Governo colombiano fecha os olhos

Ameaça paramilitar

A zonas de­so­cu­padas pelas FARC-EP estão a ser to­madas por grupos ar­mados que ame­açam o pro­cesso de paz em curso e a po­pu­lação, alertam or­ga­ni­za­ções so­ciais na Colômbia e a pró­pria ONU.

Grupos ar­mados movem-se para as zonas aban­do­nadas pelas FARC-EP

De­nún­cias de que o es­paço dei­xado vago pelas Forças Ar­madas Re­vo­lu­ci­o­ná­rias da Colômbia – Exér­cito do Povo (FARC-EP) está a ser ocu­pado por con­tin­gentes pa­ra­mi­li­tares mul­ti­pli­caram-se du­rante a se­mana pas­sada na Colômbia. A or­ga­ni­zação Vozes pela Paz, por exemplo, ga­rante que «ho­mens ar­mados com in­síg­nias de águias [sím­bolo de um dos bandos mer­ce­ná­rios mais vi­o­lento do país] in­ti­midam cam­po­neses nas zonas pró­ximas dos acan­to­na­mentos das FARC-EP».

A Marcha Pa­trió­tica, por seu lado, pre­cisa que muitos cam­po­neses estão a ser obri­gados a re­fu­giar-se nas zonas ur­banas. Um porta-voz da Marcha, An­drés Gil, ci­tado pela Te­lesur, qua­li­fica a si­tu­ação de grave e res­pon­sa­bi­liza o go­verno li­de­rado por Juan Ma­nuel Santos pelo não des­man­te­la­mento dos pa­ra­mi­li­tares. Razão pela qual, acres­centa, se teme a re­pe­tição do su­ce­dido nos anos 80/​90 do sé­culo pas­sado [com a União Pa­trió­tica], quando mi­lhares de di­ri­gentes e ac­ti­vistas de es­querda, de­mo­cratas e apoi­antes da paz com jus­tiça so­cial foram as­sas­si­nados, de­sa­pa­recem ou foram for­çados ao exílio.

A As­so­ci­ação Cam­po­nesa de Ca­ta­tumbo também alerta para o medo ins­ta­lado no mundo rural. Meios de co­mu­ni­cação so­cial co­lom­bi­anos re­latam que as po­pu­la­ções na re­gião do Norte de San­tander che­garam a tentar im­pedir a saída dos ba­ta­lhões das FARC-EP até à exi­gida che­gada de mi­li­tares en­vi­ados pelas Na­ções Unidas. Noutra re­gião, Cór­doba, a Igreja Pe­re­grina ad­vertiu igual­mente para o re­gresso «sú­bito» dos grupos ar­mados em re­sul­tado da des­mo­bi­li­zação da guer­rilha, en­quanto que nas re­giões de Valle do Cauca e de Chocó é o pró­prio Mi­nis­tério Pú­blico quem chama a atenção para a pro­li­fe­ração da vi­o­lência e para a ex­pulsão de cam­po­neses e in­dí­genas.

Do outro lado da fron­teira, as au­to­ri­dades ve­ne­zu­e­lanas re­gistam um mo­vi­mento mi­gra­tório abrupto de co­lom­bi­anos em di­recção ao Es­tado de Zúlia.

Go­verno res­pon­sável

De acordo com os mais re­centes dados ofi­ciais (cau­ci­o­nados pelo chefe da de­le­gação das FARC-EP nas ne­go­ci­a­ções de paz que de­cor­reram em Ha­vana), o pro­cesso de acan­to­na­mento da guer­rilha está a de­correr a bom ritmo. De tal forma que se es­tima que cerca de 94 por cento dos mi­li­tares das FARC-EP já se en­con­trem nos acam­pa­mentos, onde per­ma­ne­cerão em trân­sito para a vida civil.

Ora, con­si­de­rando que o acordo de paz foi ce­le­brado a 24 de No­vembro de 2016, pode afirmar-se que a fase de im­ple­men­tação a que cor­res­ponde a des­mo­bi­li­zação das FARC-EP está a ser cum­prida com ex­tremo zelo. O que não está a ser cum­prido é a ga­rantia go­ver­na­mental de des­man­te­la­mento e con­se­quente im­pe­di­mento da acção dos bandos mer­ce­ná­rios. Algo que, aliás, pre­o­cupa há se­manas a ONU.

Num re­la­tório apre­ciado em Ja­neiro pelo Con­selho de Se­gu­rança, o se­cre­tário-geral An­tónio Gu­terres já no­tava que «um exemplo con­creto dos pro­blemas que en­frenta o país na tran­sição para a paz é que al­guns grupos ar­mados, pa­ra­mi­li­tares e de outro tipo movem-se para as zonas aban­do­nadas pelas FARC-EP, onde quiçá ve­nham a tentar es­ta­be­lecer vi­o­len­ta­mente o seu con­trolo».

As FARC-EP, através do seu pri­meiro se­cre­tário, ma­ni­fes­taram pre­o­cu­pação por «o go­verno fe­char os olhos pe­rante um fe­nó­meno cujos efeitos já se estão a fazer sentir», pros­segue o do­cu­mento, que apela à adopção de me­didas.

A con­firmar que o exe­cu­tivo co­lom­biano tem de as­se­gurar con­di­ções de se­gu­rança que per­mitam a im­ple­men­tação e de­sen­vol­vi­mento do pro­cesso de paz, está o facto de desde o início do ano de 2017 terem sido já as­sas­si­nados 23 lí­deres so­ciais e po­lí­ticos – um a cada dois dias, por­tanto.

A úl­tima foi Her­minia Olarte, de 51 anos, de­fen­sora dos di­reitos hu­manos na re­gião de An­ti­o­quia, cujo ca­dáver foi en­con­trado a 7 de Fe­ve­reiro.

 



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