Portugueses no mundo

João Frazão

Todos os dias úteis, a rádio pú­blica emite uma ru­brica de meia dúzia de mi­nutos in­ti­tu­lada «Por­tu­gueses no Mundo», te­má­tica que tem agora também um for­mato te­le­vi­sivo.

Todas as ma­nhãs, à hora do trân­sito, uma sim­pá­tica jor­na­lista te­le­fona para um qual­quer país do mundo e, do lado de lá, apa­rece, in­va­ri­a­vel­mente, uma não menos sim­pá­tica voz, a dar conta de como, para lá das sau­dades do sol, do mar, da sar­dinha as­sada e dos pas­téis de nata, vivem bem, são fe­lizes e a ex­pe­ri­ência de emi­gração correu bem e valeu a pena.

Note-se que não há, nestas li­nhas, ne­nhum aze­dume ou des­va­lo­ri­zação face à im­por­tância do fe­nó­meno da emi­gração, em geral, e do papel dos mi­lhões de emi­grantes em par­ti­cular, na so­ci­e­dade por­tu­guesa e de como, em muitas cir­cuns­tân­cias, essa foi a so­lução para os pro­blemas cri­ados por cri­mi­nosas po­lí­ticas con­cre­ti­zadas, seja pelo fas­cismo, que ori­ginou o surto de emi­gração dos anos 60, seja pela po­lí­tica de di­reita das úl­timas dé­cadas agra­vada bru­tal­mente pelos PEC e pelo pacto de agressão, que ex­pul­saram do País, num pe­ríodo muito con­cen­trado de tempo, mais de meio mi­lhão de por­tu­gueses.

Mas não po­demos deixar de as­si­nalar que, pelo tom de todas as peças, se pro­cura dar da emi­gração por­tu­guesa uma imagem idí­lica, gla­mo­rosa até, em que muitos dos emi­grantes não con­se­guirão re­co­nhecer-se, pelas di­fi­cul­dades que en­con­tram e pelos obs­tá­culos que lhe são co­lo­cados seja pelo grau de ex­plo­ração a que são su­jeitos na sua con­dição de emi­grantes, seja por uma po­lí­tica de des­va­lo­ri­zação do apoio a estes por­tu­gueses, de que o en­cer­ra­mento de con­su­lados le­vados a cabo pelo go­verno an­te­rior é ex­pres­sivo exemplo.

Este tipo de pro­gramas, in­se­ridos numa ló­gica de afir­mação das ditas «no­tí­cias po­si­tivas», não podem ser des­li­gados da ofen­siva ide­o­ló­gica que pro­cura não apenas res­pon­sa­bi­lizar cada um pela sua si­tu­ação pes­soal, par­tindo da ideia de que se todos os que apa­recem no pro­grama con­se­guem, por que é que cada um que está de­sem­pre­gado não con­segue, mas também es­quecer os mi­lhares de ho­mens e mu­lheres que tendo ten­tado a sua sorte no es­tran­geiro, porque o seu país os aban­donou, não en­con­traram o El Do­rado, antes con­ti­nuam a lutar com sé­rios pro­blemas tanto mais agudos quanto se passam a mi­lhares de kms da sua terra natal.




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