- Nº 2232 (2016/09/8)

Palco Solidariedade

Festa do Avante!

Situado noutro local e com melhores condições para público, artistas, camaradas e amigos envolvidos na produção dos espectáculos (cuja entrega militante e fraternidade criou um ambiente de trabalho excepcional que cabe aqui realçar), o Palco Solidariedade foi um ponto de atracção no Espaço Internacional.

A oferta musical foi variada. Podemos dizer quase para todos os gostos. A música popular e tradicional portuguesa esteve em destaque, marcando presença nos três dias. No total, foram quatro concertos do género, com destaque para os realizados sexta-feira por João Queiroz, e domingo, a encerrar, por Luís Galrito e o projecto Canto Livre. No mesmo género, actuaram ainda Yemadas Band (sexta-feira) e Canções de Labor e Lazer (sábado).

Mas houve também música tradicional russa (Oleg Chumakov), jazz vintage (24 Robbers Swing Band) e World Music (Gapura), estes dois últimos a fazerem do Palco Solidariedade um terreiro de dança na noite de sexta-feira.

No sábado, parte da tarde foi reservada para projectos que se pretendem afirmar no panorama do Rock/Pop (Cursed Cliff, No Rain) e na World Music (Torga). No Funk, os Supernova fizeram um espectáculo superlativo a todos os níveis. Quem passava frente ao palco ficava com prazer. E assim a moldura humana foi crescendo, crescendo, e ficou para a noite.

Primeiro, para o concerto de Los Cavakitos, banda de mariachi da margem Sul do Tejo que, com arranjo musical próprio para temas conhecidos e traduzidos, criaram o ambiente de boa disposição que recebeu os Peste & Sida. Estes levaram ao Palco Solidariedade o espectáculo de comemoração dos seus 30 anos (que já haviam tocado à tarde no Palco 25 de Abril), trazendo como convidados ex-membros da banda. A multidão pediu mais e mais Punk Rock. Os Peste não defraudaram os fãs, mas o sucesso e identificação com um grupo icónico deixa sempre sabor a pouco. Queríamos ter ouvido aquela, e aquela outra música. Outras oportunidades virão, até porque os Peste & Sida são da Festa, e João San Payo não o escondeu.

Resistência e memória

Ao início da noite de sábado, o projecto El sur com Rui Alves e Francisco Di Carlo levaram ao palco a arte solidária com os povos da América Latina, tendo ocorrido mesmo uma intervenção política a propósito da actual ofensiva imperialista no subcontinente e da reacção resistente dos povos por parte de um representante político de Cuba, país que está no centro da luta anti-imperialista no subcontinente e no mundo.

No domingo à noite, já depois da actuação vespertina do Lobo Meigo (Rock/PopIndie) e da muito animada Orquestra 7 (Animação de Rua) e do Comício da Festa no Palco 25 de Abril, subiu ao Palco Solidariedade a memória da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que cumpre 80 anos do seu início.

Primeiro, António Portanet cantou Garcia Lorca (poeta assassinado pelos fascistas a 18 de Agosto de 1936). Em seguida, Jorge Cabral, da organização do Palco Solidariedade, apresentou o espectáculo, dando importantes notas sobre o contexto em que ocorreu o conflito e as forças envolvidas, o significado e papel da solidariedade internacionalista, sobretudo do PCP e dos comunistas de todo o mundo, que viam na Guerra Civil Espanhola o prelúdio da Segunda Guerra Mundial e lançaram-se num combate sem trégua à ascensão do nazi-fascismo.

Depois, veio a poesia, com Luísa Ortigoso, Fernando Jorge Lopes e José Carlos Faria, a declamarem Miguel Torga, Pablo Neruda, Gabriel Celaya e Miguel Hernandez; falou um representante do Partido Comunista de Espanha, e a evocação terminou com João Queirós à viola e Manuel Pires da Rocha (Brigada Victor Jara) a acompanharem Margarida Leal a cantar «Ay Carmela», e o público de punhos no ar com a memória e a resistência.

HJ