Vaga de protestos na Tunísia

Desempregados desesperados

Mi­lhares de tu­ni­sinos, so­bre­tudo jo­vens, têm exi­gido nas ruas de vá­rias ci­dades res­postas do go­verno à crise so­cial que tem no de­sem­prego o prin­cipal pro­pulsor.

Os jo­vens re­clamam o di­reito ao em­prego

A onda de pro­testos fez-se sentir em 16 das 24 pro­vín­cias da Tu­nísia as­su­mindo em muitos casos um ca­rácter de de­so­be­di­ência e de­safio às au­to­ri­dades. O go­verno tu­ni­sino impôs, sexta-feira, 22, o re­co­lher obri­ga­tório noc­turno, mas en­tre­tanto anun­ciou a fle­xi­bi­li­zação par­cial da me­dida jus­ti­fi­cando com a acalmia ve­ri­fi­cada du­rante o fim-de-se­mana. 
A re­volta tomou conta das ruas de­pois de um jovem li­cen­ciado de­sem­pre­gado ter mor­rido quando con­tes­tava a sua ex­clusão de um con­curso de em­prego pú­blico. A pri­meira ci­dade onde se re­a­li­zaram ma­ni­fes­ta­ções foi em Kas­se­rine, dia 16, mas ra­pi­da­mente ou­tros jo­vens, igual­mente de­ses­pe­rados pela falta de pers­pec­tivas, se­guiram o exemplo em de­zenas de lo­ca­li­dades. Exigem que o go­verno res­ponda à crise so­cial que tem no de­sem­prego o prin­cipal pro­pulsor.
Esta se­gunda-feira, 25, cen­tenas de jo­vens vol­taram a pro­testar em Sidi Bouzid acu­sando o exe­cu­tivo de ser um «bando de la­drões» e re­cla­mando o di­reito ao em­prego. A ci­dade, re­corde-se, es­teve no centro do le­van­ta­mento po­pular que ter­minou, em Ja­neiro de 2011, com o der­rube do então pre­si­dente Ben Ali. Isto de­pois de um jovem ven­dedor am­bu­lante, Mohamed Bou­a­zizi, se ter imo­lado, em De­zembro de 2010, contra a ex­plo­ração e o con­fisco fiscal.
A po­lícia tu­ni­sina tem res­pon­dido às ma­ni­fes­ta­ções di­ri­gidas a sedes e de­pen­dên­cias go­ver­na­men­tais com re­pressão. A vi­o­lência não tem, no en­tanto, ga­ran­tido a des­mo­bi­li­zação das massas e no sá­bado, 23, o go­verno reu­nido de emer­gência na ca­pital, Tunes, pro­meteu res­ponder às rei­vin­di­ca­ções.
A Tu­nísia tem uma eco­nomia de­pen­dente do tu­rismo, sector que tem per­dido pro­cura de­vido aos aten­tados ter­ro­ristas que desde o ano pas­sado as­solam o ter­ri­tório. Com um cres­ci­mento ané­mico (in­fe­rior a um por cento em 2015), o país é in­capaz de, in­sis­tindo na aposta no mesmo mo­delo, mi­norar a crise so­cial. Cerca de 700 mil pes­soas estão de­sem­pre­gadas, de acordo com os dados ofi­ciais. Um terço são jo­vens com ha­bi­li­ta­ções aca­dé­micas. Fac­tores que acrescem à pre­ca­ri­e­dade e à in­tensa ex­plo­ração que se faz sentir não apenas nas zonas onde do­mina o tu­rismo, mas igual­mente no centro e Sul da Tu­nísia, onde a pro­dução tem um peso sig­ni­fi­ca­tivo.




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