Jerónimo de Sousa faz balanço da Legislatura

País mais frágil, injusto e dependente

Até onde estão dis­postos a ir PSD, CDS-PP e PS no ca­minho de afun­da­mento do País, nos sa­cri­fí­cios exi­gidos aos por­tu­gueses? A ava­liar pela apro­vação de al­gumas me­didas na recta final dos tra­ba­lhos na AR e pelos seus pro­gramas elei­to­rais, apesar da dis­si­mu­lação que os en­volve, «não têm li­mites».

PS, PSD e CDS-PP estão sempre prontos a en­tender-se em pre­juízo do re­gime de­mo­crá­tico

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A con­clusão é do Se­cre­tário-geral do PCP e foi por este dada a co­nhecer em con­fe­rência de im­prensa, dia 22, no de­curso da qual prestou uma par­ti­cular atenção à afir­mação pro­fe­rida na vés­pera por Passos Co­elho ad­vo­gando a ne­ces­si­dade de cada par­tido se pro­nun­ciar sobre os gastos na saúde, na edu­cação e na se­gu­rança so­cial. Pa­la­vras que do ponto de vista de Je­ró­nimo de Sousa ti­nham im­plí­cita a «ideia de pros­se­guir e apro­fundar os cortes nos sa­lá­rios, nas pen­sões, na saúde, na edu­cação, na se­gu­rança so­cial».

Ora o que PSD, CDS-PP e PS têm de dizer é até onde estão dis­postos a ir no «sa­cri­fício das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores, dos jo­vens, dos micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, dos re­for­mados, do povo por­tu­guês», «até onde querem levar o saque dos juros que já con­some mais de oito mil mi­lhões de euros anuais», «até onde estão dis­postos a ir na des­truição da ca­pa­ci­dade pro­du­tiva e de postos de tra­balho, de venda do País a re­talho e ao des­ba­rato», nos «gastos em PPP, em SWAP, no uso de di­nheiros pú­blicos para co­brir os bu­racos da banca e sa­tis­fazer a es­pe­cu­lação», na «pro­mis­cui­dade entre o poder po­lí­tico e o poder eco­nó­mico», na «clau­di­cação dos in­te­resses na­ci­o­nais e na sub­ser­vi­ência ao grande ca­pital trans­na­ci­onal e ao do­mínio da UE e do euro», na «sub­versão do re­gime de­mo­crá­tico», re­clamou o Se­cre­tário-geral do PCP no dia em que os de­pu­tados se reu­niram pela úl­tima vez em sessão ple­nária no he­mi­ciclo de S. Bento.

Re­tro­cessos

Fa­zendo um ba­lanço ao que foram estes quatro anos de apli­cação do pacto de agressão contra os tra­ba­lha­dores, o povo e o País, as­si­nado por PS, PSD e CDS-PP com a troika es­tran­geira, no se­gui­mento da po­lí­tica dos PEC, o líder co­mu­nista cons­tata que o País está hoje «mais fra­gi­li­zado, mais in­justo e de­pen­dente», não obs­tante os «sa­cri­fí­cios bru­tais im­postos ao povo por­tu­guês».

«A de­gra­dação dos sa­lá­rios, pen­sões, apoios so­ciais e ser­viços pú­blicos é gri­tante», su­bli­nhou, exem­pli­fi­cando com a si­tu­ação na saúde onde um mi­lhão e 500 mil pes­soas con­ti­nuam sem mé­dico de fa­mília e o tempo de es­pera para uma pri­meira con­sulta chega a atingir os 100 dias.

Abor­dando o «equi­lí­brio e rigor das contas pú­blicas e contas ex­ternas», por outro lado, o di­ri­gente co­mu­nista ob­servou que os «úl­timos dias têm sido fér­teis em in­for­ma­ções que os des­mentem».

«O Tri­bunal de Contas veio pôr a nu o "mar­te­lanço" das contas pú­blicas e o Banco de Por­tugal veio alertar para o re­gresso do dé­fice ex­terno (dé­fice da ba­lança de pa­ga­mentos), pro­vo­cado no fun­da­mental pelo au­mento da trans­fe­rência de lu­cros e di­vi­dendos para o es­tran­geiro, de­cor­rentes da pri­va­ti­zação de em­presas es­tra­té­gicas», es­pe­ci­ficou.

Nota ne­ga­tiva vai também para a dí­vida pú­blica, com Je­ró­nimo de Sousa a con­si­derá-la «in­sus­ten­tável» e a lem­brar que «au­mentou mais de 50 mil mi­lhões de euros desde 2011», sendo o nosso ser­viço da dí­vida o «mais ele­vado da União Eu­ro­peia».

Varrer para de­baixo do ta­pete

A con­firmar-se que Por­tugal não quis dis­cutir o alívio da dí­vida grega antes das elei­ções, isso só pode ser in­ter­pre­tado como uma re­acção de medo do Go­verno re­la­ti­va­mente às con­sequên­cias que teria no nosso País.

«O Go­verno do PSD e CDS, par­ti­cu­lar­mente Passos Co­elho, ti­nham medo do exemplo, re­ce­avam o efeito que teria uma re­ne­go­ci­ação da dí­vida na Grécia», re­feriu Je­ró­nimo de Sousa, tendo em conta que a di­mensão da nossa dí­vida é hoje das «mai­ores do mundo em re­lação ao PIB», que «temos um ser­viço da dí­vida brutal» e que a «questão da re­ne­go­ci­ação vai pôr-se, mais tarde ou mais cedo».

O líder co­mu­nista en­qua­drou esta questão a pro­pó­sito de de­cla­ra­ções do pre­si­dente da Co­missão Eu­ro­peia, Jean-Claude Juncker, onde este re­ve­lava em en­tre­vista ao diário belga Le Soir, pu­bli­cada nesse mesmo dia, que Por­tugal se opôs a que um alívio da dí­vida pú­blica grega fosse dis­cu­tido antes das elei­ções le­gis­la­tivas.

Para o Se­cre­tário-geral do PCP, a grande questão está em saber se a re­ne­go­ci­ação se «vai co­locar por parte dos cre­dores ou dos de­ve­dores». «A questão da dí­vida está co­lo­cada na ordem do dia mas Passos Co­elho pre­fere varrer o pro­blema para de­baixo do ta­pete», acusou, su­bli­nhando que «a si­tu­ação a ser des­blo­queada na Grécia cons­ti­tuía uma de­mons­tração de quanto é er­rado e quanto lesa o in­te­resse na­ci­onal manter-se nesta po­sição de re­cusa dessa re­ne­go­ci­ação».

De­fendeu também que, apesar de di­zerem que os «cre­dores não querem» uma re­ne­go­ci­ação da dí­vida por­tu­guesa, a «questão de fundo» é saber se Por­tugal quer tomar essa via.

«Mesmo como de­ve­dores tempos di­reitos, pre­ci­samos de facto de cres­ci­mento eco­nó­mico, de de­sen­vol­vi­mento do nosso apa­relho pro­du­tivo, de criar mais ri­queza, só assim – pro­du­zindo mais – é que de­vemos menos», de­clarou Je­ró­nimo de Sousa.

 

 

 



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