Máscara(s)

Manuel Rodrigues

O CDS-PP re­a­lizou no pas­sado fim de se­mana o seu con­gresso. Sobre o acon­te­ci­mento, nada a dizer, que no PCP temos por há­bito não nos imis­cuímos na vida in­terna dos ou­tros par­tidos. Foi o con­gresso de quem re­pre­senta e de­fende os in­te­resses de classe do grande ca­pital, como, aliás, deixou claro na sua prá­tica dos úl­timos quatro anos de go­verno com o PSD. Sempre a cortar nas «gor­duras do Es­tado» e, com estas, sempre a «en­gordar» os grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.

Mas se do modo como de­correu o con­clave nada se dirá, o mesmo não se pode afirmar de dois as­pectos es­pe­ci­al­mente re­le­vantes: por um lado, a des­ca­rada co­ber­tura me­diá­tica do evento pela co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante a tomar parte na ope­ração de bran­que­a­mento das pe­sadas res­pon­sa­bi­li­dades do CDS em quatro anos de um go­verno que des­graçou a vida a mi­lhões de por­tu­gueses; e por outro, as sin­to­má­ticas pro­postas de re­formas avan­çadas pela «nova» li­de­rança: Se­gu­rança So­cial, re­gime la­boral e, como co­ro­lário, a no­me­ação do go­ver­nador do Banco de Por­tugal como pre­texto para a re­visão da Cons­ti­tuição.

Quanto às re­formas, sem efeito, no fundo, trata-se das ve­lhas re­ceitas das classes do­mi­nantes: pri­va­tizar as fun­ções so­ciais do Es­tado (con­ti­nu­ando o corte nas «gor­duras»), re­duzir os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, rever a Cons­ti­tuição como grande obs­tá­culo ao apro­fun­da­mento da po­lí­tica de di­reita, des­ca­rac­te­rizar o re­gime de­mo­crá­tico e in­ter­romper a ac­tual fase da vida po­lí­tica por­tu­guesa de re­po­sição, de­fesa e con­quista de di­reitos, ainda que de al­cance li­mi­tado.

Por mais caras «novas» que mos­trem ou re­no­va­ções que anun­ciem, não con­se­guem es­conder o pro­jecto que têm e de­fendem para o País: a velha so­ci­e­dade es­tra­ti­fi­cada, com o poder da pa­ra­si­tária classe (hoje ainda) do­mi­nante que, graças ao ser­viço de par­tidos como o CDS-PP, con­centra e cen­tra­liza imen­sa­mente mais ri­queza do que a lar­guís­sima mai­oria da po­pu­lação por­tu­guesa.

Ontem como hoje, esta é a imagem real do CDS. E não há más­caras que con­sigam es­conder a sua ver­da­deira na­tu­reza de classe.




Mais artigos de: Opinião

Plano C

Depois do trambolhão nos idos de Outubro, o PSD de Passos Coelho entrou em estado de negação e nem o frenesim de Cristas no CDS parece capaz de o trazer à realidade. Refém do que se poderia classificar de síndrome eleitoral, PSD/Passos vagueiam nos últimos meses numa...

O nosso Congresso<br>e os dos outros

Não é só porque ainda temos na re­tina um Portas la­cri­me­jante num ce­nário ci­ne­ma­to­grá­fico, com um gar­rafal «obri­gado, Paulo» na aber­tura do con­gresso do CDS no fim-de- se­mana pas­sado, numa imagem sín­tese da po­lí­tica-es­pec­tá­culo. É so­bre­tudo porque agora que se co­meçam a re­a­lizar as pri­meiras reu­niões de dis­cussão do XX Con­gresso do PCP, me­rece a pena as­si­nalar as pro­fundas di­fe­renças entre a pre­pa­ração de um con­gresso de um par­tido re­vo­lu­ci­o­nário, en­rai­zado nos tra­ba­lha­dores e no povo, e dos ou­tros todos.

 

Degradante…

O presidente ucraniano, Porochenko, foi recebido na semana passada em Ancara pelo homólogo turco, Erdogan. Da visita e declaração conjunta divulgada ressaltam as questões da cooperação militar, tanto no plano bilateral, como no âmbito da NATO, de que a Ucrânia...

Imperialismo.com

Ano de 2028. A OmniCorp é a megaempresa de tecnologia robótica que produz toda a tecnologia militar dos EUA, que dominam o mundo com os seus drones. Mas há um problema, a Omnicorp quer alargar o uso de drones e máquinas de guerra ao próprio território dos EUA. Então, o seu...

Os «novos» utentes

Esta semana foi votado em Bruxelas um regulamento para o sector portuário. Um dos elementos estruturantes da proposta apresentada é o conceito de «utente». De «utente» dos portos. De «utente» das infra-estruturas. Esses «utentes» são as empresas que...