Regresso à caça às bruxas

António Santos

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No res­caldo do ti­ro­teio de Chat­ta­nooga, no Ten­nessee, o ge­neral es­tado-uni­dense e ex-chefe su­premo das forças ar­madas, Wesley Clark veio de­fender, na sexta-feira, a de­tenção em massa de «pes­soas des­leais aos EUA».

Em en­tre­vista à MSNBC, Wesley Clark de­fendeu que «temos de iden­ti­ficar as pes­soas mais pas­sí­veis de se ra­di­ca­li­zarem» jus­ti­fi­cando-se com um exemplo his­tó­rico: «É gente que tem uma ide­o­logia. Na II Guerra Mun­dial, se al­guém apoi­asse a Ale­manha nazi, não di­zíamos que era li­ber­dade de ex­pressão: pú­nhamo-los num campo de con­cen­tração».

«Se estas pes­soas se ra­di­ca­li­zarem e não apoi­arem os EUA e forem des­leais aos EUA, estão no seu di­reito», con­ti­nuou o ge­neral, «mas nós temos o di­reito e a obri­gação de as se­gre­garmos da co­mu­ni­dade normal en­quanto o con­flito durar.»

As de­cla­ra­ções de Clark fa­cil­mente se per­de­riam no dis­pen­sário quo­ti­diano de enor­mi­dades da di­reita ame­ri­cana, não fosse Wesley Clark um dos mais pro­vá­veis su­ces­sores ao cargo de se­cre­tário da De­fesa, que chefia, logo abaixo do pre­si­dente, toda a po­de­rosa má­quina de guerra es­tado-uni­dense.

Wesley Clark foi Co­man­dante Su­premo da NATO du­rante a agressão à ex-Ju­gos­lávia e é di­ri­gente do Par­tido De­mo­crata, sendo ac­tu­al­mente apon­tado como prin­cipal apoio mi­litar da can­di­data pre­si­den­cial Hil­lary Clinton, que já terá abor­dado o ex-chefe da NATO para as­sumir a pasta da De­fesa.

O le­gado de John Mc­Carthy

As opi­niões de Wesley Clark es­pe­lham, por outro lado, um de­sígnio maior da classe do­mi­nante dos EUA, que, desde o 11 de Se­tembro, tem posto em marcha, de forma cé­lere e con­sis­tente, um vasto pro­grama de li­mi­tação das li­ber­dades po­lí­ticas e civis. Muito para além da le­ga­li­zação da tor­tura por Bush e da ordem de Obama para es­piar vir­tu­al­mente tudo, este pro­grama tem co­nhe­cido, nos úl­timos meses, uma pe­ri­gosa in­ten­si­fi­cação.

Na se­mana pas­sada, o Se­nado aprovou um pa­cote de le­gis­lação que obriga as em­presas das cha­madas redes so­ciais da In­ternet a prestar in­for­ma­ções ao go­verno, de forma re­gular, sobre quais­quer «in­dí­cios de ra­di­ca­li­zação», um con­ceito que não é, porém, ex­pli­cado em ne­nhum mo­mento.

Da mesma forma, con­ti­nuam por ex­plicar de­zenas de exer­cí­cios, le­vados a cabo pelo exér­cito, esta se­mana, em que se si­mula a de­tenção si­mul­tânea de cen­tenas de pes­soas.

Através de vá­rias leis apro­vadas du­rante a ad­mi­nis­tração de Obama, como as Na­ti­onal De­fense Autho­ri­za­tion Acts ou a Na­ti­onal De­fense Re­sources Pre­pa­red­ness, que au­to­riza «todas as ac­ções ne­ces­sá­rias para ga­rantir a dis­po­ni­bi­li­dade dos re­cursos ade­quados à ca­pa­ci­dade de pro­dução, in­cluindo ser­viços e tec­no­logia crí­tica à De­fesa na­ci­onal», os EUA edi­fi­caram as es­tru­turas le­gais ne­ces­sá­rias a re­er­guer, com maior efi­cácia e cru­el­dade que nunca, o té­trico le­gado John Mc­Carthy e levar a cabo, assim que ne­ces­sário, uma nova caça às bruxas.



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