A chuápe

Manuel Gouveia

É natural que não saibas o que é uma chuápe. No fundo, são uma espécie de gambuzino chupista. Nunca ninguém viu nenhum, mas toda a gente já ouviu falar deles apesar de ninguém saber de facto o que são. Mas ao contrário dos gambuzinos, as chuápes saem caras, muito caras, e podem sozinhas rebentar com qualquer orçamento.

A chuápe não é um animal, apesar de gostar de pântanos, e não tem particular preferência pelas noites de lua cheia, apesar de gostar do escuro. A chuápe é uma aposta, uma mera aposta sobre o valor futuro da taxa de juro. Mas não é uma aposta qualquer, que dois amigos acertam enquanto bebem uma cerveja «Zé, aposto uma milena que amanhã a euribor a seis meses está nos 0,127»; «0,127? Estás doido, faço-te uma chuápe. E se passar dos 0,13 dobro o prémio».

A chuápe é uma aposta especial, que se faz por um longo período de tempo, anos, e a cada mês a malta recebe (ou paga) conforme a diferença entre a taxa de juro efectivamente registada e a apostada. Como sabe qualquer malandro, seja perito na vermelhinha ou em chuápes, primeiro dá-se uns trocos a ganhar, semeia-se a ideia do dinheiro fácil, e depois dá-se o golpe, e é sempre a sacar.

O esquema é brutalmente simples. Imaginem o Casillas a apostar que o Porto sofria três golos no próximo jogo. Quando, depois de três escandalosos frangos fosse receber o prémio, alguém lho pagaria? E ninguém investigaria? É que as chuápes são isso mesmo: a aposta sobre o valor futuro da taxa de juro realizada com as entidades financeiras que determinam o valor futuro da taxa de juro.

Então porque se pagam as chuápes? Porque se pagou já mais de dois mil milhões por causa das chuápes e ainda nos pedem mais 1,8 mil milhões? Porque lhes arranjaram um nome fixe e moderno, em inglês claro, e lhes chamam «swaps»? Porque as regras da famiglia são defendidas por uma instituição da City com o respeitável nome de «Commercial Court of London»?

Em vez de gastar mais 10 milhões em advogados para «defender» Portugal, e continuar pagando e submetendo-se à máfia financeira, o Governo deveria romper com tudo isto. Haja vontade e coragem. Afinal, um bagacinho custa só 80 cêntimos, e pode dar uma ajuda com a segunda.




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