À nora

Henrique Custódio

No dobar dos dias, a po­lí­tica tem bi­ombos para es­conder o que for pre­ciso, pug­nando para impor lei­turas da re­a­li­dade que caibam na ide­o­logia de quem os ma­nobra.

Num faz-de-conta des­me­dido, todos pa­recem fingir acre­ditar no que se im­pinge ou es­conde à frente e atrás dos bi­ombos, sendo certo que os al­vis­sa­reiros da ac­tu­a­li­dade pugnam (como sempre) para que se im­ponha o re­gisto pre­ten­dido pelo con­ser­va­do­rismo da di­reita. É dos li­vros, como convém não es­quecer.

Assim se ex­plica o tempo de an­tena re­gu­lar­mente con­ce­dido aos «ex-PaF» nas pri­meiras pá­ginas dos no­ti­ciá­rios, tempo co­a­bi­tado por uma corte de co­men­ta­dores, ana­listas e opi­na­dores a granel, es­pe­ci­a­listas a «en­qua­drar» os dis­lates da di­reita e a apontar fa­lhas, erros e ma­le­fí­cios no que seja o quo­ti­diano da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo pelos seus di­reitos e a sua eman­ci­pação.

Só com esta ma­ciça fa­lange de apoio ins­ta­lada na co­mu­ni­cação so­cial seria pos­sível fingir que o País não re­parou no es­bulho gi­gan­tesco que so­freu, em sa­lá­rios e di­reitos, im­posto pela ba­gunça go­ver­na­mental do PSD/​CDS.

E fingir – o que é pior – que esta gente, que de­gradou a vida e os di­reitos dos por­tu­gueses em quatro anos de go­ver­nação re­van­chista e la­brega, não tem contas a prestar e pode emergir do la­meiro em que atolou o País como Fenix re­nas­cida.

Há dias, Passos Co­elho, de ban­dei­rinha ao peito jul­gando-se chan­celer, ali­nhavou do púl­pito os se­guintes di­zeres: «[...] O vazio que foi ofe­re­cido, quer com o pro­grama na­ci­onal de re­forma, quer com o pro­grama de es­ta­bi­li­dade, não é to­le­rável […] o pro­grama que se nos ofe­rece […] é uma mis­ti­fi­cação que ig­nora to­tal­mente as con­di­ções reais de que par­timos. […] estão numa fuga em frente, sem olhar para a re­a­li­dade, au­men­tando dra­ma­ti­ca­mente os riscos a que vão su­jeitar a so­ci­e­dade por­tu­guesa [...]». E por aí fora, com abun­dantes «ca­mi­nhos pe­ri­gosos», «ce­gueiras», «va­zios» e «mis­ti­fi­ca­ções», mas sem uma ideia, uma pro­posta, se­quer uma frase com sen­tido, gas­tando um mi­nuto e vinte a dizer nada e re­ser­vando o mi­nuto se­guinte a de­fender Só­crates de um edi­to­rial do Pú­blico (em paga pela con­fissão do «preso 44» de que «não acei­taria ser 1.º mi­nistro sem ga­nhar as elei­ções»?).

Também o CDS tem o campo aberto às pe­ro­ra­ções da nova líder, As­sunção Cristas, que há dias pa­receu as­sumir-se em co­missão de inqué­rito pri­va­tiva no «caso Banif», ao ga­rantir que Víctor Cons­tâncio irá depor «di­recta ou in­di­rec­ta­mente», seja lá isso o que for.

Estas e ou­tras fa­cún­dias são re­pe­tidas à exaustão nos ca­nais te­le­vi­sivos e em vá­rios dias se­guidos, ex­pan­dindo-se em jor­nais, onde re­gu­lar­mente ocupam as pri­meiras-pá­ginas.

Mas nem assim con­se­guem es­conder que PSD e CDS andam mesmo à nora, em fla­grante de­sa­tino...




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