E não se pode taxá-lo?

Anabela Fino

Se a de­ma­gogia e a falta de de­coro pa­gassem im­posto, grande parte dos pro­blemas fi­nan­ceiros do País há muito que es­taria re­sol­vida só à conta do PSD. Os úl­timos dias, então, te­riam sido ver­da­deiros jack­pots. Na im­pos­si­bi­li­dade de em tão curto re­gisto dar nota de todas as pe­ri­pé­cias, lem­bremos a ine­fável his­tória dos «fil­tros» com que Passos Co­elho re­vogou a ir­re­vo­gável de­cisão de apre­sentar o livro de um autor que lhe me­rece todo o res­peito e con­si­de­ração – a pontos de aceitar a in­cum­bência sem co­nhecer a obra –, de­sar­rin­canço ti­rado a ferros ao fim de muitos dias de po­lé­mica e não menos es­pa­danar de «li­te­ra­tura» de sar­jeta. Ao pre­zado amigo de Passos fal­taram os «fil­tros», as­sumiu este con­tris­tado em praça pú­blica como quem sa­code as borras do ca­pote, pelo que pediu es­cusa da missão, cuja viria a abortar na forma de can­ce­la­mento do tão ba­da­lado e pro­me­tedor lan­ça­mento da coisa.

Mal a po­eira tinha as­sen­tado e já Passos Co­elho se lan­çava noutra, desta feita para se gabar de o seu go­verno ter sido «bem su­ce­dido» em co­locar Por­tugal no «radar do in­ves­ti­mento di­recto ex­terno», com be­ne­fí­cios para a dí­vida pú­blica e para a eco­nomia real. Sa­bendo-se o es­tado da dí­vida (130% do PIB) e da eco­nomia real em que o go­verno PSD/​CDS deixou o País, com­pro­vando os dados ofi­ciais que a es­ma­ga­dora mai­oria do re­fe­rido in­ves­ti­mento em Por­tugal é feito em apli­ca­ções fi­nan­ceiras para ar­re­cadar di­vi­dendos e ca­na­lizar ca­pi­tais para o es­tran­geiro, e sendo re­co­nhe­cido, até prova em con­trário, que o radar é um apa­relho que serve para as­si­nalar os ob­jectos afas­tados, temos que Passos Co­elho deve estar também com falta de fil­tros para dis­tin­guir a re­a­li­dade da fan­tasia, tem o radar ava­riado ou con­tinua a pensar que os por­tu­gueses são parvos.

Já no res­pei­tante à re­cor­rente po­lé­mica do fi­nan­ci­a­mento dos par­tidos, o pro­blema não é de radar mas de bús­sola, tal a apa­rente de­so­ri­en­tação. Nesta ma­téria a re­vi­ra­volta foi de 180º (e não 360 como afirmou o super co­men­tador Mar­ques Mendes, que seria voltar ao ponto de par­tida, pro­vando que no me­lhor pano cai a nódoa), co­me­çando por ser contra os cortes, pas­sando de­pois ao nim e aca­bando, até ver, por se ma­ni­festar a favor. Nada mau para quem, bor­rando a pin­tura, diz estar nas tintas para os re­sul­tados elei­to­rais.

 



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