Ilegalidades no sistema financeiro

Só o controlo público põe travão

Não é com mu­danças cos­mé­ticas no sis­tema de su­per­visão e re­gu­lação que se re­solve o pro­blema dos des­mandos da banca, que de­sem­bo­caram em su­ces­sivos es­cân­dalos en­vol­vendo bancos pri­vados como o BPN, BPP, BCP, BANIF e BES, acu­sados de prá­ticas e ope­ra­ções de ma­ni­pu­lação de dados e contas, fuga e bran­que­a­mento de ca­pi­tais, es­pe­cu­lação e trá­fico de in­fluên­cias.

«O pro­blema não está em mais ou menos su­per­visão ou no mo­delo de de­sig­nação do Go­ver­nador do Banco de Por­tugal, mas sim no facto de o sector ban­cário na­ci­onal ter sido en­tregue aos grandes grupos eco­nó­micos pri­vados, que o uti­lizam como ala­vanca para a con­cen­tração e cen­tra­li­zação do ca­pital», sus­tentou Paulo Sá, de­fen­dendo que o País o que pre­cisa mesmo é de ter as ac­ti­vi­dades fi­nan­ceiras sob con­trolo e do­mínio pú­blicos.

O de­pu­tado co­mu­nista fa­lava no de­bate de um pro­jecto de lei do PS sobre um novo mo­delo de de­sig­nação do Go­ver­nador do Banco de Por­tugal, que prevê uma au­dição prévia pelo Par­la­mento, o qual veio a ser apro­vado com os votos fa­vo­rá­veis da ban­cada pro­po­nente e a abs­tenção de todas as res­tantes.

Para o PCP, é uma evi­dência que esta al­te­ração le­gis­la­tiva – a exemplo de ou­tras re­a­li­zadas nos úl­timos anos – não re­solve qual­quer pro­blema do sis­tema fi­nan­ceiro e da su­per­visão, nem re­força a in­de­pen­dência do Go­ver­nador e do Banco de Por­tugal. O que lhe está sub­ja­cente, tendo em conta a no­me­ação do novo go­ver­nador do BdP que terá de ocorrer antes das pró­ximas le­gis­la­tivas, ob­servou Paulo Sá, é a «dis­puta entre PS e PSD pela cap­tura do poder de no­me­ação» da­quele cargo e dos de­mais mem­bros do con­selho de ad­mi­nis­tração.

Mas a questão de fundo – e é aí que re­side a gé­nese do pro­blema, no en­tender do PCP – está nos «pro­cessos de re­cons­ti­tuição dos grandes grupos eco­nó­micos pri­vados, na fi­nan­cei­ri­zação da eco­nomia, na po­lí­tica de pro­mis­cui­dade e su­bor­di­nação do poder po­lí­tico ao poder eco­nó­mico e na cum­pli­ci­dade, pas­si­vi­dade e im­po­tência de re­gu­la­dores, su­per­vi­sores, au­di­tores e poder po­lí­tico».

Isto no plano na­ci­onal, porque, à es­cala pla­ne­tária, os fac­tores ex­pli­ca­tivos en­con­tram-se no pro­cesso de glo­ba­li­zação fi­nan­ceira das úl­timas dé­cadas, as­sente na «des­re­gu­la­men­tação dos mer­cados fi­nan­ceiros e no des­man­te­la­mento de es­tru­turas e me­ca­nismos de re­gu­lação e de con­trolo».

E assim sendo, a livre cir­cu­lação de ca­pi­tais e o cres­ci­mento da ac­ti­vi­dade es­pe­cu­la­tiva, des­li­gada da eco­nomia real e das ac­ti­vi­dades pro­du­tivas, como anotou Paulo Sá, só podia dar no que deu: numa su­cessão de crises fi­nan­ceiras, com des­taque para a de 2007, com as res­pec­tivas fac­turas para salvar a banca a serem todas en­dos­sadas aos povos.




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