Coeso, determinado, confiante

Armindo Miranda (Membro da Comissão Política do PCP)

Por­tugal chegou ao final de 2015 com um saldo acu­mu­lado e ne­ga­tivo, no plano eco­nó­mico e so­cial, fruto de dé­cadas de po­lí­ticas de di­reita e de in­te­gração ca­pi­ta­lista na União Eu­ro­peia, que PS, PSD e CDS le­varam a cabo, apro­fun­dadas pelo go­verno PSD/​CDS nos úl­timos quatro anos.

 

Com um PCP ainda mais forte mais di­reitos serão con­quis­tados

O País está em­po­bre­cido, in­justo e de­pen­dente. Perdeu ca­pa­ci­dade pro­du­tiva, ri­queza, em­presas es­tra­té­gicas, em­prego e po­pu­lação. Os tra­ba­lha­dores e o povo têm visto os ren­di­mentos re­du­zidos, os di­reitos rou­bados e as suas con­di­ções de vida pi­orar. Mi­lhões de por­tu­gueses não con­se­guem ter nas suas vidas os bens de que ca­recem, a que têm di­reito e que eles pró­prios pro­duzem. O con­junto da agri­cul­tura e pescas, mais a in­dús­tria e cons­trução, cons­ti­tuía cerca de um terço da pro­dução na­ci­onal nas vés­peras da adesão ao euro. Hoje re­pre­senta menos de um quarto e perdeu um terço dos seus tra­ba­lha­dores.

Os ga­nhos desta obra des­trui­dora da po­lí­tica de di­reita foram di­rei­ti­nhos para os es­pe­cu­la­dores, ban­queiros, grupos eco­nó­micos e ou­tros que tais, esses sim os ver­da­deiros be­ne­fi­ciá­rios da ex­plo­ração sobre os tra­ba­lha­dores, re­for­mados, qua­dros téc­nicos e in­te­lec­tuais, jo­vens e micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios. E, por isso, no nosso País, ao mesmo tempo que cresceu o de­sem­prego foram ata­cadas as fun­ções so­ciais do Es­tado e cresceu a po­breza; cresceu também o nú­mero da­queles cuja ri­queza já ul­tra­passa os 25 mi­lhões de euros e o lucro dos prin­ci­pais grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.

Partes im­por­tantes da nossa so­be­rania e in­de­pen­dência foram trans­fe­ridas para uma União Eu­ro­peia onde, de forma ab­surda e pe­ri­gosa, tentam criar ins­ti­tui­ções com ca­rácter fe­deral, na au­sência de um «povo eu­ropeu» e uma «na­ci­o­na­li­dade eu­ro­peia». E onde, pe­rante uma in­sen­si­bi­li­dade as­sus­ta­dora, a muitos mi­lhões de ho­mens e mu­lheres nem se­quer é per­mi­tido vender a única ri­queza que pos­suem, a sua força de tra­balho.

Vamos e vamos bem

Com a al­te­ração po­si­tiva re­sul­tante das elei­ções de 4 de Ou­tubro do ano pas­sado, para a As­sem­bleia da Re­pú­blica, abriu-se uma ja­nela de es­pe­rança através da qual se viu a pos­si­bi­li­dade de um fu­turo mais justo para o povo por­tu­guês. O Co­mité Cen­tral do PCP, na sua úl­tima reu­nião, con­si­derou que foi já pos­sível, com o papel de­ter­mi­nante do PCP e ao con­trário do que acon­tece nos ou­tros países da UE, de­volver ren­di­mentos e di­reitos rou­bados e dar res­posta a as­pi­ra­ções mais ime­di­atas dos tra­ba­lha­dores e do povo e até travar a con­cessão e pri­va­ti­zação das em­presas de trans­portes ter­res­tres de pas­sa­geiros.

Con­tes­tados pela UE, que está a pres­si­onar e chan­ta­gear o Go­verno PS, vi­sando manter as po­lí­ticas de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento e de saque dos re­cursos na­ci­o­nais, estes im­por­tantes avanços só foram pos­sí­veis porque existe em Por­tugal um po­de­roso Par­tido Co­mu­nista, com grande in­fluência po­lí­tica e elei­toral e ainda mais forte na sua in­fluência so­cial. Daqui re­sulta claro que, com um PCP ainda mais forte, mais di­reitos serão re­postos e con­quis­tados e me­lhores con­di­ções te­remos para con­cre­tizar a Po­lí­tica Pa­trió­tica e de Es­querda – com um plano de de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico que crie cen­tenas de mi­lhares de postos de tra­balho, tendo como ali­cerces fun­da­men­tais a di­na­mi­zação do mer­cado in­terno (com o au­mento dos sa­lá­rios, das pen­sões e das re­formas e a con­cre­ti­zação de um pro­grama de in­ves­ti­mento pú­blico de apoio à pro­dução na­ci­onal em geral e de pro­dutos im­por­tados em par­ti­cular, avan­çando para a rein­dus­tri­a­li­zação do País); o as­sumir por parte do Es­tado do con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia como su­porte e motor fun­da­mental do de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico; a re­ne­go­ci­ação da dí­vida nos seus mon­tantes, juros e prazos; a as­sunção de uma po­lí­tica que ga­ranta a so­be­rania, a in­de­pen­dência e a afir­mação dos in­te­resses na­ci­o­nais nas re­la­ções com a União Eu­ro­peia e di­ver­si­fi­cando as re­la­ções eco­nó­micas com ou­tros es­tados fora da UE.

O grande ca­pital e os seus man­da­tá­rios po­lí­ticos estão a tentar apro­veitar os re­sul­tados das pre­si­den­ciais para des­viar o Par­tido do es­sen­cial, a ne­ces­si­dade de re­forçar a sua li­gação ao tra­ba­lha­dores e ao povo, ali­cerce es­sen­cial para a in­ten­si­fi­cação da luta que aca­bará por impor a al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda. É por aqui que vamos e vamos bem! Os grandes mo­mentos de avanços pro­gres­sistas no nosso País foram sempre al­can­çados pela fan­tás­tica força trans­for­ma­dora das massas em mo­vi­mento. Por muito que lhes custe, o PCP con­ti­nuará coeso, de­ter­mi­nado e con­fi­ante na luta pela con­cre­ti­zação em Por­tugal dos seus ideais e li­ber­ta­dores.

 



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