«Muitas flores e poucos pães»

Vi­sões dis­tintas sobre o rumo da União Eu­ro­peia e cor­res­pon­dentes pers­pec­tivas para 2015 es­ti­veram em evi­dência sexta-feira, 12, no de­bate par­la­mentar pre­pa­ra­tório do Con­selho Eu­ropeu que se re­a­liza hoje e amanhã em Bru­xelas. Ao dis­curso da mai­oria go­ver­na­mental sobre a ale­gada exis­tência de uma «nova am­bição» dentro da Co­missão Eu­ro­peia para «criar em­prego e cres­ci­mento», o PCP con­trapôs a con­vicção – ba­seada em factos con­cretos re­co­nhe­cidos pela pró­pria Co­missão e por ou­tras en­ti­dades eu­ro­peias – de que não há ra­zões para ne­nhuma es­pécie de op­ti­mismo e que no ho­ri­zonte o que se vis­lumbra são mesmo nu­vens «ne­gras».

«Cres­ci­mento ané­mico, risco de de­flação e per­sis­tência de muito ele­vados ní­veis de de­sem­prego são os três traços da evo­lução que se pode re­tirar da lei­tura dos do­cu­mentos a que ti­vemos acesso», su­ma­riou Je­ró­nimo de Sousa, alu­dindo ao con­teúdo do re­la­tório já pu­bli­cado da Co­missão sobre o cres­ci­mento anual e às reu­niões do Eu­ro­grupo e do Con­selho dos As­suntos Eco­nó­micos e Fi­nan­ceiros.

Ce­nário som­brio que a União Eu­ro­peia pro­cura iludir com re­curso a mais uma dose de «pro­pa­ganda», em que aliás «é pe­rita», se­gundo o líder co­mu­nista. «Tentar tapar o sol com a pe­neira, neste caso chuva da grossa», é o que faz a Co­missão Eu­ro­peia com a «pro­pa­ganda do pa­cote de in­ves­ti­mento do se­nhor Juncker», acusou o Se­cre­tário-geral do PCP.

Co­nhe­cido como «plano Juncker», esse anun­ciado Fundo Eu­ropeu de In­ves­ti­mento Es­tra­té­gico pre­tende mo­bi­lizar 315 mil mi­lhões de euros de in­ves­ti­mentos no pró­ximo triénio para o con­junto da União Eu­ro­peia, con­tando para o efeito com uma do­tação ini­cial de 21 mil mi­lhões de euros, verba que Bru­xelas ad­mite poder vir a ser mul­ti­pli­cada até 15 vezes, com con­tri­butos pú­blicos e pri­vados.

É o «mi­lagre da mul­ti­pli­cação dos pães», iro­nizou Je­ró­nimo de Sousa, as­si­na­lando que «além de não ser boa, a ideia nem é iné­dita». É que, lem­brou, «já Durão Bar­roso tinha feito uma coisa pa­re­cida em 2012 com o cha­mado pacto para o cres­ci­mento, um au­tên­tico flop».

Daí que tenha con­cluído que este exer­cício, mais apro­pri­a­da­mente, «nem é bem o mi­lagre dos pães», mas o das «rosas» da Rainha Santa Isabel, quando esta afirmou em res­posta a D. Dinis: «são rosas, se­nhor são rosas».

«Adapta-se bem porque o mais certo é os 21 mil mi­lhões de euros de­sa­pa­re­cerem nos co­fres de grandes grupos eco­nó­micos e também porque a rosa não deixa de ser sim­bó­lica em mais um exemplo de pro­pa­ganda apoiada pelos so­ci­a­listas eu­ro­peus», re­matou o Se­cre­tário-geral do PCP.

Alvo de dura crí­tica de Je­ró­nimo de Sousa foi ainda a acér­rima de­fesa feita por PSD e PS a Jean Claude Juncker, para que este «pas­sasse pelos pingos da chuva no Par­la­mento Eu­ropeu», aquando da sua eleição, abrindo assim campo à ex­trema-di­reita para «ma­ni­pular com o ha­bi­tual po­pu­lismo» o es­cân­dalo dos fa­vores fis­cais no Lu­xem­burgo com 343 mul­ti­na­ci­o­nais, no tempo em que aquele foi pri­meiro-mi­nistro do Grão-Du­cado.

 



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