O Futuro

João Frazão

Talvez im­buído da­quela con­signa de má me­mória de que uma men­tira mil vezes re­pe­tida se tor­naria ver­dade, o Go­verno des­dobra-se na ten­ta­tiva de dar do país a imagem da Fénix que, de­pois de quase de­sa­pa­recer nas cinzas, re­nasce ainda mais bela que antes, mos­trando que o sa­cri­fício valeu a pena, pe­rante o brilho da ave re­nas­cida.

Não passa um dia sem que algum go­ver­nante de ser­viço in­clua no seu dis­curso essa te­oria, e agora até a Caixa Geral de De­pó­sitos en­trou na con­tenda, com anún­cios pu­bli­ci­tá­rios nas rá­dios e nas te­le­vi­sões.

Na cam­panha pu­bli­ci­tária, um per­so­nagem, o «Pas­sado», pede a outro per­so­nagem, o «Fu­turo», para re­gressar ao nosso país, porque o pior já teria pas­sado.

In­ti­tula-se esta cam­panha, «O fu­turo está de volta».

Ora nós co­me­çámos a pensar sobre o que é que o Fu­turo vem en­con­trar nesta sua re­en­trada triunfal no nosso País. O que o Fu­turo en­contra são os cerca de um mi­lhão e du­zentos mil de­sem­pre­gados, sem quais­quer ex­pec­ta­tivas de fu­turo e os mais de 300mil jo­vens que ti­veram que emi­grar.

E os tra­ba­lha­dores, os re­for­mados e pen­si­o­nistas com menos ren­di­mentos e com uma carga de im­postos in­su­por­tável, e as po­pu­la­ções com menos apoios so­ciais e com mi­lhares de pes­soas que so­bre­vivem à custa da ca­ri­dade.

E en­con­trará os ser­viços pú­blicos e as fun­ções so­ciais do Es­tado, na Saúde, na Edu­cação, na Se­gu­rança So­cial, mais de­gra­dados.

O Fu­turo, se não andar muito dis­traído, dará de caras com um país mais pobre e mais en­di­vi­dado. Com um país mer­gu­lhado no lo­daçal dos es­cân­dalos do BES, do BPN, do BPP, da Tec­no­forma, do Pri­meiro Mi­nistro que não sabia que tinha de pagar à Se­gu­rança So­cial, da cor­rupção e do com­pa­drio.

E se quiser olhar para o pró­ximo fu­turo verá que após vender os anéis, o Go­verno está já a vender os dedos, com a TAP, o Metro, a Carris, a CP Carga e a EMEF na fila das em­presas a pri­va­tizar, num país com a sua so­be­rania li­mi­tada e sem ca­pa­ci­dade de de­cisão au­tó­noma sobre o que é me­lhor para o seu de­sen­vol­vi­mento e o seu pro­gresso!

A Caixa Geral de De­pó­sitos mandou fazer esta cam­panha de pu­bli­ci­dade, que é paga com o di­nheiro de todos nós.

Não deve ter sido o Go­verno que en­co­mendou esta pa­tranha! Se não teve nada a ver com a lista VIP de Con­tri­buintes, com o BES, com o bu­raco do CI­TIUS na Jus­tiça, ou com a tra­pa­lhada que foi a co­lo­cação de pro­fes­sores, o mais certo é não fazer ideia do que se passou aqui.

O que temos a cer­teza é que é ur­gente correr com este Go­verno para ga­ran­tirmos um Por­tugal com Fu­turo!




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