Na morte do camarada
Não é preciso ser sábio, nem invulgarmente perspicaz, nem especialmente avisado, para saber que a comunicação social está longe de nos informar para que claramente saibamos do que de mais importante vai acontecendo por esse grande, grande, grande mundo. Não é que ela, a comunicação social, seja feia, porca e má, para usar aqui os qualificativos que faziam o título de um já antigo filme: é que tem os seus interesses, naturalmente; tem os seus patrões, coitada; tem os seus vícios, a infeliz. Mas também infelizes e talvez viciados seremos nós se não nos dermos conta do enorme pedaço de informação que todos os dias nos é negado pelos media e se, após sabermos dessa falta, não conseguirmos remediá-la. O que não é fácil, talvez sobretudo para os televisiodependentes (com pedido de perdão pelo neologismo insustentável), que somos quase todos nós, até os que julgam não o ser, pois o ecrã do televisor tem um tal poder de atracção e condicionamento que da sua influência nem se salvam os que eventualmente o desprezem. E é nesta situação que se revela preciosa a ajuda de um amigo, de um camarada, que se aplique muito a sério e com muito trabalho a compensar-nos do que todos os dias nos falta porque é negado, cortado, escondido, pela tal comunicação social que, coitada, tem os seus interesses, os seus patrões, os seus vícios. Breve rol este a que sem mentir podemos acrescentar outra dimensão mais grave: os seus crimes. Salvo as honrosas excepções que convém referir porque é justo e também porque é prudente.
Os bons «snipers»
Ora, acontece haver quem tenha decidido aplicar-se à tarefa difícil, trabalhosa, utilíssima, de distribuir entre amigos ou camaradas, dia após dia, algumas das informações quase sempre de grande importância que os inúmeros censores, invisíveis mas eficacíssimos, impedem que cheguem até nós pelas vias normais. Sabe-se que não apenas aqui, nesta nesga de terra à beira do Atlântico, mas em toda a Europa telecomandada em matéria comunicacional por ordens explícitas ou implícitas que vêm do outro lado do mar, vivemos em regime de efectivas censuras que resultam em intoxicação permanente Há, porém, combatentes contra o efeito das ignorâncias várias que podem fazer de cada um de nós, inevitavelmente consumidores dos grandes e eficazes media, portadores de enganos que nos condicionem pensamentos e gestos. Não se sabe quantos e quais são esses bons «snipers» que disparam verdades e desmentidos, explicações e saberes: sabe-se que existem porque eles deixam, dia após dia, as suas boas pegadas no nosso quotidiano, designadamente graças a e-mails que nos chegam dia após dia e deixam para nosso usufruto um rasto de entendimentos e lucidez. Não se sabe quantos e quais são, mas cada um de nós sabe de alguns, embora porventura nunca lhes tenha agradecido a ajuda diária. E, neste exacto dia, sabe-se de um que passou a faltar: era amigo, era camarada, era um homem que dia após dia tinha por primeira tarefa a de nos municiar com algumas verdades para o combate que todos os dias temos de travar contra a mentira multiplicada pelo poder dos media. Era o Jaime. Que só uns poucos viam e ouviam, mas cuja presença era quotidiana junto de muitos e cujo apoio era precioso. Era o Jaime, cujo nome aqui se deixa, talvez como um cravo vermelho. Numa tentativa vã para compensar o facto de nunca se lhe ter agradecido o que durante tanto tempo fez por todos nós. Repete-se: por todos nós. E com o propósito de, tanto quanto a cada um for possível, prosseguir o combate diário contra o cerco montado pelas muitas censuras invisíveis que nos querem estrangular o entendimento das coisas.