CMP acusa imperialismo

Escalada belicista agita Turquia

O mas­sacre de 32 pes­soas em Suruç, os bom­bar­de­a­mentos turcos no Iraque e na Síria, e a ce­dência da base aérea de In­cirlik aos EUA fazem temer uma es­cala da guerra na re­gião.

Mas­sacre de Suruç é re­sul­tado da po­lí­tica be­li­cista turca

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O mas­sacre de Suruç é uma forma de impor aos povos da Tur­quia os planos de ex­plo­ração do im­pe­ri­a­lismo e até mesmo de os em­purrar para a guerra. Quem o afirma é o Con­selho Mun­dial da Paz (CMP), num do­cu­mento em que con­dena o mas­sacre co­me­tido pelo grupo ex­tre­mista auto-de­sig­nado Es­tado Is­lâ­mico (EI) na ci­dade de Suruç, na Tur­quia, no dia 20 de Julho, que pro­vocou a morte de 32 pes­soas e cen­tenas de fe­ridos.

 

As ví­timas, jo­vens pa­ci­fistas e pro­gres­sistas da Tur­quia, pla­ne­avam par­ti­cipar nas obras de re­cons­trução da ci­dade síria de Ko­bane (Ain Al Arab), se­ri­a­mente da­ni­fi­cada pelos ata­ques do EI.

 

No do­cu­mento, di­vul­gado em Atenas na quinta-feira, 23, o CMP ma­ni­festa a sua so­li­da­ri­e­dade para com o povo turco e con­dena du­ra­mente a «or­ga­ni­zação re­ac­ci­o­nária, fas­cista e ter­ro­rista EI, mas também os países im­pe­ri­a­listas, no­me­a­da­mente os EUA e a União Eu­ro­peia, que a criou, jun­ta­mente com os re­gimes re­ac­ci­o­ná­rios do Médio Ori­ente que lhe for­necem armas e di­nheiro».

 

Na ver­dade, su­blinha o CMP, o EI ora serve de «ins­tru­mento do im­pe­ri­a­lismo contra os povos da re­gião, como acon­teceu na Síria», ora é apre­sen­tado pelos mesmos im­pe­ri­a­listas como um «pre­texto para le­gi­timar a in­ter­venção di­recta ou bom­bar­de­a­mentos, como su­cedeu em re­giões curdas do Iraque e da Síria». O mesmo se aplica ao go­verno turco, na opi­nião do CMP, que acusa o exe­cu­tivo de An­cara de «an­te­ri­or­mente viver em sim­biose com o EI» e con­si­dera o mas­sacre de Suruç o «re­sul­tado di­recto da po­lí­tica be­li­cista» turca. O EI tornou-se também um factor de de­ses­ta­bi­li­zação da Tur­quia, afirma-se no do­cu­mento.

 

Ma­ni­fes­tando a sua «pro­funda pre­o­cu­pação com o fu­turo pró­ximo da re­gião», o Con­selho Mun­dial da Paz faz notar que os «ata­ques as­sas­sinos in­ten­si­ficam as ten­sões exis­tentes na Tur­quia» e em­purram este país para os con­flitos na Síria.

 

 

 

Ofen­siva turca

 

 

A Tur­quia lançou en­tre­tanto duas «ofen­sivas an­ti­ter­ro­ristas» contra po­si­ções do EI na vi­zinha Síria e do Par­tido dos Tra­ba­lha­dores do Cur­distão (PKK) no Norte do Iraque, a pre­texto do mas­sacre de Su­ruçe e de pos­te­ri­ores ata­ques se­pa­rados na fron­teira comum que pro­vo­caram baixas entre os mi­li­tares turcos, atri­buídos às duas or­ga­ni­za­ções. Em de­cla­ra­ções à im­prensa, ci­tadas pela Lusa, o pri­meiro-mi­nistro Ahmet Da­vu­toglu afirmou que os bom­bar­de­a­mentos aé­reos em curso podem «mudar o equi­lí­brio» da re­gião.

 

O ataque ao PKK, acom­pa­nhado da prisão de de­zenas de ac­ti­vistas curdos por toda a Tur­quia, ocorre numa al­tura em que An­cara con­tinua a de­bater-se com di­fi­cul­dades para formar um go­verno de co­li­gação. Nas elei­ções de 7 de Junho, re­corda-se, o Par­tido De­mo­crá­tico dos Povos (HDP), um par­tido pró-curdo e de es­querda, ob­teve 13 por cento de votos e elegeu 80 de­pu­tados, um re­sul­tado de­ci­sivo para re­tirar a mai­oria ab­so­luta que o AKP de­tinha desde 2002.

 

Ao co­locar no mesmo plano os ata­ques ao EI e ao PKK, as au­to­ri­dades de An­cara dão sinal, como afirmou no início da se­mana o chefe da di­plo­macia turca, Me­vlüt Çavu­soglu, em en­tre­vista à Lusa, da sua in­tenção de par­ti­cipar «de forma ac­tiva» no con­flito re­gi­onal. Em apa­rente con­tra­dição com as de­cla­ra­ções do pri­meiro-mi­nistro, Çavu­soglu diz que os «ata­ques aé­reos não são su­fi­ci­entes» para travar o EI e «muito menos er­ra­dicá-lo», pelo que a Tur­quia es­tará dis­po­nível para par­ti­cipar numa co­li­gação in­ter­na­ci­onal «caso exista uma es­tra­tégia global».

 

Para já, a Tur­quia deu luz verde aos Es­tados Unidos para usarem a base aérea de In­cirlik, pró­xima da Síria para, ale­ga­da­mente, bom­bar­de­arem o Es­tado Is­lâ­mico. O acordo para o uso da base surge após meses de di­fí­ceis ne­go­ci­a­ções entre re­pre­sen­tantes turcos e norte-ame­ri­canos. Na en­tre­vista à Lusa, para além de ga­rantir que a Tur­quia vai juntar-se de forma ac­tiva aos ata­ques aé­reos e no com­bate ao EI, o mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros turco jus­ti­fica a ce­dência da base como forma de abrir ca­minho à «es­tra­tégia global». «Se al­guns países da re­gião e da co­li­gação [in­ter­na­ci­onal] se jun­tarem de­ci­di­remos em con­junto, e no fu­turo ha­verá uma muito me­lhor es­tra­tégia para com­bater o EI».




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