença de de­zenas de ade­rentes do CPPC de vá­rios pontos do País. Do de­bate so­bres­saiu so­bre­tudo o re­forço do Con­selho da Paz e a sua dis­se­mi­nação pelo ter­ri­tório na­ci­onal.

Esta re­a­li­dade ficou pa­tente nas in­ter­ven­ções dos re­pre­sen­tantes dos di­versos nú­cleos do CPPC em fun­ci­o­na­mento, que to­maram da pa­lavra para in­formar a as­sem­bleia da ac­ti­vi­dade re­a­li­zada e dos planos para o fu­turo mais pró­ximo. De Coimbra, do Porto, de Se­túbal, do Seixal, de Beja e de Évora vi­eram no­tí­cias de novas ade­sões e de uma ac­ti­vi­dade mais re­gular em de­fesa da paz, da so­li­da­ri­e­dade e da co­o­pe­ração.

Desde a úl­tima as­sem­bleia, re­a­li­zada no final do ano pas­sado, o CPPC de­sen­volveu uma in­tensa ac­ti­vi­dade em torno da de­núncia da guerra no Médio Ori­ente, na Ucrânia ou em África, da exi­gência da dis­so­lução da NATO e da so­li­da­ri­e­dade com a luta dos povos. Em me­ados deste ano, lem­brou-se, vá­rias ac­ções de rua ex­pres­saram o re­púdio por mais um mas­sacre per­pe­trado por Is­rael sobre a po­pu­lação da Faixa de Gaza e exi­giram o fim da ocu­pação e a cri­ação do Es­tado da Pa­les­tina in­de­pen­dente, so­be­rano e viável.

As ex­po­si­ções ela­bo­radas pelo CPPC em par­ceria com di­versos mu­ni­cí­pios, in­ti­tu­ladas «Cons­truir a Paz com os Va­lores de Abril» e «100 anos da Grande Guerra e a Luta pela Paz», e o bo­letim «No­tí­cias da Paz», foram im­por­tantes ins­tru­mentos de alar­ga­mento do pres­tígio e in­fluência do CPPC.

Para o fu­turo, a as­sem­bleia aprovou um plano de acção com o qual se visa a con­so­li­dação e alar­ga­mento dos avanços al­can­çados nos úl­timos anos, quer no que res­peita ao re­forço or­gâ­nico quer no alar­ga­mento dos con­tactos do CPPC com di­versas es­tru­turas e en­ti­dades. A luta contra o mi­li­ta­rismo e a guerra e a so­li­da­ri­e­dade com os povos ví­timas do im­pe­ri­a­lismo con­ti­nuam a ser as ques­tões fun­da­men­tais.

 



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