Em facto

Henrique Custódio

Ainda não saiu do adro o es­cân­dalo da evasão de dez mil mi­lhões de euros para «pa­raísos fis­cais» sem fis­ca­li­zação do Fisco, em pleno con­su­lado de Passos/​Portas e na mesma al­tura em que pes­soas eram de­sa­pos­sadas da sua ha­bi­tação por dí­vidas de 100 ou 500 euros, mas já se per­cebeu que a pro­cissão vai ter grandes di­men­sões.

O ex-se­cre­tário de Es­tado Paulo Núncio apre­sentou su­ces­si­va­mente três ver­sões sobre o caso dos offshores, ficou ob­vi­a­mente de­sa­cre­di­tado e agora todos os olhos se viram para os res­pon­sá­veis das Fi­nanças do go­verno PaF – Maria Luís Al­bu­querque e Víctor Gaspar – e para Passos Co­elho, chefe do exe­cu­tivo na al­tura.

A di­reita em­pe­nhada em des­viar as aten­ções do caso centra-se em sal­va­guardar os dois mi­nis­tros das Fi­nanças e o pri­meiro-mi­nistro de então, pro­cu­rando es­tancar na con­fissão de Paulo Núncio (que, ob­vi­a­mente, se dispôs a as­sumir a «res­pon­sa­bi­li­dade po­lí­tica» para iludir o seu papel de «testa de ferro») os es­tragos deste en­xurro.

Mas o caso agravou bre­chas na di­reita, como se per­cebe na en­tre­vista de Rui Rio ao DN, pessoa do PSD que gosta de dizer coisas, o que con­corre para pre­ci­pitar o ine­vi­tável: a au­dição par­la­mentar dos res­pon­sá­veis mai­ores do go­verno Passos/​Portas, con­fron­tando-os com os factos que era im­pos­sível des­co­nhe­cerem e que tu­te­lavam por in­teiro.

O es­cân­dalo alarga-se in­ces­san­te­mente, o que tem des­nor­teado Passos Co­elho, que ora atira as res­pon­sa­bi­li­dades pelo caso dos dez mil mi­lhões para a Au­to­ri­dade Tri­bu­tária, ora (e com a mesma des­fa­çatez) «exige» «apu­ra­mento de res­pon­sa­bi­li­dades» sem, con­tudo (até agora), se dis­po­ni­bi­lizar pes­so­al­mente para prestar de­cla­ra­ções na Co­missão de Inqué­rito. Con­tinua na mesma fuga para a frente, na­quela voz re­donda que apenas rola numa di­recção, a da ob­ses­siva «queda do Go­verno» que, de­li­ran­te­mente, o «re­con­duza» ao poder.

En­trou no ane­do­tário na­ci­onal a ideia pe­re­grina, que pa­rece a única a mover Passos Co­elho, de que tudo o que correr mal no País corre bem para o seu PSD e vice-versa, alo­cução não for­mu­lada pelo ex-chan­celer, mas que tem a chan­cela da re­a­li­dade que o pró­prio im­pinge, ao anun­ciar di­a­ri­a­mente ca­tás­trofes e/​ou de­sas­tres no País, ao ar­repio dos factos e das es­ta­tís­ticas, agora po­si­tivas como nunca foram na sua go­ver­nação e que ele teima, numa per­ti­nácia bo­vina, em negar ad ae­ternum.

Mas dei­xemos Passos Co­elho per­dido no seu la­bi­rinto e re­pa­remos na na­tu­ra­li­dade com que se in­voca a «le­ga­li­dade» dos offshores, em­bora já não se possam es­quivar a re­co­nhecer que são ge­ral­mente usados «para es­conder for­tunas ou fugir ao Fisco».

Ou abrir ca­minho a todos os con­tra­bandos. Os offshores são, em facto, um me­ca­nismo para dar co­ber­tura a todos os des­me­su­rados roubos proi­bidos pelas pró­prias re­gras do ca­pi­ta­lismo.

 



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