PALESTINA A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) apela ao desenvolvimento de acções de solidariedade para com os cerca de 1600 prisioneiros palestinianos em greve de fome desde 17 de Abril.
Em carta endereçada a partidos e forças democráticas, progressistas e revolucionárias e aos povos de todo o mundo, a FPLP alerta que cumpridas que estão [mais de] três semanas de greve de fome por parte dos prisioneiros palestinianos em Israel, urge concretizar «todas as formas de pressão e todos os meios políticos legais para impedir que Israel assassine os grevistas».
No passado 17 de Abril um milhar e meio de palestinianos detidos em cárceres israelitas iniciaram o jejum de protesto contra a negação, por parte do estado sionista, de direitos básicos reconhecidos no Direito Internacional e nas convenções que o materializam. Desde então, dezenas de outros aderiram à acção convocada pelo dirigente da Fatah Marwan Barghouti.
Os presos reclamam o acesso a assistência médica e medicamentosa e outras matérias relacionadas com as condições no cárcere; a não sujeição dos presos a tortura e outras formas de tratamento violento, cruel, degradante e desumano; o conhecimento das acusações e a sua formalização, bem como o acesso ao respectivo processo, a possibilidade de reunir com a defesa e de receber familiares, e a libertação do confinamento quando não existe queixa instruída nas instâncias judiciais.
As chamadas detenções administrativas (sem acusação formalizada, quanto mais condenação transitada em julgado) e o seu prolongamento (num regime semelhante às aplicadas pela ditadura fascista em Portugal) atingem mais de 600 dos 6500 palestinianos presos por Israel, calcula a FPLP. Os palestinianos encarcerados há mais de 20 anos contam-se às dezenas, entre os quais o secretário-geral da FPLP, Ahmed Saadat, recorda ainda a organização.
Luta extrema
Desde o arranque da greve de fome, milhares de palestinianos têm saído à rua na Palestina em solidariedade para com os presos e as suas reivindicações. No sábado, 6, a direcção da contestação prisional apelou ao povo para que recrudesça a luta e resista à repressão das forças ocupantes israelitas. Advertiu, também, para a intenção de Israel de transferir os detidos mais debilitados para hospitais, a fim de os sujeitar a alimentação forçada. A consumar-se, a medida viola as normas internacionais sobre a matéria e a ética médica, sublinham.
Na quinta-feira, 4 de Maio, Mazan al Maghrebi, de 30 anos, tornou-se na primeira vítima da política sionista no actual contexto de luta nas prisões. Maghrebi encontrava-se em casa devido a problemas de saúde desencadeados e agravados durante o período em que esteve encarcerado. Em solidariedade para com os seus ex-companheiros de confinamento cumpria a greve de fome iniciada a 17 de Abril.
Entretanto, o patriarca de Antióquia e de todo o Oriente, Alexandria e Jerusalém, Gregório II, de 83 anos, aproveitando o facto de ter sido libertado pelo papa Francisco das altas funções eclesiásticas que vinha cumprindo, anunciou que começou um jejum em solidariedade para com a luta dos presos palestinianos.
A Cruz Vermelha denunciou a sobre-penalização dos presos e das suas famílias consubstanciada na suspensão das visitas desde o início da greve de fome, e exigiu a Telavive que recue nesta decisão.
Rearrumação
A greve de fome em curso nos cárceres israelitas ocorre quando o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmud Abbas, foi recebido na Casa Branca por Donald Trump. Este último colocou em causa a solução da criação de dois estados (Israel e Palestina) nas fronteiras de 1967, com capital partilhada em Jerusalém, decorrente dos acordos de paz de Oslo, e Abbas, por seu lado, manifestou-se convicto de que «todos os problemas» com Israel se podem resolver desde que seja contemplada a arquitectura territorial acordada há 23 anos por Yasser Arafat e Ytzhak Rabin na capital norueguesa.
O Hamas desvinculou-se das declarações de Abbas considerando que este não fala em nome de todos os palestinianos, designadamente quando, de acordo com a interpretação do Hamas, relega para segundo plano o direito dos palestinianos aos seus territórios históricos e ao regresso do exílio forçado.
A semana passada, antecedendo a eleição de Ismail Hanyeh (actual chefe do gabinete governativo na Faixa de Gaza, onde, de resto, afirma que irá permanecer) para a liderança do movimento, em substituição de Khaled Meshaal (a viver no exílio), o Hamas declarou, pela primeira vez, que aceita a criação de dois estados nas fronteiras de 1967 como passo transitório para a resolução do conflito israelo-árabe.