Vale a pena lutar!

Ângelo Alves

Vi­tória dos 1500 presos po­lí­ticos pa­les­ti­ni­anos é si­len­ciada

Num pe­ríodo em que os de­sen­vol­vi­mentos da si­tu­ação in­ter­na­ci­onal apontam para enormes pe­rigos, de­mons­tram hi­po­cri­sias sem fim, e le­vantam medos que o im­pe­ri­a­lismo ali­menta e tenta uti­lizar em pro­veito pró­prio – ten­tando conter ou fazer re­gredir a luta dos povos –, é im­por­tante su­bli­nhar e des­tacar al­guns as­pectos que de­mons­tram por um lado os imensos de­sa­fios com que a luta anti-im­pe­ri­a­lista está con­fron­tada e por outro a pos­si­bi­li­dade de nas mais di­fí­ceis con­di­ções se poder al­cançar vi­tó­rias.

O pri­meiro apon­ta­mento, re­la­tivo aos imensos de­sa­fios da luta dos povos, re­porta-se ao grau de ma­ni­pu­lação po­lí­tica e me­diá­tica. Na Ve­ne­zuela o le­gí­timo go­verno ve­ne­zu­e­lano e as forças pro­gres­sistas com­batem as ondas de vi­o­lência das forças re­ac­ci­o­ná­rias a soldo do im­pe­ri­a­lismo que estão na origem da si­tu­ação na­quele país. Para os media de­tidos pelos grandes grupos eco­nó­micos as ac­ções de boi­cote, crime e vi­o­lência dos grupos de ex­trema di­reita e de mer­ce­ná­rios são ac­ções «pela de­mo­cracia». A le­gí­tima acção do go­verno ve­ne­zu­e­lano para manter a ordem e de­fender a de­mo­cracia é um acto de «vi­o­lência». Já no Brasil a acção po­pular de re­volta contra a na­tu­reza anti-so­cial, cor­rupta e cri­mi­nosa dos gol­pistas que ocupam o poder é con­si­de­rada uma acção de ar­ru­a­ceiros. A re­pressão do cor­rupto go­verno bra­si­leiro é apre­sen­tada como uma ten­ta­tiva de «ma­nu­tenção da ordem».

Vi­a­jando para ou­tros pa­ra­lelos, a Re­pú­blica Po­pular De­mo­crá­tica da Co­reia é es­ma­gada por uma cam­panha que a apre­senta no pa­tamar su­pe­rior das ame­aças bé­licas. No en­tanto os testes de mís­seis in­ter­con­ti­nen­tais norte-ame­ri­canos, as in­fla­madas dis­cus­sões na NATO sobre como e quem au­menta os or­ça­mentos das guerras e armas do im­pe­ri­a­lismo, as pro­vo­ca­ções dos EUA no Mar da China, ou a maior ope­ração de venda de armas na His­tória dos EUA (no valor de 110 mil mi­lhões de dó­lares de armas dos EUA) pre­ci­sa­mente à Arábia Sau­dita, um dos prin­ci­pais «spon­sors» do DAESH, são todos eles factos apre­sen­tados como «na­tu­rais», actos de «de­fesa do mundo livre».

Chora-se as ví­timas do aten­tado de Man­chester, mas faz-se «di­ver­tidas» peças de te­le­visão sobre a «dança das es­padas» de Trump numa das sedes do ter­ro­rismo in­ter­na­ci­onal – o pa­lácio da fa­mília real sau­dita. Con­tinua o si­lêncio de chumbo sobre os mi­lhares de re­fu­gi­ados que a União Eu­ro­peia con­dena todos os dias à morte, mas as guerras im­pe­ri­a­listas que estão na origem da maior vaga de re­fu­gi­ados do pós-guerra con­ti­nuam a ser fi­nan­ci­adas e le­vadas a cabo pelas po­tên­cias da NATO, eu­ro­peias in­cluídas. Merkel usa o su­posto «de­sin­ves­ti­mento» dos EUA da NATO para tentar li­derar, com Ma­cron, o salto mi­li­ta­rista e ar­ma­men­tista da União Eu­ro­peia. Mas o «de­sin­ves­ti­mento» de Trump na NATO salda-se num au­mento ex­po­nen­cial do seu pró­prio or­ça­mento mi­litar e no or­ça­mento da frente Leste da NATO.

Por todo o lado os «di­reitos hu­manos» con­ti­nuam a ser ma­ni­pu­lados para jus­ti­ficar as guerras e in­ge­rên­cias do im­pe­ri­a­lismo. No en­tanto, esses di­reitos hu­manos já não são im­por­tantes quando fa­lamos da luta do povo pa­les­ti­niano. É por isso que a vi­tória dos 1500 presos po­lí­ticos pa­les­ti­ni­anos, al­can­çada após 40 dias de greve da fome e si­len­ciada mas­si­va­mente pela «im­prensa livre», é tão im­por­tante! De­monstra que a luta dos povos, mesmo su­jeita a um si­len­ci­a­mento ab­so­luto e en­fren­tando a mais vi­o­lenta e ab­jecta re­pressão (como foi este o caso), pode al­cançar vi­tó­rias! E isso lembra-nos sempre que vale a pena lutar!




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