Sanções com bumerangue

Pedro Campos

Tudo in­dica que os EUA nada apren­deram com as ex­pe­ri­ên­cias de­sas­trosas na Líbia, no Iraque e no Afe­ga­nistão, só para men­ci­onar al­gumas «aven­turas» re­centes, e pa­recem apostar num con­flito com a Rússia e de pas­sagem ar­rastar a UE para o mesmo. Con­tudo, a Rússia de hoje não é a mesma de Iéltsin ou Gor­bat­chov. Se­gundo Paul Craig Ro­berts, ex-sub­se­cre­tário do Te­souro e ex-as­sessor de Re­agan, anos de men­tiras me­teram a nação em longas guerras de des­truição que estão «a levar o país para um con­flito im­pos­sível de ga­nhar». E acres­centa que é pre­ciso mudar de rumo mas é longa a lista de obs­tá­culos, entre eles a «es­tu­pidez, os egos, os in­te­resses pes­soais, men­tiras e pro­pa­ganda». Por essas ra­zões, chegou «à con­clusão de que a cor­rupção é tão do­mi­nante nos EUA (...) que a mu­dança po­si­tiva não pode provir de fontes in­ternas (...) Se chegar, virá do co­lapso eco­nó­mico que re­sulta da pros­ti­tuição da po­lí­tica pú­blica posta ao ser­viço de um grupo de elites».

Carl Se­velda, exe­cu­tivo do Raif­fei­sen­bank In­ter­na­ci­onal, ter­ceiro banco da Áus­tria, acha que a Eu­ropa de­veria avançar, nas suas re­la­ções com a Rússia, pela via da apro­xi­mação e não do con­flito.

Não é a pri­meira vez que o banco assim se ma­ni­festa. Re­cen­te­mente, foi o seu pre­si­dente quem afirmou que as san­ções contra a Rússia afectam não só este país, mas es­pe­ci­al­mente a União Eu­ro­peia.

Se­gundo o portal de Russia Today, Se­velda disse ainda: «Es­pero a re­so­lução do con­flito com a Rússia. Mas, des­gra­ça­da­mente, os EUA, ao que pa­rece, vão lutar contra Putin até ao úl­timo.... eu­ropeu!»

No seu sonho louco por manter a he­ge­monia sobre o pla­neta, Washington impõe san­ções eco­nó­micas à Rússia como se esta fosse uma re­pú­blica ba­na­neira. Quem paga as con­sequên­cias deste «sonho ame­ri­cano»?

Os EUA de­cidem
a UE paga

A 18 de De­zembro, em plena eu­foria das san­cões, Fe­de­rica Moghe­rini, chefe da di­plo­macia da UE, co­men­tava que a ac­tual si­tu­ação da Rússia era «uma má no­tícia, es­pe­ci­al­mente para os ci­da­dãos russos (...) mas também o é para a Ucrania e para a Eu­ropa e para todo o mundo». Nesse mesmo dia Alex Stub, pri­meiro-mi­nistro da No­ruega, ad­mitia que «a re­cessão eco­nó­mica na Rússia é uma má no­tícia para a eco­nomia mun­dial». Na ci­meira eu­ro­peia, o seu ho­mó­logo ita­liano, Matteo Rizzi dei­xava cair que as «novas san­ções contra a Rússia não eram com­ple­ta­mente ne­ces­sá­rias».

No dia 20, o di­rector da Henker (Ale­manha) dizia que o país podia perder 100 mil postos de tra­balho e que era «im­por­tante buscar um diá­logo com Mos­covo».

Logo a se­guir ao Natal, o francês Fran­çois Hol­lande e o di­na­marquês Martin Li­de­gaard, de uma ma­neira ou de outra, ma­ni­fes­taram-se contra a po­lí­tica de san­ções e que não havia ra­zões para as en­du­recer.

E até o «herói» das san­ções, à re­velia do seu Con­gresso, afir­mava que «impor mais san­ções à Rússia (era) um erro de cál­culo» e que isso não mu­daria a po­sição de Mos­covo sobre a Ucrânia. É na­tural que assim pense – mas uma coisa é o que pensa e outra é o que faz ou é obri­gado a fazer— já que neste ir e vir de san­ções as perdas para a UE andam pelos 18 mil mi­lhões de dó­lares e... bu­si­ness is bu­si­ness!

Por outro lado o Wall Street Journal já tinha aler­tado que as san­ções anti-russas afec­tavam as em­presas dos EUA e, ob­vi­a­mente, esses in­te­resses não podem ser be­lis­cados! E desde o Ins­ti­tuto Paul Ron, Da­niel McA­dams, afir­mava: «O pre­si­dente (Obama) re­co­nhece que esta tá­tica (a di­plo­macia co­er­civa) não fun­ciona (...) pa­rece que ao tentar de­bi­litar a eco­nomia russa, os EUA cairão ra­pi­da­mente na ban­car­rota».

O ataque à eco­nomia da Rússia feriu o rublo, que perdeu parte do seu valor. Mas um urso fe­rido não está li­qui­dado e pode res­ponder. O portal In­Serbia in­forma que nos pri­meiros dias de De­zembro, quando se deu a queda do rublo, correu o rumor – os media sempre tão dis­postos a ajudar o im­pe­ri­a­lismo! – de que a Rússia não tinha fundos, e os preços das ac­ções das com­pa­nhias ener­gé­ticas russas en­traram em queda livre. Su­cede que muitas delas ti­nham grande par­ti­ci­pação ac­ci­o­nista de ca­pi­tais oci­den­tais. Putin sorriu e quando o preço es­tava quase de rastos en­trou no mer­cado e re­cu­perou, di­gamos que por tuta e meia, a maior parte dos ac­tivos que es­tavam nas mãos de in­ves­ti­dores de EUA e da UE. Em poucos dias a Rússia ob­teve ga­nhos por 20 mil mi­lhões de dó­lares e re­cu­perou 30 por cento dos seus ac­tivos de pe­tróleo e gás. Jo­gada de xa­drez!




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