Luta pela Paz, questão central do nosso tempo

Ilda Figueiredo

No plano na­ci­onal e no plano in­ter­na­ci­onal es­tamos a viver um tempo pleno de con­tra­di­ções, onde, se por um lado, se avo­lumam pe­rigos, ame­aças e agres­sões das forças do im­pe­ri­a­lismo, com des­taque para a NATO, sin­toma da crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo, por outro lado, povos re­voltam-se e lutam, pro­testam e de­nun­ciam, obrigam a re­cuos e, por vezes, a mu­danças que pa­re­ciam ines­pe­radas.

Sendo certo que cada mo­mento na vida dos povos é único, há pe­ríodos par­ti­cu­lar­mente agudos, onde o re­forço da mo­bi­li­zação po­pular é de­ci­sivo para im­pedir a tra­gédia hu­ma­ni­tária. Es­tamos a viver um desses mo­mentos, como se tem aler­tado, nas úl­timas se­manas, a pro­pó­sito dos exer­cí­cios mi­li­tares da NATO em Por­tugal, esse prin­cipal ins­tru­mento de agressão dos EUA e seus ali­ados, criado em 1949, mais vi­sível desde a sua pri­meira in­ter­venção na Eu­ropa, ao bom­bar­dear a ex-Ju­gos­lávia há cerca de 16 anos.

Desde então, viu-se a des­truição do Afe­ga­nistão, Iraque, Líbia, as ame­aças cons­tantes na Ucrânia e na ge­ne­ra­li­dade do Médio Ori­ente, as in­ter­ven­ções cri­mi­nosas e per­ma­nentes agres­sões de Is­rael à Pa­les­tina, da Tur­quia contra os curdos, in­cluindo na Síria já bom­bar­deada por vá­rios dos países mem­bros da NATO. É longo o rol das in­ge­rên­cias, ame­aças e agres­sões dos EUA e seus ali­ados eu­ro­peus e de mo­nar­quias árabes, a que também não es­capou o Iémen e Bah­rain, as in­ter­ven­ções ne­o­co­lo­niais so­bre­tudo da França e do Reino Unido, em vá­rios países de África, numa ten­ta­tiva de per­ma­nente de­ses­ta­bi­li­zação, apro­vei­tando na­tu­rais des­con­ten­ta­mentos, como se viu nas ditas «pri­ma­veras árabes», ou in­cen­ti­vando ódios, com os mais va­ri­ados pre­textos e sempre com o mesmo ob­jec­tivo: con­trolar acessos a ma­té­rias-primas e a zonas ge­o­es­tra­té­gicas, im­pedir po­lí­ticas e ca­mi­nhos al­ter­na­tivos como se vê também na Amé­rica La­tina contra os países e povos que, usando o seu di­reito so­be­rano, pro­curam o pro­gresso e o de­sen­vol­vi­mento, con­di­ções in­dis­pen­sá­veis à paz.

Nesta Eu­ropa, de­sig­na­da­mente nos países da União Eu­ro­peia, com o agra­va­mento das de­si­gual­dades, as mai­ores di­fi­cul­dades de parte sig­ni­fi­ca­tiva das po­pu­la­ções a en­fren­tarem po­lí­ticas ditas de aus­te­ri­dade, e cam­pa­nhas ide­o­ló­gicas e me­diá­ticas que visam es­conder as ver­da­deiras causas e os res­pon­sá­veis das cres­centes agres­sões e guerras, nem sempre houve a res­posta ne­ces­sária na de­fesa da paz, na de­núncia das agres­sões im­pe­ri­a­listas aos povos, das causas e dos res­pon­sá­veis por esta si­tu­ação dra­má­tica que vi­vemos. O que também cons­titui um pe­rigo para os povos da Eu­ropa, como se vê com as acres­centes forças ra­cistas, xe­nó­fobas e par­tidos de ex­trema-di­reita em di­versos países.

No en­tanto, vá­rias or­ga­ni­za­ções do mo­vi­mento da paz, de­sig­na­da­mente mem­bros do Con­selho Mun­dial da Paz – como é o caso do Con­selho Por­tu­guês para a Paz e Co­o­pe­ração – têm pro­cu­rado alertar e lutar contra estas graves ame­aças à paz mun­dial e à pró­pria so­bre­vi­vência da hu­ma­ni­dade, se ti­vermos em conta que são mais de 14 mil as armas nu­cle­ares exis­tentes, o que teve ex­pressão seja a pro­pó­sito dos 65 anos do Apelo de Es­to­colmo e do Con­selho Mun­dial da Paz, seja dos 70 anos da vi­tória sobre o nazi-fas­cismo, ou nas im­por­tantes ac­ções de de­núncia da NATO, mas também de so­li­da­ri­e­dade com a Pa­les­tina, a Síria, o povo sa­a­raui, Cuba, a Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela e os re­fu­gi­ados, de­nun­ci­ando as causas e os res­pon­sá­veis.

A cam­panha em curso – «Sim à Paz! Não aos exer­cí­cios mi­li­tares da NATO» – en­vol­vendo mais de 30 or­ga­ni­za­ções por­tu­guesas, in­cluindo o Con­selho Por­tu­guês para a Paz e Co­o­pe­ração, a CGTP-IN, o MDM e or­ga­ni­za­ções da Ju­ven­tude, tem-se des­ta­cado na dis­tri­buição de do­cu­mentos, mo­bi­li­zando-se para ini­ci­a­tivas pú­blicas como em Lisboa, Porto e Se­túbal, ape­lando à subs­crição de abaixo-as­si­nados de de­núncia da NATO.

Os ac­ti­vistas da Paz em Por­tugal não estão so­zi­nhos. Em di­versos países do mundo ac­ti­vistas da paz estão em­pe­nhados na mesma de­núncia, seja na Eu­ropa, in­cluindo Ale­manha, Bél­gica, Es­panha, Chipre, Grécia, Reino Unido, Ir­landa, Itália, Re­pú­blica Checa e Sérvia, seja no Brasil, EUA, Tur­quia, Índia e ou­tros. No en­tanto esta frente anti-im­pe­ri­a­lista tem de ser re­for­çada, sa­bendo-se que o fu­turo da hu­ma­ni­dade de­pende de se im­pedir a guerra, exi­gindo a dis­so­lução da NATO, o de­sar­ma­mento geral, si­mul­tâneo e con­tro­lado, a so­lução pa­cí­fica dos con­flitos in­ter­na­ci­o­nais, a não in­ge­rência nos as­suntos in­ternos dos ou­tros es­tados e a co­o­pe­ração para a eman­ci­pação e o pro­gresso da hu­ma­ni­dade, ques­tões cen­trais que a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa con­sagra no seu ar­tigo 7.º.

Por isso se apela a todos os ho­mens e mu­lheres pro­gres­sistas para que se em­pe­nhem nesta causa maior da ac­tu­a­li­dade, a luta pela Paz, con­dição bá­sica para o fu­turo da hu­ma­ni­dade com pro­gresso e de­sen­vol­vi­mento, e que se tornou uma questão cen­tral do nosso tempo.




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