Colômbia

Albano Nunes

É uma evi­dência que o povo co­lom­biano quer a paz

As ques­tões da His­tória estão no centro da luta ide­o­ló­gica entre o ca­pital e o tra­balho, entre as forças do pro­gresso so­cial e da paz e as forças da re­acção e da guerra. Rever a His­tória, ter­gi­versar e fal­si­ficar pro­cessos e acon­te­ci­mentos mar­cantes, apagar, di­mi­nuir e ca­lu­niar a re­sis­tência e a luta li­ber­ta­dora dos tra­ba­lha­dores e dos povos é o modo de estar e o dia a dia da classe do­mi­nante. A luta pela ver­dade his­tó­rica é uma com­po­nente fun­da­mental da luta contra o grande ca­pital e o im­pe­ri­a­lismo no plano mun­dial e em cada uma das frentes em que esta luta se des­dobra em todos os con­ti­nentes, da Síria ao Brasil, da Pe­nín­sula da Co­reia à África Aus­tral, da Ucrânia à Ve­ne­zuela bo­li­va­riana.

Veja-se o caso con­creto da Colômbia onde após mais de quatro anos de ne­go­ci­a­ções em Ha­vana entre o go­verno co­lom­biano e as Forças Ar­madas Re­vo­lu­ci­o­ná­rias Co­lom­bi­anas – Exér­cito do Povo se chegou a um Acordo de paz que, após meio sé­culo de guerra e de co­ra­josas lutas po­pu­lares, num pro­cesso ori­ginal em que se com­bi­naram cri­a­ti­va­mente todas as formas de luta, abriu ao povo co­lom­biano a pers­pec­tiva de uma paz com jus­tiça so­cial. É certo que contra este Acordo se mo­bi­li­zaram po­de­rosas forças da re­acção e da te­ne­brosa oli­gar­quia co­lom­biana e que, num ple­bis­cito com enorme abs­tenção, o Acordo não re­co­lheu, por margem mí­nima, a mai­oria dos votos ex­pressos. Mas é uma evi­dência que o povo co­lom­biano quer a paz e a prová-lo estão as grandes de­mons­tra­ções po­pu­lares que em todo o país re­clamam a sua im­ple­men­tação.

Neste quadro de aguda luta po­lí­tica, a atri­buição do Prémio Nobel da Paz ao pre­si­dente José Ma­nuel Santos vem ob­jec­ti­va­mente va­lo­rizar os es­forços de paz e con­tra­riar as forças da guerra que, re­cor­rendo ao ter­ro­rismo de Es­tado e aos bandos pa­ra­mi­li­tares fas­cistas, sempre pro­cu­raram o es­ma­ga­mento puro e sim­ples da guer­rilha re­vo­lu­ci­o­nária e que, em con­luio com os EUA, apli­caram o «Plano Colômbia», as­sas­si­naram mi­lhares de sin­di­ca­listas e mem­bros da União Pa­trió­tica, ali­men­taram os si­nis­tros ne­gó­cios dos mais cé­le­bres car­téis da droga do mundo. Foi assim que as pró­prias FARC-EP in­ter­pre­taram pu­bli­ca­mente um prémio que os­ten­si­va­mente as des­cri­mina e que en­cerra um grau de am­bi­gui­dade que não po­demos deixar de as­si­nalar, pois fa­ci­lita a re­visão da his­tória do con­flito co­lom­biano, das suas raízes so­ci­o­e­co­nó­micas e po­lí­ticas, dos res­pon­sá­veis por tanta morte e so­fri­mento, da­queles que efec­ti­va­mente lu­taram, não pela paz dos ce­mi­té­rios mas por uma paz com jus­tiça so­cial. É pre­ciso não es­quecer que foram os la­ti­fun­diá­rios (que agora saem a perder com o com­pro­misso que o Acordo de Paz sig­ni­fica) e o poder po­lí­tico que de­sen­ca­de­aram a vi­o­lência ter­ro­rista contra os cam­po­neses es­po­li­ados das suas terras. A au­to­de­fesa cam­po­nesa e as FARC-EP sur­giram como res­posta à vi­o­lência re­ac­ci­o­nária que, numa es­piral sem fim, en­cheu as pri­sões e os ce­mi­té­rios de com­ba­tentes contra a di­ta­dura, numa luta he­róica pela de­mo­cracia, o pro­gresso, a jus­tiça so­cial e a so­be­rania na­ci­onal em que os co­mu­nistas, es­trei­ta­mente li­gados ao povo, ti­veram e têm o mé­rito prin­cipal.

Quando a re­acção pro­cura sub­verter e li­quidar o pro­cesso de paz, os co­mu­nistas por­tu­gueses de­fendem a ver­dade his­tó­rica, re­jeitam a ten­ta­tiva de cri­mi­na­li­zação da re­sis­tência, rei­teram a sua so­li­da­ri­e­dade com os co­mu­nistas, os re­vo­lu­ci­o­ná­rios e o povo co­lom­bi­anos na sua luta pela con­quista da paz com jus­tiça so­cial.

 



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