Álvaro Cunhal e a independência das ex-colónias

Manuel Rodrigues

No pas­sado dia 10 de No­vembro as­si­nalou-se o 102.º ani­ver­sário do nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal.

Não es­que­cendo a grande ho­me­nagem que lhe foi pres­tada nas co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário do seu nas­ci­mento, im­porta as­si­nalar esta data, de que será im­por­tante mo­mento sim­bó­lico, hoje mesmo, o lan­ça­mento do tomo VI das Obras Es­co­lhidas.

E porque se está a ce­le­brar os 40 anos sobre a in­de­pen­dência de An­gola, é im­por­tante des­tacar a sua ampla con­tri­buição no apoio ao mo­vi­mento de li­ber­tação na­ci­onal, de­sig­na­da­mente das ex-co­ló­nias, contra o co­lo­ni­a­lismo por­tu­guês e pelo re­co­nhe­ci­mento aos povos co­lo­ni­zados do seu di­reito à au­to­de­ter­mi­nação e in­de­pen­dência.

Grandes foram, de facto, os con­tri­butos de Álvaro Cu­nhal, como Se­cre­tário-geral do PCP, para a au­to­de­ter­mi­nação e in­de­pen­dência dos povos co­lo­ni­zados por Por­tugal e no apoio aos Mo­vi­mentos de Li­ber­tação Na­ci­onal, em que se in­cluiu o de­ci­sivo apoio dado pelo PCP em Julho de 1962 à evasão de Por­tugal de Agos­tinho Neto.

No re­la­tório Rumo à Vi­tória (1964), Álvaro Cu­nhal con­si­de­rava que a po­lí­tica co­lo­ni­a­lista de Sa­lazar, «longe de atestar a in­de­pen­dência e a “gran­deza” de Por­tugal, atesta o do­mínio im­pe­ri­a­lista es­tran­geiro sobre o nosso país e o papel dos co­lo­ni­a­listas por­tu­gueses como as­so­ci­ados ou agentes das grandes po­tên­cias im­pe­ri­a­listas. Os grandes ex­plo­ra­dores do povo por­tu­guês são ao mesmo tempo ex­plo­ra­dores dos povos das co­ló­nias por­tu­guesas».

O que sig­ni­fi­cava que a con­quista da li­ber­dade e da de­mo­cracia em Por­tugal só seria pos­sível na me­dida em que as co­ló­nias por­tu­guesas con­quis­tassem igual­mente a sua li­ber­dade, de­mo­cracia e in­de­pen­dência.

Esta cons­ta­tação le­vava Álvaro Cu­nhal e o PCP a con­si­derar nossos «amigos, ali­ados, com­pa­nheiros de armas» esses povos na sua luta contra o ini­migo comum, «o go­verno fas­cista de Sa­lazar ao ser­viço dos mo­no­pó­lios na­ci­o­nais e es­tran­geiros» e a afirmar: «nós apoi­amos na me­dida das nossas forças a justa luta dos povos das co­ló­nias por­tu­guesas, cum­prindo assim a um tempo o nosso dever in­ter­na­ci­o­na­lista e o nosso dever de pa­tri­otas por­tu­gueses».

E su­bli­nhava: «Os co­mu­nistas por­tu­gueses, à frente da classe ope­rária, sentem-se ín­tima e fra­ter­nal­mente unidos aos povos das co­ló­nias por­tu­guesas e tudo fazem e farão na me­dida das suas forças para os ajudar.»

De­pois de uma ampla dis­cussão em todo o Par­tido, o re­la­tório Rumo à Vi­tória, viria a ser apro­vado no seu VI Con­gresso. Igual­mente apro­vado viria a ser o pro­grama do PCP para a Re­vo­lução De­mo­crá­tica e Na­ci­onal, que in­cluía nos seus ob­jec­tivos fun­da­me­nais «re­co­nhecer e as­se­gurar aos povos das co­ló­nias por­tu­guesas o di­reito à ime­diata in­de­pen­dência».

A Re­vo­lução Por­tu­guesa de Abril viria a re­co­nhecer, a 27 de Julho de 1974, a in­de­pen­dência das ex-co­ló­nias, de­cisão em que o PCP e o seu Se­cre­tário-geral Álvaro Cu­nhal de ime­diato re­co­nhe­ceram um grande acon­te­ci­mento his­tó­rico e a con­fir­mação da tese do Par­tido de que a con­quista da de­mo­cracia em Por­tugal abriria con­di­ções para a in­de­pen­dência dos povos por si co­lo­ni­zados.

De­pois do 25 de Abril, Álvaro Cu­nhal in­tervém como Se­cre­tário-geral do PCP e como mi­nistro sem pasta dos pri­meiros quatro go­vernos pro­vi­só­rios não só pela con­cre­ti­zação ime­diata da in­de­pen­dência das ex-co­ló­nias por­tu­guesas, mas também pelo es­ta­be­le­ci­mento de re­la­ções di­plo­má­ticas e de ami­zade, paz e co­o­pe­ração de Por­tugal com os novos países e, igual­mente, pelo re­forço das re­la­ções de ami­zade e co­o­pe­ração entre o PCP e os mo­vi­mentos e par­tidos que con­du­ziram a luta dos seus povos contra o co­lo­ni­a­lismo e pela in­de­pen­dência na­ci­onal.

Álvaro Cu­nhal e o PCP ti­veram um des­ta­cado papel no re­forço do mo­vi­mento co­mu­nista in­ter­na­ci­onal, na co­o­pe­ração de todas as forças re­vo­lu­ci­o­ná­rias e pro­gres­sistas em que se in­te­grou, a par da luta pela in­de­pen­dência das ex-co­ló­nias por­tu­guesas, a luta pelo fim do apartheid e pela li­ber­tação dos povos da África Aus­tral, a de­fesa do di­reito do povo pa­les­ti­niano ao seu Es­tado in­de­pen­dente e os di­reitos dos povos do Médio Ori­ente, na luta pela paz.

Luta que o PCP pros­segue hoje no re­forço do mo­vi­mento de Par­tidos co­mu­nistas, ope­rá­rios e ou­tras forças pro­gres­sistas, na sua luta comum contra o im­pe­ri­a­lismo, a ex­plo­ração e a guerra, em de­fesa da jus­tiça, do pro­gresso so­cial e da ami­zade, paz e co­o­pe­ração entre os povos.

 



Mais artigos de: Argumentos

Mobilizar a juventude para a luta

«Ir para junto das massas juvenis, mobilizá-las para a luta, reforçar a JCP». Esta é uma síntese possível das conclusões da Direcção Nacional da JCP na sua reunião de Outubro de 2015 e em grande medida a tarefa fundamental que, de forma...

Angola, quarenta anos

O quadragésimo aniversário da independência da República Popular de Angola foi assinalado com maior ou menor atenção pelos diversos canais portugueses de TV, os generalistas porventura com registos mais sumários, talvez um pouco mais atentos os canais de...