Das máscaras

Henrique Custódio

A di­reita está acan­to­nada nos trinta e tal por cento desde a Re­vo­lução de Abril. É um score pri­mor­dial no re­gime de­mo­crá­tico que, nas pas­sadas elei­ções, re­tornou à origem e surgiu no «osso» do con­ser­va­do­rismo no nosso País.

Quem votou no PaF fê-lo mi­li­tan­te­mente, com todos os cam­bi­antes da di­reita con­ver­gindo num des­forço elei­toral, de­ses­pe­rado pela (má) cons­ci­ência da go­ver­nação de­vas­ta­dora re­a­li­zada pela co­li­gação PSD/​CDS. Porque, ex­cep­tu­ando os ul­tra­mon­tanos da he­rança do fas­cismo, os con­ser­va­dores do nosso País são pes­soas como toda a gente e não deixam de ver (e sentir) os vi­o­lentos des­mandos so­ciais co­me­tidos pelo Go­verno Passos/​Portas. Pelo que a con­cen­tração dos votos no PaF pa­rece uma ma­nobra de­ses­pe­rada para «salvar a sua mai­oria» de di­reita e o que, apesar de tudo, ve­riam como «o seu go­verno».

Daí todos os votos nas ou­tras forças po­lí­ticas terem, como ob­jec­tivo cen­tral, atirar borda-fora tão ca­tas­tró­fica po­lí­tica e tão de­tes­tado Go­verno.

Este é o ine­lu­dível re­sul­tado do acto elei­toral de 4 de Ou­tubro.

Esta é a efec­tiva ex­pressão da von­tade mai­o­ri­tária dos por­tu­gueses.

Não foi por acaso que nin­guém do PaF fes­tejou nas ruas a «vi­tória», na noite dos re­sul­tados... É que todos per­ce­beram que a co­li­gação do Go­verno tinha sido der­ro­tada, apesar de ter ga­nhado nas urnas.

Esta é a pri­meira evi­dência, fu­ri­o­sa­mente bor­re­gada pela mi­xórdia de «co­men­ta­dores» e «ana­listas». E eis a se­gunda.

Ao querer ca­ni­ba­lizar o Por­tugal de Abril a co­berto das «exi­gên­cias da troika», o Go­verno Passos/​Portas ul­tra­passou com bru­ta­li­dade os li­mites e o senso da go­ver­nação bur­guesa: an­ta­go­nizou a so­ci­e­dade no seu con­junto (novos contra ve­lhos, em­pre­gados contra de­sem­pre­gados, fun­ci­o­ná­rios pú­blicos contra «tra­ba­lha­dores do pri­vado», «em­pre­en­de­dores» contra «ins­ta­lados na zona de con­forto» e etc.), alas­trou o culto do in­di­vi­du­a­lismo e da com­pe­tição egoísta, des­re­gulou as re­la­ções de tra­balho, des­man­telou a fi­a­bi­li­dade e a con­fi­ança no Es­tado como pessoa de bem e de­primiu a vida na­ci­onal numa aus­te­ri­dade sem fim, a par dos cortes sel­vá­ticos em sa­lá­rios, pen­sões, di­reitos e li­ber­dades e do de­sem­prego gi­gan­tesco que es­pa­lhou por todo o lado.

Ou seja, a po­lí­tica deste Go­verno con­sistiu numa feroz in­ves­tida contra o or­de­na­mento so­cial do País que, quatro anos de­pois, se ex­primiu elei­to­ral­mente na re­pulsa mai­o­ri­tária dos por­tu­gueses por tal Go­verno. E ponto final.

En­tre­tanto, o an­ti­co­mu­nismo saltou que nem mola na In­for­mação, desde a ina­ni­dade de Ma­nuela Fer­reira Leite a chamar «golpe de Es­tado» às con­ver­sa­ções do PS com a es­querda par­la­mentar, à mi­ríade de alar­vi­dades sor­tidas ex­pondo, elas mesmas, o re­ac­ci­o­na­rismo pri­mário es­con­dido por trás de tanta más­cara de «de­mo­crata». Já nem é pre­ciso nomeá-los – basta enu­merá-los...

 



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