Defesa Nacional e Forças Armadas

O caso dos submarinos

Rui Fernandes

Nem tudo o que pode ser con­tado conta,
e nem tudo o que conta pode ser con­tado.

Al­bert Eins­tein

 

Como é sa­bido, o pro­cesso dos sub­ma­rinos foi ju­di­ci­al­mente ar­qui­vado em Por­tugal, de­pois de ter le­vado a con­de­na­ções na Ale­manha e na Grécia. O des­pacho de ar­qui­va­mento sa­li­enta que «muito se es­tranha que as au­to­ri­dades alemãs nunca te­nham fa­cul­tado a do­cu­men­tação que lhes foi ro­gada e que era in­dis­pen­sável». Esta foi, entre muitas ou­tras que o des­pacho su­blinha, uma das di­fi­cul­dades com que a Jus­tiça por­tu­guesa teve de se con­frontar para o pros­se­gui­mento e apu­ra­mento cabal da ver­dade.

O CDS-PP não perdeu tempo em vir vender a ideia de que, ao longo do tempo, mais não houve do que um ataque a Portas e ao CDS que o ar­qui­va­mento con­fir­maria. Ora, o que o ar­qui­va­mento re­al­mente con­firma é que, por vá­rias ra­zões, não é pos­sível pros­se­guir no apu­ra­mento da ver­dade e que, re­la­ti­va­mente a ou­tros as­pectos co­nexos, o seu even­tual apu­ra­mento já não teria efeitos.

Claro que para o CDS é mais in­te­res­sante e van­ta­joso re­sumir o pro­blema à res­pon­sa­bi­li­dade ou não res­pon­sa­bi­li­dade cri­minal de Portas, exi­mindo-se da res­pon­sa­bi­li­dade po­lí­tica e das suas con­sequên­cias para o País. E estas existem!

Bas­tará olhar para o vasto con­junto de pe­ri­pé­cias, ne­go­ci­a­ções, re­ne­go­ci­a­ções, ame­aças de multas e pro­cessos contra o Es­tado por­tu­guês, etc., que tem en­vol­vido os pro­gramas de aqui­sição cons­tantes na Lei de Pro­gra­mação Mi­litar (LPM). Bas­tará igual­mente olhar para os en­cargos para o País de­cor­rentes do tipo de con­tratos ce­le­brados, como o dos sub­ma­rinos, em que a com­po­nente ma­nu­tenção ficou nas mãos alemãs, cons­ti­tuindo mais um sor­ve­douro de di­nheiros pú­blicos. Bas­tará olhar, por fim, para o grau de cum­pri­mento da LPM entre o que es­tava pre­visto e aquela que é a re­a­li­dade, como por exemplo os pro­jectos dos Pandur, dos he­li­cóp­teros NH90, dos he­li­cóp­teros li­geiros para o Exér­cito e a Força Aérea, de mo­der­ni­zação dos aviões C130, de subs­ti­tuição do ar­ma­mento li­geiro das Forças Ar­madas, mas também dos Na­vios de Pa­trulha Oceâ­nica e de Com­bate à Po­luição e as Lan­chas de Fis­ca­li­zação Cos­teira, a cons­truir nos es­ta­leiros de Viana do Cas­telo.

Pro­cesso este que co­meçou, é bom re­cordar, no tempo do go­verno PS/​Gu­terres, já que foi aí que co­meçou a cons­trução desta LPM que teve o seu de­sen­vol­vi­mento no go­verno PSD/​Durão Bar­roso, tendo Portas como mi­nistro da De­fesa.

O PCP votou contra esta LPM de­vido aos seus custos in­com­por­tá­veis e às pri­o­ri­dades e ob­jec­tivos então de­fi­nidas pelo PS, PSD e CDS-PP e que pri­vi­le­gi­avam a par­ti­ci­pação em mis­sões ex­ternas. E, não só es­teve contra – o que, aliás, não o im­pediu de votar fa­vo­ra­vel­mente di­versos pro­gramas como o da cons­trução dos na­vios nos es­ta­leiros de Viana – como ao longo dos anos foi aler­tando, através de po­si­ções pú­blicas, para factos que iam ocor­rendo e que in­di­ci­avam que os pro­cessos não es­tavam a correr com a li­sura que se im­punha. Claro está que, também aqui, im­perou um não ino­cente si­lêncio.

Che­gados aqui, im­porta su­bli­nhar que, nas pre­missas de re­flexão do PCP sobre a ma­téria do re­e­qui­pa­mento, a questão cen­tral é o da de­fi­nição das ne­ces­si­dades na­ci­o­nais e pri­o­ri­dades re­la­tivas que se co­locam. Nunca o PCP aceitou en­trar na linha po­pu­lista da mera re­cusa de de­ter­mi­nado tipo de re­e­qui­pa­mento por razão do seu custo.

Pelo que foi re­fe­rido, ficam mais ní­tidas as ra­zões pelas quais o CDS pro­cura varrer para de­baixo do ta­pete as suas res­pon­sa­bi­li­dades, mas também a razão pela qual ao longo dos anos reinou o si­lêncio por parte do PSD e do PS.




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