Os patos

Manuel Gouveia

Um bando de vi­ga­ristas in­ter­na­ci­o­nais as­sinou com um bando de vi­ga­ristas na­ci­o­nais (e al­guns in­com­pe­tentes à mis­tura) um con­junto de con­tratos swaps, ou seja, de apostas es­pe­cu­la­tivas sobre o valor fu­turo da taxa de juro. Jo­garam com o nosso di­nheiro, apro­vei­tando-se do facto de es­tarem a ad­mi­nis­trar em­presas pú­blicas ou em fun­ções go­ver­na­tivas de tu­tela sobre estas. Per­deram. Per­demos! Per­demos mi­lhares de mi­lhões de euros.

Quando, de­pois de anos de alertas das ORT e do Par­tido, fi­nal­mente re­bentou o es­cân­dalo, na vi­gência do an­te­rior go­verno, este optou por nos fazer pagar as perdas acu­mu­ladas que cres­ciam ver­ti­gi­no­sa­mente. E uma parte da­quilo que nos rou­baram foi para pagar estas swaps.

O an­te­rior go­verno não pagou apenas nove swaps, com o San­tader, que co­locou em Tri­bunal. Mas os vi­ga­ristas ti­nham in­cluído no es­quema que era um seu Tri­bunal que apli­caria a sua Jus­tiça. E o caso foi para jul­ga­mento na City. Onde per­demos a causa e mais cento e muitos mi­lhões que foram para pagar as custas e os ga­bi­netes de ad­vo­gados es­pe­ci­a­listas nestas vi­ga­rices.

Com a ma­nobra que nós pa­gámos, o an­te­rior go­verno con­se­guiu passar para o ac­tual as nove swaps do San­tader. E este vai e ne­go­ceia com os vi­ga­ristas. E con­se­guiu um des­conto: «Vamos pagar só 66% e eles ainda nos em­prestam di­nheiro para lhes pa­garmos! E man­temos a cre­di­bi­li­dade do Es­tado por­tu­guês».

Ma­ra­vi­lhoso! Por mil mi­lhões de euros vamos com­prar nada para manter a cre­di­bi­li­dade pe­rante quem tal nos vendeu. An­ti­ga­mente, os vi­ga­ristas ven­diam a Torre Eiffel e ter­renos na Lua, eram per­se­guidos e os «patos» que caiam no conto do vi­gário eram go­zados mas pro­te­gidos pela Jus­tiça.

Agora que o conto do vi­gário passou a coisa res­pei­tável, é pre­ciso alertar que os ver­da­deiros «patos» não são os que caem ou fingem cair nas vi­ga­rices, nem os que levam o nosso di­nheiro aos vi­ga­ristas (com ou sem des­contos). Os ver­da­deiros «patos» são aqueles que tudo pagam e tudo per­mitem.




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