A propósito do Dia Internacional do idoso

Fernanda Mateus

O Dia In­ter­na­ci­onal do Idoso, ins­ti­tuído pela ONU e as­si­na­lado a 1 de Ou­tubro e o ver­da­deiro sig­ni­fi­cado desta co­me­mo­ração está in­ti­ma­mente li­gado ao re­co­nhe­ci­mento do valor da or­ga­ni­zação e da luta deste grupo so­cial na de­fesa de di­reitos pró­prios numa so­ci­e­dade mais justa, der­ro­tando as po­lí­ticas que en­caram a ve­lhice como «um fardo» para a Se­gu­rança So­cial e para as fi­nanças pú­blicas, que re­tiram di­reitos aos ac­tuais e fu­turos re­for­mados, pen­si­o­nistas e idosos aban­do­nando-os à sua sorte e apri­si­o­nando-os a po­lí­ticas as­sis­ten­ci­a­listas. Co­me­morar este dia é in­se­pa­rável da exi­gência de novas po­lí­ticas cen­tradas na pro­moção da jus­tiça so­cial num País so­be­rano, in­se­pa­rável da ga­rantia da au­to­nomia eco­nó­mica e so­cial deste grupo so­cial tal como está con­sa­grado na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica, ou seja o di­reito à Se­gu­rança So­cial, à saúde, à mo­bi­li­dade, à par­ti­ci­pação so­cial, po­lí­tica e cul­tural. É na pros­se­cução destes ob­jec­tivos que se ali­cerçam os ver­da­deiros va­lores da so­li­da­ri­e­dade so­cial as­sente numa justa re­par­tição do ren­di­mento na­ci­onal na eli­mi­nação das si­tu­a­ções de po­breza, de so­lidão entre idosos e numa ade­quada pro­tecção nas si­tu­a­ções de de­pen­dência. É por este ca­minho que se for­ta­lecem os va­lores de res­peito pelos mais ve­lhos na fa­mília, nas co­mu­ni­dades lo­cais, na so­ci­e­dade.

Con­tudo, mais de três dé­cadas de po­lí­tica de di­reita de su­ces­sivos go­vernos do PS ou do PSD (tendo por base mai­o­rias ab­so­lutas, ou di­versas co­li­ga­ções entre si e con­tando sempre com o CDS-PP), im­pos­si­bi­li­taram o di­reito a uma vida digna para as ge­ra­ções de tra­ba­lha­dores que passam à con­dição de re­for­mados.

De­fesa dos di­reitos dos idosos
de­cide-se pelo voto na CDU

O Dia In­ter­na­ci­onal do Idoso tem a par­ti­cu­la­ri­dade de de­correr três dias antes das elei­ções le­gis­la­tivas de 4 de Ou­tubro, acen­tu­ando-se as dis­putas entre PS e PSD/​CDS-PP em torno de quem corta mais ou menos nas pen­sões, e em que se su­cedem pro­messas de úl­tima hora, au­tên­tica caça ao voto dos re­for­mados, pen­si­o­nistas e idosos ali­cer­çada na men­tira e na mis­ti­fi­cação, e em que pre­tendem ocultar que são os res­pon­sá­veis pela di­mi­nuição real das re­formas e pen­sões le­vadas a cabo pelos seus go­vernos.

As pen­sões foram re­vistas ex­cep­ci­o­nal­mente em 2010, uma vez que a apli­cação do me­ca­nismo de ac­tu­a­li­zação anual apro­vada pelo go­verno do PS de­ter­mi­naria a re­dução do seu mon­tante e que as pen­sões acima de 1500 euros foram con­ge­ladas. O Or­ça­mento do Es­tado para 2011 pro­cedeu ao con­ge­la­mento de todas as re­formas e pen­sões, re­gis­tando-se cortes nos va­lores no­mi­nais das con­si­de­radas altas, tendo sido criada nesse ano a Con­tri­buição Ex­tra­or­di­nária de So­li­da­ri­e­dade. Se­guem-se as me­didas ins­critas no pacto de agressão as­si­nado pelo PS, o PSD e CDS com a UE/​BCE/​FMI, com o con­ge­la­mento do sa­lário mí­nimo na­ci­onal, a des­va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios, a di­mi­nuição real de todas as pen­sões e re­formas du­rante três anos, in­cluindo as mais baixas, cortes nas pen­sões e re­formas su­pe­ri­ores a 1500 euros, au­mento do IVA, do IRS, au­mento do valor das rendas de casa e cortes no con­junto dos apoios e pres­ta­ções so­ciais.

Coube ao Go­verno do PSD/​CDS levar por di­ante esta brutal es­piral de em­po­bre­ci­mento e de ex­plo­ração, tor­nando-se cam­peão no ataque às con­di­ções de vida dos re­for­mados, pen­si­o­nistas e idosos. Foi de sua au­toria a ten­ta­tiva de subs­ti­tuir a Con­tri­buição Ex­tra­or­di­nária de So­li­da­ri­e­dade por uma con­tri­buição de sus­ten­ta­bi­li­dade sobre todas as pen­sões, que não se con­cre­tizou em re­sul­tado da luta dos re­for­mados e da re­jeição do Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal.

