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Anabela Fino

O líder par­la­mentar do PSD, Luís Mon­te­negro, que há cerca de um ano não teve qual­quer pejo em afirmar que «a vida das pes­soas está pior, mas o País está muito me­lhor», apro­veitou agora a en­tre­vista que deu ao Diário de No­tí­cias, no final de Fe­ve­reiro, para voltar ao local do crime, ou como ele pró­prio afirma «ac­tu­a­lizar essa frase». Diz Mon­te­negro, sem um pingo de ver­gonha, que hoje o País «está muito me­lhor e a vida quo­ti­diana das pes­soas tem me­lho­rado sig­ni­fi­ca­ti­va­mente», ga­ran­tindo que o de­sem­prego en­colhe e o em­prego es­tica, a eco­nomia cresce e o poder de compra au­menta, o sa­lário mí­nimo (hélas!) foi ac­tu­a­li­zado, as pen­sões flo­rescem, etc., etc., etc.

A ac­tu­a­li­zação não in­cluiu – por que será? – o re­cente re­la­tório da Co­missão Eu­ro­peia sobre o efeitos dos cortes nos apoios so­ciais, que afec­taram «des­pro­por­ci­o­nal­mente os mais po­bres» e as «cri­anças com menos de 10 anos». Nem os que hoje não dis­põem de qual­quer apoio so­cial, ou tão pouco o facto de entre 2012 e 2013 ter ha­vido um au­mento de 210 mil pes­soas (27,4 por cento da po­pu­lação por­tu­guesa) em risco de po­breza e ex­clusão so­cial. Ou ainda que o nú­mero de tra­ba­lha­dores por­tu­gueses a au­ferir o sa­lário mí­nimo quase que tri­plicou em re­lação a 2005 (passou de cinco por cento para 12,9). Ou tão pouco que me­tade das pes­soas con­si­de­radas po­bres tem um ren­di­mento 30,3 por cento in­fe­rior ao li­miar de po­breza, o que sig­ni­fica menos de 286 euros men­sais.

Na elás­tica con­ta­bi­li­dade de Mon­te­negro também não en­traram os dados do INE re­fe­rindo que a taxa ofi­cial de po­breza está nos 19,5 por cento (cerca de 1,95 mi­lhões de pes­soas), nú­mero en­ga­nador como o pró­prio INE ad­verte, pois tendo bai­xado o ren­di­mento médio na­ci­onal há quem tenha dei­xado de ser con­si­de­rado pobre apesar de con­ti­nuar a ter a mesma (falta) de ren­di­mentos. Cor­ri­gindo esse efeito, o re­sul­tado é ater­rador: o total de pes­soas em risco salta para 25,9 por cento, mais oito pontos per­cen­tuais re­la­ti­va­mente a 2009.

Mon­te­negro ac­tu­a­liza o dis­curso con­ven­cido de que assim es­conde a re­a­li­dade de um País em que mais de um quarto da po­pu­lação vive na po­breza. É caso para dizer que está de­sac­tu­a­li­zado. A de­ma­gogia não pode en­ganar a fome, mas não enche a bar­riga. E mais cedo ou mais tarde a fome ali­menta a re­volta.



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