URAP - 40 anos de luta

Maríla Villaverde

A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) faz 40 anos. Foi em 30 de Abril de 1976 que um grupo de democratas, com grande intervenção durante o regime fascista, fundou oficialmente a URAP. Grande parte deles pertenceu à Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos – organismo unitário que, com grande coragem, afrontou o regime, prestando apoio material e jurídico aos presos e suas famílias, divulgando no País e no estrangeiro notícias sobre as torturas a que os presos estavam sujeitos, denunciando a política repressiva do regime fascista.

Logo após a sua criação, a URAP associou-se à Federação Internacional de Resistentes (FIR), com sede em Berlim, e, juntamente com outras associações congéneres, tem participado em iniciativas internacionais, de que se destaca «O Comboio dos 1000», visita organizada pela FIR em colaboração com a Organização dos Veteranos da Bélgica e a Fundação Auschwitz, em que 1000 jovens de toda a Europa visitam o Campo de Concentração de Auschwitz, como símbolo das atrocidades do nazi-fascismo.

Em 2012, a URAP, com o apoio do GUEL do Parlamento Europeu, levou 100 jovens de várias escolas. Os testemunhos que estes jovens fizeram posteriormente demonstraram bem como foi importante terem participado naquela visita de esclarecimento e de homenagem aos que sofreram em Auschwitz a tortura e a morte às mãos dos facínoras nazis.

A actividade da URAP durante estes 40 anos tem sido múltipla, tendo tomado sempre posição relativamente à actualidade política nacional e internacional, particularmente sobre os temas da resistência e da defesa da democracia.

Destacamos, entre tantas outras, a luta contra o Museu de Salazar, em Santa Comba Dão, com a recolha de 16 mil assinaturas apresentadas, em audiência, ao presidente da Assembleia da República. Conseguimos travar a construção desse pseudo museu, que mais não era que uma tentativa de «peregrinação» à terra do ditador fascista, pois tudo o que interessa para a História encontra-se na Torre do Tombo.

As visitas guiadas ao Forte de Peniche, sobretudo de jovens estudantes, acompanhadas por ex-presos políticos, bem como as exposições, debates e sessões nas escolas, têm sido uma constante para divulgar, junto das novas gerações, o que foi o fascismo e a resistência.

Os 40 anos do 25 de Abril e as comemorações dos 70 anos do fim da II Guerra Mundial foram momentos altos da actividade da URAP em que, com a Tocha da FIR, percorreu todo o País com variadas iniciativas em que colaboraram escolas, autarquias e colectividades.

Contributo para a História

A URAP, nestes 40 anos da sua existência, para além da denúncia do que foi o fascismo, quer em Portugal quer no Mundo, tem dado um contributo importante para a História do nosso País, com a investigação do nome de todos os presos do Forte de Peniche e da cadeia do Porto. Após uma luta tenaz pela assinatura de um protocolo com o Ministério do Exército, a URAP vai finalmente assinalar na antiga sede da PIDE no Porto, onde é hoje o Museu Militar do Porto, os espaços onde foram presos e torturados milhares de antifascistas.

A memória dos antifascistas deportados para o Campo de Concentração do Tarrafal e dos que aí perderam a vida, está sempre presente na actividade da URAP que, anualmente, organiza uma Romagem junto ao Mausoléu no Alto de São João. Em 2009, a convite do primeiro-ministro de Cabo Verde, a URAP participou num Simpósio Internacional e, com uma delegação de 40 pessoas, homenageou os que morreram no campo por lutarem por um país livre e democrático.

No nosso trabalho contra o esquecimento, a URAP foi visitar, em Angra do Heroísmo, os Forte de S. João Baptista e o de S. Sebastião – «O Castelinho» – que serviam de local de detenção de presos políticos e de trânsito para muitos que se dirigiam para o Tarrafal. Pôde ver as condições de desumanidade a que os detidos estiveram sujeitos e comprometeu-se, também, com a Câmara Municipal, a fazer o levantamento de todos os presos que ali estiveram encerrados.

A comemoração dos 40 anos da URAP ocorre quando se abrem caminhos de esperança para Portugal, mas também quando em muitos países o fascismo estende as suas garras. A URAP compromete-se a continuar o trabalho dos homens e mulheres que, em 30 de Abril de 1976, mesmo já em liberdade, consideraram que uma Organização como esta fazia falta em Portugal.



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