Proposta pelo PCP em projecto de resolução

Manter Novo Banco na esfera pública

O PCP de­fende que a so­lução para o Novo Banco está no con­trolo pú­blico da ins­ti­tuição vi­sando o fi­nan­ci­a­mento à eco­nomia na­ci­onal e o re­forço do sis­tema pú­blico ban­cário.

A banca só é na­ci­onal se for pú­blica

Nesse exacto sen­tido aponta o pro­jecto de re­so­lução por si en­tregue em Fe­ve­reiro de 2016 e que a ban­cada co­mu­nista pro­porá para agen­da­mento na pró­xima con­fe­rência de lí­deres (dia 18).

Com o pro­cesso re­la­tivo à venda do Novo Banco a co­nhecer de­sen­vol­vi­mentos nas úl­timas se­manas, ganha assim plena ac­tu­a­li­dade o di­ploma co­mu­nista e o seu de­bate no Par­la­mento.

E por isso sexta-feira pas­sada, 6, o de­pu­tado co­mu­nista Mi­guel Tiago rei­terou em con­fe­rência de im­prensa que «é no con­trolo pú­blico que po­demos en­con­trar o ca­minho para a re­so­lução dos pro­blemas fi­nan­ceiros do País». A en­trega do Novo Banco a pri­vados, ad­vertiu, «sig­ni­fi­caria que mais de 60 por cento do ca­pital ban­cário seria de­tido por grupos es­tran­geiros», o que teria con­sequên­cias po­lí­ticas, in­cluindo a nível de so­be­rania.

Em cima da mesa está uma oferta de 750 mi­lhões de euros pelo Novo Banco (com pos­si­bi­li­dade de uma in­jecção de mais 750 mi­lhões) feita pelo fundo norte-ame­ri­cano Lone Star, en­ti­dade que o Banco de Por­tugal disse ser a mais bem co­lo­cada para ad­quirir a ins­ti­tuição e a quem con­vidou para um «apro­fun­da­mento das ne­go­ci­a­ções».

Ora a questão de fundo, para o PCP, não está na es­colha desta ou de outra qual­quer pro­posta mas sim na re­jeição pura e sim­ples da pri­va­ti­zação. Isso mesmo foi su­bli­nhado por Mi­guel Tiago, que lem­brou que logo em 2014, após a re­so­lução do BES, o PCP ad­vogou que o Novo Banco fi­casse na es­fera pú­blica. E na al­tura cri­ticou também que a me­dida de re­so­lução apli­cada ao BES tenha iso­lado apenas uma parte dos pro­blemas do banco e dei­xado de fora a com­po­nente não fi­nan­ceira do Grupo Es­pí­rito Santo. E com isso, uma vez mais, o Es­tado tenha sido «cha­mado a su­portar as perdas de um grande grupo eco­nó­mico».

O risco de um novo BPN

Daí o PCP ter apre­sen­tado como al­ter­na­tiva à opção do go­verno PSD/​CDS a uti­li­zação dos bens e ca­pi­tais do Grupo Es­pí­rito Santo e dos mem­bros do Con­selho Su­pe­rior do GES para com­pensar as perdas do Banco. E ter pro­posto também que fosse criada uma uni­dade téc­nica para pro­curar os des­tinos das trans­fe­rên­cias fi­nan­ceiras que con­su­miram o ca­pital do BES, pro­postas que PSD/​CDS, mas também o PS, in­vi­a­bi­li­zaram.

Ora a ver­dade é que a vida veio com­provar como era cor­recta essa ava­li­ação e essa pro­posta do PCP, de­sig­na­da­mente com a ul­te­rior «de­pre­ci­ação do valor do Banco, a ins­ta­bi­li­dade e a cons­tante per­tur­bação pro­vo­cada pela in­cer­teza, a que se alia a cons­tante es­pe­cu­lação e fugas de in­for­mação cal­cu­ladas».

Assim, se­gundo Mi­guel Tiago, a uti­li­zação da re­so­lução ao BES «corre neste mo­mento o sério risco de se tra­duzir num pro­cesso de con­tornos iguais ao BPN em todas as di­men­sões». Por ou­tras pa­la­vras, «se de­pois de pagar a re­so­lução, a opção do Go­verno for vender o Novo Banco por um preço a des­conto, então essa re­so­lução em nada di­fere na cha­mada "na­ci­o­na­li­zação" do BPN», cri­ticou o de­pu­tado co­mu­nista, con­si­de­rando assim que «es­ta­ríamos pe­rante um pro­cesso de so­ci­a­li­zação da dí­vida dos pri­vados e de­vo­lução aos pri­vados do banco já livre de pro­blemas».

A me­lhor opção e a mais van­ta­josa

O PCP en­tende que a opção pela na­ci­o­na­li­zação do Novo Banco, «in­de­pen­den­te­mente dos custos» que possa vir a sig­ni­ficar em termos de ne­ces­si­dades de ca­pital do banco, «será sempre me­lhor e mais van­ta­josa do que a en­trega do banco a um qual­quer grupo pri­vado que exi­girá não menos es­forços fi­nan­ceiros pú­blicos, seja através de ga­ran­tias, seja através de ca­pital».

«Não uma na­ci­o­na­li­zação como se fez no caso BPN, em que se usou os re­cursos dos por­tu­gueses para pagar o pre­juízo e de­pois de­volver o banco já limpo, a preço de saldo, a um grupo pri­vado, mas uma na­ci­o­na­li­zação que tenha como ob­jec­tivo in­te­grar o banco no sis­tema pú­blico ban­cário, cons­ti­tuindo uma nova ins­ti­tuição ban­cária do Es­tado e ao ser­viço da eco­nomia», in­sistiu Mi­guel Tiago.

Tanto mais que é hoje cada vez mais evi­dente, por outro lado, que não é pos­sível fazer aquilo que Maria Luís Al­bu­querque dizia en­quanto mi­nistra das Fi­nanças: re­aver os 4,9 mil mi­lhões de euros que o Es­tado gastou com a re­so­lução do BES.

«O Es­tado já pagou este banco e o pior que pode fazer agora é vendê-lo mais ba­rato, só a parte boa, e ainda ter de pagar a parte má», ar­gu­mentou o par­la­mentar co­mu­nista, re­for­çando assim as ra­zões que levam o PCP a de­fender que o pro­cesso de pri­va­ti­zação seja can­ce­lado e que o Es­tado ad­quira o ca­pital so­cial do Novo Banco.

Afirmar a so­be­rania

O PCP não ig­nora as li­mi­ta­ções e cons­tran­gi­mentos que a in­te­gração na União Eu­ro­peia e a con­so­li­dação da União Ban­cária co­locam a um pro­jecto de con­trolo pú­blico de ins­ti­tui­ções ban­cá­rias. Essa cir­cuns­tância em nada al­tera porém a ava­li­ação que o leva a afirmar, como re­pe­ti­da­mente tem feito, que tais pro­cessos e me­ca­nismos de in­te­gração ca­pi­ta­lista co­lidem com o in­te­resse na­ci­onal e são «obs­tá­culos ao pro­gresso e de­sen­vol­vi­mento so­ciais».

Daí o PCP de­fender, como foi rei­te­rado por Mi­guel Tiago e está bem ex­presso no di­ploma da sua ban­cada, que o Go­verno «deve uti­lizar como base da sua ac­tu­ação a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa e ne­nhum outro texto ou di­rec­triz po­lí­tica».

 



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