Regimes de excepção nos dados fiscais
no debate quinzenal

Não há responsabilidades políticas?

As in­for­ma­ções sobre o acesso a dados fis­cais dos ci­da­dãos, e em par­ti­cular a de­li­be­ração da Co­missão Na­ci­onal de Pro­tecção de Dados (CNPD), dão conta da exis­tência de um pro­blema cuja gra­vi­dade ul­tra­passa em muito o pro­blema da exis­tência de qual­quer lista VIP.

Para Je­ró­nimo de Sousa, que con­frontou Passos Co­elho com o caso no de­bate quin­zenal, o que agora se con­firma é que está criado um sis­tema de dados fis­cais que não res­peita as re­gras de pro­tecção de dados pes­soais, que per­mite que as em­presas pri­vadas te­nham acesso aos dados fis­cais dos con­tri­buintes e, como se não bas­tasse, que foi ar­qui­tec­tado um re­gime de ex­cepção con­fe­rindo a um con­junto de ci­da­dãos a pro­tecção de dados que é ne­gada a todos os ou­tros por­tu­gueses e que in­clui, em cir­cuns­tân­cias muito du­vi­dosas, o pró­prio se­cre­tário de Es­tado dos As­suntos Fis­cais.

Para o PCP, lem­brou Je­ró­nimo de Sousa, a «pro­tecção de dados fis­cais é um di­reito de todos os ci­da­dãos, não uma prer­ro­ga­tiva de ne­nhum con­junto de per­so­na­li­dades VIP, e não é acei­tável a cri­ação de re­gimes de pri­vi­légio».

O pro­blema que está co­lo­cado é assim o de saber quais serão as con­sequên­cias de tudo isto, tendo em conta que os dados fis­cais dos por­tu­gueses estão à mercê de em­presas pri­vadas, que as re­gras le­gais de pri­va­ci­dade dos dados não são res­pei­tadas, que foi criado em Ou­tubro do ano pas­sado esse re­gime de ex­cepção com uma lista VIP.

E não sos­sega a afir­mação dos dois res­pon­sá­veis da Au­to­ri­dade Tri­bu­tária (AT) de que «fi­zeram tudo sem o co­nhe­ci­mento do se­cre­tário de Es­tado», afirmou o líder co­mu­nista, que, pe­rante a exis­tência de «in­dí­cios de crime» apon­tada pela CNPD, in­quiriu, a pro­pó­sito, se acaso tudo se re­solve com a de­missão de res­pon­sá­veis téc­nicos, se «não há res­pon­sa­bi­li­dades po­lí­ticas» de quem tu­tela o Mi­nis­tério das Fi­nanças e a AT.

Porque, anotou, é já a «cre­di­bi­li­dade do pró­prio Go­verno que está em causa».

Na res­posta, Passos Co­elho, ad­mitiu ser «grave» e um «pro­blema geral» o acesso a in­for­mação fiscal de qual­quer ci­dadão por parte de em­presas pri­vadas, re­co­nhe­cendo como igual­mente grave a exis­tência de «um filtro ou de uma lista» de per­so­na­li­dades.

E as­se­verou que o Go­verno «não deu ne­nhuma ins­trução, ne­nhuma ori­en­tação, um qual­quer con­forto que fosse a este tipo de pro­ce­di­mentos».

Já sobre as res­pon­sa­bi­li­dades po­lí­ticas, de­pois de afirmar sempre ter achado que as pes­soas as devem as­sumir, es­cla­receu con­tudo que a sua forma de pro­ceder não é a de «pe­rante um pro­blema, de­mitir al­guém».

Adi­antou ainda que o Go­verno não dei­xará de ac­tuar, assim que tiver na sua posse o re­la­tório que a Ins­pecção Geral de Fi­nanças tem em curso. Passos Co­elho não es­pe­ci­ficou to­davia ne­nhuma me­dida que a gra­vi­dade de uma si­tu­ação como esta – de­vassa da si­tu­ação fiscal dos ci­da­dãos para fins co­mer­ciais por parte de em­presas pri­vadas – exi­giria desde já.

O chefe do Go­verno de­fendeu por fim a ne­ces­si­dade de se «pre­servar a cre­di­bi­li­dade da AT», ar­gu­men­tando ser esta «es­sen­cial a um País que se diz mo­derno, de­sen­vol­vido e quer su­portar um Es­tado so­cial avan­çado».

«O pro­blema não está no pres­tígio da AT. O pro­blema está no pres­tígio da mi­nistra das Fi­nanças e do se­cre­tário de Es­tado», ri­postou Je­ró­nimo de Sousa, ob­ser­vando que é essa «falta de cre­di­bi­li­dade que cons­titui a maior ameaça ao pres­tígio» do fisco.

 

 



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