Absolvido pela História

Nas­cido a 13 de Agosto de 1926 no seio de uma fa­mília de pro­pri­e­tá­rios ru­rais na Pro­víncia de Pinar del Río, a cons­ci­ência so­cial e po­lí­tica de Fidel Castro des­pontou através da con­vi­vência com os tra­ba­lha­dores hai­ti­anos na fa­zenda pa­terna. Em Ha­vana con­clui o en­sino li­ceal e tran­sita para o en­sino su­pe­rior, onde cursa Di­reito, Ci­ên­cias Po­lí­ticas e Di­reito Di­plo­má­tico, e inicia um per­curso de luta e li­de­rança po­lí­tica pela trans­for­mação so­cial e a so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­onal que lhe vale vá­rias pri­sões. Con­tacta com o mo­vi­mento ju­venil e es­tu­dantil la­tino-ame­ri­cano e o mar­xismo-le­ni­nismo no final dos anos 40 e início dos anos 50 do sé­culo pas­sado, no­ta­bi­li­zando-se no com­bate à do­mi­nação do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano sobre Cuba, a Amé­rica La­tina e o Ca­ribe. É já en­quanto ad­vo­gado que se torna co­nhe­cido como de­fensor dos po­bres e hu­mildes, e um no­tável di­ri­gente da con­tes­tação po­pular à di­ta­dura im­posta por Ful­gencio Ba­tista.

A 26 de Julho de 1953 li­dera a pri­meira ten­ta­tiva de der­rube da di­ta­dura. O as­salto ao Quartel de Mon­cada é der­ro­tado e Fidel é preso. As­sume a sua pró­pria de­fesa pe­rante o Tri­bunal trans­for­mando-a num li­belo acu­sa­tório ao re­gime cu­bano, aos EUA e ao im­pe­ri­a­lismo. «Ne­nhuma arma, ne­nhuma força é capaz de vencer um povo que de­cide lutar pelos seus di­reitos», afirma, antes de as­se­gurar: «Con­denem-me, não me im­porta, a His­tória ab­solver-me-á». O texto da sua de­fesa é dis­tri­buído clan­des­ti­na­mente e torna-se um do­cu­mento de cons­ci­en­ci­a­li­zação, mo­bi­li­zação e agi­tação po­lí­tica.

Do cár­cere parte, 22 meses de­pois em re­sul­tado de uma in­tensa cam­panha que obriga a que seja am­nis­tiado, para o exílio no Mé­xico, onde co­nhece Er­nesto «Che» Gue­vara. Funda com o re­vo­lu­ci­o­nário co­mu­nista ar­gen­tino, com Raúl Castro e Ca­milo Ci­en­fu­egos, entre ou­tros, o Mo­vi­mento 26 de Julho. A 25 de No­vembro de 1956, 82 guer­ri­lheiros partem a bordo do iate Granma em di­recção a Cuba para ini­ci­arem a luta ar­mada. O con­tin­gente é di­zi­mado. Fidel, Che, Raúl e Ca­milo re­a­grupam na Si­erra Ma­estra e dali des­ferem su­ces­sivos golpes mi­li­tares e po­lí­ticos na di­ta­dura que man­tinha Cuba no papel de ca­sino, bordel e la­ti­fúndio dos EUA.

Fidel e os guer­ri­lheiros ga­nham su­ces­sivas ba­ta­lhas e cres­cente apoio po­pular. A 1 de Ja­neiro de 1959, 25 meses de­pois do início da in­sur­reição, Fidel entra vi­to­rioso em San­tiago de Cuba. Os tra­ba­lha­dores cum­prem uma greve geral de­cre­tada para en­frentar o golpe de Es­tado pro­mo­vido pelos im­pe­ri­a­listas norte-ame­ri­canos em Ha­vana, onde o Mo­vi­mento 26 de Julho e Fidel Castro en­tram a 8 de Ja­neiro de 1959.

A 13 de Fe­ve­reiro desse ano, Fidel Castro as­sume a chefia de um go­verno que en­frenta inú­meras ofen­sivas por parte do im­pe­ri­a­lismo, in­cluindo ter­ro­ristas. É no fu­neral das ví­timas de uma destas in­ten­tonas, em 1960, que Fidel Castro pro­fere a con­signa que desde então ecoa entre os cu­banos e os povos que an­seiam pela in­de­pen­dência, a so­be­rania e a li­ber­dade: «Pá­tria ou morte. Ven­ce­remos!».

A 16 de Abril de 1961, Fidel Castro chama o povo e os tra­ba­lha­dores à de­fesa da «Re­vo­lução So­ci­a­lista e de­mo­crá­tica dos hu­mildes, com os hu­mildes e para os hu­mildes», ame­a­çada pela imi­nente in­vasão do país por um grupo mer­ce­nário or­ga­ni­zado pela CIA, a qual se con­cre­tiza em Playa Girón mas acaba es­ma­gada.

Conduz o povo cu­bano du­rante a cha­mada Crise dos Mís­seis, em 1962. Os EUA, então pre­si­didos por J. F. Ken­nedy, apro­veitam para cerrar o blo­queio eco­nó­mico im­posto contra Cuba a 7 de Fe­ve­reiro de 1962, o qual ainda per­siste, tendo sido agra­vado por todos os pre­si­dentes norte-ame­ri­canos ao longo de 54 anos.

