Foi o Presidente do Sindicato quem o disse, referindo-se ao acordo entre o Sindicato dos Estivadores e o patronato do Porto de Lisboa: um empate, com sabor a vitória pelo golo marcado fora.
Depois de meses de luta, o acordo assinado trava os principais objectivos de patronato: implica a assinatura de um novo contrato colectivo (que os patrões fizeram caducar em Novembro de 2015); implica a integração nos quadros da empresa dos trabalhadores precários que o patronato deixou de contratar em Novembro de 2015; aponta para o fim da PORLIS, da empresa de trabalho portuário criada pelos patrões para colocar na insolvência a actual empresa de trabalho portuário (ETP-L), com a integração dos seus trabalhadores na ETP-L; mantém o essencial dos direitos dos trabalhadores.
Percebo a cautela e o alerta. Primeiro, porque é preciso que os patrões cumpram o acordo, e estes já deram bastas amostras da sua pouca seriedade. Depois, porque é verdade que o essencial da ofensiva patronal é derrotada, mas os patrões não deixam de conseguir alguns dos seus objectivos, e cada um deles é um injusto agravamento da exploração. E por fim, porque o acordo apenas incide no Porto de Lisboa, o que implica que os restantes estivadores continuam sujeitos a níveis crescentes de exploração e a lei do Trabalho Portuário de 2013 continua a ameaçar toda a classe.
Mas foi um acordo necessário e positivo, para a luta que continua. Repito: percebo a ideia do dirigente, até concordo com o que ele quer dizer, mas não foi por acaso que os trabalhadores sentiram este empate como uma vitória. E das grandes. E também foi. Porque escolher o caminho da luta em vez do da conciliação e da cumplicidade com a exploração é já vencer. Porque neste processo, os trabalhadores derrotaram ofensivas planeadas durante anos, como quando impuseram a extinção do sindicato criado para os dividir ou da empresa criada para os despedir. Porque resistiram a todas as campanhas difamatórias, sem se desorganizar e sem se intimidarem.
E afinal, na sociedade capitalista, não são os golos marcados pelos trabalhadores sempre golos marcados fora? E não está sempre a vitória na luta que continua?