Im­porta re­gistar que o PS, que se ar­roga agora como «opo­sição à di­reita», oculta a sua quota-parte de res­pon­sa­bi­li­dade no facto de a grande mai­oria dos re­for­mados, pen­si­o­nistas e idosos es­tarem con­cen­trados nos es­ca­lões mais baixos: 75% tem uma pensão até um IAS, ou seja cerca de 420 euros e 86% até 628 euros. Como oculta que es­co­lheu estar do lado do PSD/​CDS quando na As­sem­bleia da Re­pú­blica re­jeitou a pro­posta do PCP de au­mento de 25 euros em cada pensão igual ou in­fe­rior a 1,5 vezes o IAS, e de 4,7% para as pen­sões su­pe­ri­ores a 1,5 vezes o IAS para com­pensar parte da perda do poder de compra dos úl­timos três anos. Assim como es­co­lheu estar ao lado do PSD/​CDS na re­jeição das fontes de fi­nan­ci­a­mento da Se­gu­rança So­cial, entre ou­tros exem­plos que po­de­ríamos citar.

A ver­dade é que nem o PS, nem o PSD/​CDS falam ver­dade quando afirmam que não irão pro­ceder a novos cortes nas re­formas, dando por ad­qui­rido que não ha­verá re­po­sição do poder de compra per­dido.

Certo e se­guro é o facto de o Go­verno do PSD/​CDS ter ins­crito no Pro­grama de Re­formas 2016-2019 novos cortes na Se­gu­rança So­cial na ordem dos 600 mi­lhões de euros. Do mesmo modo que o PS as­sume pro­postas como a de re­dução da taxa so­cial única que re­pre­senta um pe­ri­goso ca­minho de fra­gi­li­zação da Se­gu­rança So­cial.

Certo e se­guro é que os pro­jectos quer do PS, quer do PSD para o fu­turo atacam o ca­rácter pú­blico, uni­versal e so­li­dário da Se­gu­rança So­cial e re­pre­sentam um ca­minho de im­po­sição da re­dução do valor das re­formas e pen­sões para os ac­tuais e fu­turos re­for­mados e de au­mento da idade de re­forma.

As elei­ções do pró­ximo do­mingo con­vocam os re­for­mados, pen­si­o­nistas e idosos – mu­lheres e ho­mens –a to­marem nas suas mãos o seu voto para afir­marem uma clara re­jeição à po­lí­tica de di­reita e ao jogo de al­ter­nância sem al­ter­na­tiva entre PS e PSD/​CDS-PP.

O voto na CDU sig­ni­fica estar com a força po­lí­tica que honra a pa­lavra dada e os com­pro­missos as­su­midos. É apoiar uma força que nunca se re­signou nem se calou pe­rante as con­sequên­cias da po­lí­tica de di­reita. Sig­ni­fica apoiar quem es­teve e está sempre ao lado da justa luta dos re­for­mados, pen­si­o­nistas e idosos e das suas or­ga­ni­za­ções re­pre­sen­ta­tivas, que nos úl­timos quatro anos se ex­pres­saram em múl­ti­plas ac­ções de pro­testo por todo o País, mos­trando que estão «re­for­mados» da ac­ti­vi­dade pro­fis­si­onal mas de­ter­mi­nados em de­fen­derem os seus di­reitos. Sig­ni­fica dar força à Po­lí­tica Pa­trió­tica e de Es­querda que in­tegra o com­pro­misso da va­lo­ri­zação das suas re­formas e pen­sões pagas pelo sis­tema pú­blico de Se­gu­rança So­cial e re­po­sição dos com­ple­mentos de re­forma aos re­for­mados das em­presas pú­blicas, o cum­pri­mento do di­reito à saúde através do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, o di­reito à mo­bi­li­dade e ao trans­porte pú­blico, a cri­ação de uma rede de equi­pa­mentos pú­blicos de apoio à ter­ceira idade (lares, cen­tros de dia, apoio do­mi­ci­liário), o re­co­nhe­ci­mento e apoio ao as­so­ci­a­ti­vismo es­pe­cí­fico deste grupo so­cial na de­fesa dos seus di­reitos e a gra­tui­ti­dade de acesso a es­paços cul­tu­rais pú­blicos.

 



Mais artigos de: Argumentos

Expulsar os gabirús

A palavra, «gabirús», reencontrámo-la na TV pela voz do jornalista e escritor Fernando Dacosta que, escusado será recordá-lo, em matéria de língua portuguesa e de adequação das palavras ao contexto em que se inserem tem uma autoridade muito acima do...

Quem finge que não vê?

Uma das canções mais emblemáticas de Bob Dylan, dos seus bons tempos de contestação, dizia, às tantas: «quantas vezes têm de voar as balas dos canhões até serem banidas para sempre?». E acrescentava: «quantas mortes terá (um homem) de...