Não obs­tante, Cuba e o povo cu­bano, numa as­si­na­lável gesta de re­sis­tência e ca­pa­ci­dade de re­a­li­zação, al­can­çaram feitos ci­vi­li­za­ci­o­nais tan­gí­veis nos do­mí­nios da saúde, da edu­cação, do des­porto, da cul­tura, do com­bate à mi­séria, à fome e a ou­tros fla­gelos que con­ti­nuam a as­solar mi­lhões de seres hu­manos.

Desde 1969, mais de 325 mil pro­fis­si­o­nais de saúde cu­banos par­ti­ci­param em mis­sões em 158 países e na Es­cola In­ter­na­ci­onal de Ci­ên­cias Mé­dicas já se gra­du­aram de­zenas de mi­lhares de clí­nicos de mais de 80 países. Mais de 10 mi­lhões de pes­soas apren­deram a ler e a es­crever graças a um mé­todo ino­vador le­vado por Cuba às quatro par­tidas do mundo, ex­pressão do em­penho in­ter­na­ci­o­na­lista de Cuba, in­cluindo na ajuda à li­ber­tação dos povos opri­midos pelo jugo co­lo­nial ou ame­a­çados pelo im­pe­ri­a­lismo. An­gola é o caso exem­plar, tendo Cuba des­lo­cado mi­lhares de ho­mens e mu­lheres e grande parte do seu apa­rato mi­litar para o Cuito Cu­a­na­vale, entre 1987 e 1988, onde o apartheid sul-afri­cano foi der­ro­tado, ga­ran­tindo, assim, não apenas a in­de­pen­dência de An­gola, mas também da Na­míbia, e ace­le­rando de forma de­ter­mi­nante a queda do re­gime se­gre­ga­ci­o­nista na África do Sul.

Fidel Castro, que afirmou que «quem não for capaz de lutar pelos ou­tros, não será nunca su­fi­ci­en­te­mente capaz de lutar por si pró­prio», é parte cen­tral e in­dis­so­ciável desta his­tória. Como o é o Par­tido Co­mu­nista de Cuba que fundou e do qual foi pri­meiro se­cre­tário entre 1965 e 2011, acu­mu­lando com a pre­si­dência do Con­selho de Es­tado e do Con­selho de Mi­nis­tros até 2008, quando, de­vido à do­ença que o afectou desde 2006 afas­tando-o do exer­cício dos cargos pú­blicos, re­nun­ciou.

«Os ho­mens morrem, o Par­tido é imortal», disse em 1973 o homem que teve um papel de­ter­mi­nante no es­ta­be­le­ci­mento de laços fra­ternos e de co­o­pe­ração entre os países cha­mados do Ter­ceiro Mundo, que foi capaz de unir o povo cu­bano du­rante o Pe­ríodo Es­pe­cial de­cor­rente das der­rotas do so­ci­a­lismo no Leste da Eu­ropa, no final dos anos 80 e início dos anos 90. Já neste novo sé­culo, com o ma­lo­grado pre­si­dente ve­ne­zu­e­lano Hugo Chávez, foi de­ter­mi­nante no inau­gurar de um novo pe­ríodo de li­ber­tação da do­mi­nação de re­corte co­lo­nial na Amé­rica La­tina, bem como no en­tre­laçar dos povos num novo fô­lego de co­o­pe­ração mul­ti­la­teral.

Desde 2008, Fidel, que gra­ce­java com o facto de ter so­bre­vi­vido a mais de 630 ten­ta­tivas de as­sas­si­nato, produz im­por­tantes textos, dando, aliás, con­ti­nui­dade ao papel de «sol­dado das ideias» que sempre as­sumiu. Con­tri­buiu com as suas re­fle­xões para inú­meras ba­ta­lhas, e acom­pa­nhando o pro­cesso de nor­ma­li­zação das re­la­ções entre Cuba e os EUA e a in­tenção do pre­si­dente Ba­rack Obama de apagar a me­mória e en­terrar a dí­vida norte-ame­ri­cana pelos danos ma­te­riais e hu­manos pro­vo­cados pelo cri­mi­noso blo­queio e pelo fi­nan­ci­a­mento do ter­ro­rismo contra Cuba por parte dos EUA, Fidel Castro deixou claro que «Não ne­ces­si­tamos que o im­pério nos ofe­reça nada».

 



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Venceremos!

«É com pro­funda dor que com­pa­reço para in­formar o nosso povo e os povos do mundo que hoje, 25 de No­vembro, às 10h29 da noite, fa­leceu o Co­man­dante em Chefe da Re­vo­lução Cu­bana Fidel Castro Ruz». Foi com estas pa­la­vras que o pre­si­dente da Re­pú­blica de Cuba e irmão de Fidel, Raúl Castro, anun­ciou o de­sa­pa­re­ci­mento fí­sico de um ex­cep­ci­onal re­vo­lu­ci­o­nário cuja «luta, acção e pa­lavra ins­pi­rada ani­maram e con­ti­nu­aram a animar a luta das forças pro­gres­sistas e re­vo­lu­ci­o­ná­rias de todos os con­ti­nentes», como su­bli­nhou Je­ró­nimo de Sousa.