CPPC – Décadas de Luta Pela Paz

Domingos Lobo

Acon­te­ci­mentos re­le­vantes da his­tória dos par­ti­dá­rios da Paz

«A Paz é a única forma de nos sen­tirmos re­al­mente hu­manos» Al­bert Eins­tein

 

Disse-nos Hé­ro­doto que em época de Paz são os fi­lhos que en­terram os pais, e é em tempo de Guerra que os pais en­terram os fi­lhos. É esta sub­versão do fluir na­tural da vida, dos va­lores que nela se fundem, que a faz Guerra, trans­por­tando em seu bojo os des­pojos do terror, com a sua marcha de mortos, es­tro­pi­ados, des­truição do hu­mano que nos subjaz. O homem nasceu para ser feliz, para a festa, para a des­co­berta do novo, para o avanço so­cial e ci­en­tí­fico, para vincar a gé­nese de uma ideia nova que tudo muda e trans­forma, para a vi­agem, para a pro­cura, para uma ir­man­dade de sa­be­dores, para fe­cundar no chão largo dos sé­culos uma razão di­a­léc­tica que torne lí­cita a vida e dê ao Homem a me­dida do seu sonho.

Há quatro dé­cadas que o Con­selho Por­tu­guês para a Paz e Co­o­pe­ração (CPPC), luta contra a ideia cen­tral dos se­nhores da guerra de um ho­lo­causto gi­zado à es­cala pla­ne­tária para impor uma ideia he­ge­mó­nica de poder, a não al­ter­na­tiva that­che­riana, a cu­pidez como modo do ca­pi­ta­lismo impor as suas re­gras, ser­vindo-se do braço ar­mado e im­pe­rial da NATO e da sua per­ma­nente ameaça des­trui­dora. Quando os ho­mens justos de­nun­ciam o pe­rigo de uma cons­tante cor­rida ao ar­ma­mento, os se­nhores da guerra con­tra­põem que não há al­ter­na­tiva para o nu­clear (Va­léry Gis­card d’ Es­taing); quando de­fen­demos um Mundo de Paz e Pro­gresso, os se­nhores da guerra im­põem um novo e pe­ri­goso acró­nimo: Não há al­ter­na­tiva para a des­re­gu­la­men­tação bol­sista (Jean-Charles Na­ouri); quando de­fen­demos um mundo de bem-estar para todos, sem ex­plo­rados nem ex­plo­ra­dores, os se­nhores da guerra afirmam que não há al­ter­na­tiva para a des­va­lo­ri­zação com­pe­ti­tiva, isto é, para a des­va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios (Pi­erre Bé­ré­govoy) ou não há al­ter­na­tiva para as pri­va­ti­za­ções (Jac­ques Chirac); quando à guerra con­tra­pomos o diá­logo e a con­córdia entre os povos, os se­nhores da guerra, os im­pé­rios do lucro, da in­dús­tria ar­ma­men­tista, da banca e dos ne­gó­cios, de­cretam não haver al­ter­na­tiva à guerra do Golfo (Ge­orge Busch); quando de­fen­demos a baixa de im­postos sobre o tra­balho, os ges­tores do ca­pital con­tra­põem não haver al­ter­na­tiva à baixa de im­postos sobre as em­presas (Lau­rent Fa­bius).

Mas nós sa­bemos que há al­ter­na­tivas, ca­mi­nhos ou­tros, para que o Mundo, este nosso es­paço comum, para o qual ainda não en­con­trámos al­ter­na­tiva, possa ser me­lhor, mais se­guro e mais justo, co­lo­cando-se no mundo de hoje a acres­cida exi­gência da de­fesa do de­sar­ma­mento geral, si­mul­tâneo e con­tro­lado, da proi­bição de todas as armas de des­truição mas­siva, da ces­sação de cor­rida aos ar­ma­mentos, da abo­lição de bases mi­li­tares em ter­ri­tório es­tran­geiro e da dis­so­lução dos blocos po­lí­tico-mi­li­tares, é da maior im­por­tância é da maior im­por­tância dar a co­nhecer as­pectos sig­ni­fi­ca­tivos da his­tória e ex­pe­ri­ência de luta do mo­vi­mento da paz em Por­tugal, dos an­te­ce­dentes e dos con­tri­butos que o CPPC deu e con­tinua a dar através da sua in­ter­venção em prol da con­cre­ti­zação destes pre­mentes ob­jec­tivos.1

É exac­ta­mente isto que o livro Dé­cadas de Luta pela Paz (Ele­mentos para a His­tória do Mo­vi­mento da Paz Por­tu­guês) edi­tado pelo CPPC, exem­plar­mente faz ao longo das suas 159 pá­ginas, ex­pla­nando, por quatro im­por­tantes e es­cla­re­ce­dores ca­pí­tulos, pro­fu­sa­mente ilus­trados com os mais re­le­vantes acon­te­ci­mentos de acção e luta em­pre­en­didos ao longo de mais de 40 anos, os per­cursos, as causas e os prin­cí­pios do mo­vi­mento, a so­li­da­ri­e­dade e a co­o­pe­ração, a paz e a so­be­rania, a se­gu­rança e a vital exi­gência do de­sar­ma­mento.

Por estas pá­ginas as­si­nala-se acon­te­ci­mentos mar­cantes como, em 1952, em plena guerra fria, o «cé­lebre ma­ni­festo Pacto de Paz e não Pacto do Atlân­tico» que o Mo­vi­mento Na­ci­onal De­mo­crá­tico, em vés­pera de uma reu­nião, em Lisboa dos mi­nis­tros da NATO, lançou junto da opi­nião pú­blica, de­nun­ci­ando, para além dos as­pectos da sub­missão da po­lí­tica ex­terna da di­ta­dura fas­cista ao poder norte-ame­ri­cano, que Num pe­ríodo de poucos meses perdem a vida, nas ca­deias do Es­tado Novo, os presos po­lí­ticos Mi­litão Ri­beiro, José Mo­reira, Ven­ceslau Ramos e Carlos Pato.

Inú­meros acon­te­ci­mentos re­le­vantes da his­tória dos par­ti­dá­rios da Paz por­tu­gueses, in­ter­li­gados com a his­tória mais re­cente da hu­ma­ni­dade, são com­pi­lados neste livro, com re­alce, em di­versas cir­cuns­tân­cias (do Vi­et­name, às guerras nas ex-co­ló­nias por­tu­guesas, às in­va­sões de Gra­nada, do Iraque e da Líbia, à questão pa­les­ti­niana, aos apoios dos países da NATO ao ter­ro­rismo na Síria) para os con­tri­butos de Alves Redol, Lopes-Graça, Maria da Pi­e­dade Mor­ga­dinho, Carlos Aboim In­glês, João Saias, Júlio Pomar, Lima de Freitas, José Dias Co­elho, Laura Lopes, Silas Cer­queira, Maria Lamas, Lopes Car­doso, Costa Gomes, Rui Na­mo­rado Rosa, Ilda Fi­guei­redo e tantos mil.

Ao acró­nimo não há al­ter­na­tiva dos se­nhores da guerra, este livro afirma, com factos, co­ragem e fron­ta­li­dade, que É pos­sível um mundo justo, de­mo­crá­tico, so­li­dário e de paz.

 

Dé­cadas de Luta pela Paz, edição CPPC/​Abril 2017 – Re­colha, se­lecção e re­dacção: Gus­tavo Car­neiro, Joana Dias Pe­reira e Ma­nuela Pires

 

 



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