Poder e não querer

Manuel Gouveia

Qual­quer po­lí­tica que se de­fenda, ne­ces­sita, para ser con­cre­ti­zada, de uma con­dição de par­tida: de que ob­te­nhamos o poder de a con­cre­tizar. Esse poder é um con­junto de ins­tru­mentos, meios e re­la­ções de força de­ter­mi­nado. Mas o poder não chega. É pre­ciso querer, ter a von­tade de, tomar a opção por. Olhemos para onde olhemos a si­tu­ação po­lí­tica na­ci­onal, o pro­blema é cada vez mais o mesmo: o Go­verno do PS quando pode não quer.

Como exemplo, bem elu­ci­da­tivo para a po­pu­lação de Lisboa, to­memos o caso do Me­tro­po­li­tano. Teria sido sim­ples operar uma re­vo­lução na qua­li­dade e fi­a­bi­li­dade da oferta. Bas­tava que há 18 meses o Go­verno do PS ti­vesse ou­vido os tra­ba­lha­dores e o PCP. Então, com 10% da verba mensal que o PSD/​CDS ti­nham aca­bado de ofe­recer aos pri­vados para gerir o Me­tro­po­li­tano, poder-se-ia: ter con­tra­tado os tra­ba­lha­dores em falta na cir­cu­lação e ma­nu­tenção; ter re­posto ime­di­a­ta­mente os stocks de ma­te­rial so­bres­sa­lente exaustos após a gestão PSD/​CDS, ter re­ver­tido o en­cer­ra­mento da ofi­cina no PMO2, o que teria le­vado a que hoje já se ti­vesse in­ver­tido o ciclo de de­gra­dação que mantém mais de 20 com­boios pa­rados; ter ime­di­a­ta­mente re­to­mado o alar­ga­mento de Ar­roios que le­varia a que hoje já cir­cu­lassem 6 car­ru­a­gens na Linha Verde; ter re­ver­tido os bru­tais au­mentos de preços.

Sem margem para outra coisa, o Go­verno foi re­pondo os di­reitos de tra­ba­lha­dores e re­for­mados. A conta-gotas, mas re­pondo. Já no que res­peita à si­tu­ação ope­ra­ci­onal o Go­verno li­mitou-se a em­purrar os pro­blemas com a bar­riga. Terá con­tri­buído nuns 0,001% para re­duzir o sa­cros­santo dé­fice desse ano, que vão custar o triplo a médio prazo pela ex­po­nen­cial de­gra­dação do ma­te­rial e da in­fra­es­tru­tura. E apostou em muita pro­pa­ganda e ainda mais pro­messas, mas a re­a­li­dade desfaz todas as ilu­sões que a pro­pa­ganda gera.

Era pre­ciso ter tido a co­ragem de romper com a po­lí­tica de di­reita. Mas o PS não quis, e não quer há 41 anos!

 



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