Os picanços

Henrique Custódio

Ao invés dos pi­canços, aves que es­petam as presas em es­pi­nhos para as con­sumir mais tarde, os co­men­ta­dores da praça mais pa­recem pi­ca­paus a bicar fre­ne­ti­ca­mente, não os troncos onde pre­tendem es­cavar um abrigo, mas as no­tí­cias ou eventos que di­a­ri­a­mente mudam, ao sabor da época ou da opor­tu­ni­dade.

Quando o Go­verno do PS tomou posse, um coro ca­tas­tró­fico pre­tendeu criar um ma­re­moto de des­graças, prog­nos­ti­cando «ins­ta­bi­li­dade» a rodos vinda de uma «ali­ança es­púria» entre o PS «do arco da go­ver­nação» e os «par­tidos da ex­trema es­querda» – o PCP, o PEV e o Bloco de Es­querda – (nestes tempos de des­norte po­lí­tico-so­cial, as iden­ti­fi­ca­ções ide­o­ló­gicas valem tudo e o seu con­trário: deixou de haver es­querda e ex­trema-es­querda para as subs­ti­tuírem por «mo­de­rados» e «ex­trema-es­querda» tudo ao molho, en­quanto a di­reita ab­sorveu a ex­trema-di­reita e van­gloria-se dessa iden­ti­dade aglu­ti­nante).

Afinal, a ins­ta­bi­li­dade não veio e a que bor­bu­lhava por aí, a agitar pa­ti­nhas no ar como as ba­ratas-tontas, não pas­sava do es­tertor da di­reita a fazer fi­guras tristes, ros­nando vin­ganças de ca­serna pelos cantos do País e ju­rando que es­tava em vias de «re­gressar ao poder» através de novas elei­ções, como Passos Co­elho in­siste em dizer, já ao es­tilo dos loucos fu­ri­osos.

A nova aposta pre­da­dora cen­trou-se no Or­ça­mento do Es­tado. «Vai dar bu­raco», pro­cla­mavam toc-toc, es­fu­si­antes, os pi­ca­paus.

«Nin­guém se en­tende na­quela casa», an­si­avam, ar­dentes, os plu­mi­tivos e que­jandos, ra­bis­cando mi­nu­ci­osos va­ti­cí­nios.

«À pri­meira volta das exi­gên­cias de Bru­xelas acaba-se o apoio do PCP» anun­ciava a plêiade de áu­gures.

E o Or­ça­mento do Es­tado foi apro­vado pa­ci­fi­ca­mente na As­sem­bleia da Re­pú­blica. Com um por­menor: o PSD, após chispar lume no he­mi­ciclo contra a pro­posta do Or­ça­mento, acu­sando-o de «des­pe­sista» e de ou­tras co­bras e la­gartos, não apre­sentou pro­postas al­ter­na­tivas, se­quer uma pro­posta de emenda.

A tanto mal apon­tado, afinal não havia re­paros a apre­sentar.

De­pois vi­raram-se para as agên­cias e os seus ra­tings mais «os mer­cados», essa besta sem iden­ti­dade nem pá­tria que sus­pen­deram sobre a ca­beça dos países, qual deus ex ma­china que tudo manda e ameaça. Adi­vi­nhavam ca­tás­trofes, que di­a­ri­a­mente «iam con­fe­rindo», como se diz nos te­le­jor­nais.

To­davia, as ca­tás­trofes não apa­re­ceram, «os juros» não dis­pa­raram (até têm apre­sen­tado si­nais de des­cida) e – cú­mulo dos cú­mulos – a agência Mo­ody's (uma das «más», a par da Fitch, no dizer da malta do PaF) até se saiu com um prog­nós­tico po­si­tivo em re­lação a este Or­ça­mento do Es­tado apro­vado na AR.

É claro que des­pa­charam o as­sunto em meia dúzia de pa­ta­co­adas.

Estes pi­ca­paus bem querem ser pi­canços, que es­petam as presas nos es­pi­nhos. Mas o mais certo é serem des­pro­mo­vidos a gra­lhas – isto sem ofensa para qual­quer das aves.

 



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